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Médica agredida por reclamar de 'festa do corona' é internada com covid-19

Ticyana Azambuja foi diagnosticada pela segunda vez com o novo coronavírus; em maio, ela foi agredida ao reclamar de uma festa ao lado de casa - Acervo pessoal
Ticyana Azambuja foi diagnosticada pela segunda vez com o novo coronavírus; em maio, ela foi agredida ao reclamar de uma festa ao lado de casa Imagem: Acervo pessoal

Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

11/11/2020 19h22

A médica Ticyana Azambuja foi diagnosticada pela segunda vez com covid-19 e está com 50% dos pulmões comprometidos por causa de uma pneumonia bacteriana. A médica conversou hoje com o UOL e disse que "ser médica no Rio é uma aventura por dia".

Ela esta internada desde ontem no Hospital Copa D'Or, em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro. À reportagem, Ticyana disse que está fazendo tratamento a base de antibióticos e corticoide. Segundo ela, está reagindo bem ao tratamento.

"Eu comecei na semana passada com uma febre alta e dor de barriga. Nunca pensaria que seria covid de novo. Eu tive o primeiro diagnóstico do coronavírus no final de abril e depois ficou tudo bem. A febre baixava com dipirona, mas eu tive que começar a diminuir muito o espaço entre as doses para conseguir ficar sem febre. Na quinta-feira, fui no hospital e acharam bom fazer um PCR", relatou a médica.

"No domingo comecei a ter uma tosse bem forte enquanto montava a árvore de Natal com meu filho. Na segunda já acordei com falta de ar e ele foi para a casa do meu ex-marido. Na madrugada de segunda para ontem eu comecei a passar muito mal e dessaturar. Confesso que vim com um pouco de medo para o hospital, mas reagi muito bem ao tratamento. Eu cheguei sem conseguir falar uma frase completa. Agora, eu estou cansada, mas estou respirando", acrescentou.

Primeira infecção

Ticyana explicou que, em abril, trabalhava no Hospital de Campanha do Riocentro, na Zona Oeste, e no CTI Covid do Hospital Pedro Ernesto, na Zona Norte, quando começou a sentir dores no corpo, depois teve febre e a perda do olfato.

Ela contou que chegou a fazer um exame de sorologia e teve o IGM reagente para o coronavírus. Apesar disso, o PCR deu negativo. Ela ficou em isolamento em casa por cerca de duas semanas.

Processo contra agressão

Ticyana desabafou ainda a respeito dos constantes obstáculos que está enfrentando nesse ano. Foi ela a médica agredida no dia 30 de maio deste ano por frequentadores de uma festa clandestina que aconteceu na rua onde ela mora, no Grajaú, na Zona Norte do Rio.

A médica tinha acabado de chegar em casa, após um plantão de 24 horas trabalhando na linha de frente no combate a covid-19, inclusive no processo de intubação de pacientes mais graves. Ela teve fratura no fêmur e rompimento dos ligamentos de um dos joelhos. A festa teve até copo personalizado e foi chamada de "festa do corona".

"Eu tinha trabalho essa semana, um monte de coisa para resolver. Quando achei que agora dava para acalmar, veio isso. Ainda não falaram de alta, mas estou com esperança de passar o final de semana na minha casa. Até porque acredito que até dia 23 eu esteja fora daqui", desabafou a médica.

Ticyana citou o dia 23 porque será o dia em que vai acontecer uma audiência no processo que corre contra seis pessoas envolvidas na agressão contra ela. A advogada da médica, Maíra Fernandes, conversou com o UOL e disse que, além das agressões, eles também foram denunciados por estarem em uma festa durante período de pandemia.

"Todos eles respondem pelas agressões corporais, mas também por estarem em uma festa em um período de pandemia. Isso é uma infração, uma norma sanitária. Só que esse é um crime que permite o benefício da transação penal e que foi oferecido pelo Ministério Público. Nessa audiência eles podem aceitar ou não essa proposta. Caso eles aceitem, eles vão pagar dois salários mínimos, entre outras exigências", disse a defensora da médica.

"Essa oferta do MP é prevista em lei. A Ticyana foi intimada e caso ela não esteja bem eu vou informar ao juízo que está internada, mas ela espera e confia que esteja bem até la."