PM flagra nova festa clandestina em rua onde médica foi agredida no Rio
A Polícia Militar do Rio de Janeiro flagrou na noite de hoje uma nova festa clandestina realizada na mesma rua onde a médica Ticyana Azambuja foi brutalmente espancada no dia 30 de maio, no bairro do Grajaú, na zona norte da cidade.
Por causa da pandemia do novo coronavírus, que já matou mais 87 mil brasileiros desde março, festas particulares com aglomeração de pessoas estão proibidas pela Prefeitura do Rio.
De acordo com relatos de testemunhas, uma festa com música ao vivo e projetores de luz começou por volta das 16h em uma residência da rua Marechal Jofre. Vizinhos fizeram várias ligações para a Polícia Militar, que chegou no local por volta das 20h.
A festa foi interrompida e os presentes deixaram o local. Ainda não há confirmação se os policiais militares registraram a ocorrência em delegacia para que os responsáveis pela festa clandestina sejam investigados com base no artigo 268 do Código Penal por infração de medida sanitária preventiva em meio à pandemia.
Segundo relatos de vizinhos, a casa tem um histórico de festas frequentes e é comum que um sino instalado no local seja tocado, constantemente, em horários aleatórios.
Médica agredida em maio
A celebração ilegal deste domingo foi realizada a poucos de metros da casa que abrigou outra festa clandestina, no mês de maio. Na ocasião uma médica foi espancada.
Quatro pessoas foram indiciadas pelas agressões. O PM Luiz Eduardo Salgueiro foi enquadrado por prevaricação —ele é agente da lei e não impediu as agressões.
Indiciados por lesão corporal grave, Rafael Martins Presta e Rafael Henrique Del Ferreira poderão pegar até cinco anos de prisão.
Presta aparece em um vídeo da câmera de segurança do Hospital Italiano aplicando um mata-leão na médica, que desmaia. Ferreira aparece nas imagens usando um martelo para agredir a vítima. Ele também deu um soco por trás em uma testemunha, que estava acionando a polícia pelo celular.
O episódio foi registrado por câmeras de vigilância e por vídeos feitos por moradores. Depois de depredar um veículo estacionado irregularmente na frente da festa, que pertencia ao policial militar de folga, Ticyana foi brutalmente agredida por quatro pessoas, segundo a investigação. Ela sofreu fratura em dois ossos do joelho esquerdo, passou por cirurgia e ainda está afastada do trabalho para se recuperar das lesões.
A Polícia Civil identificou 14 pessoas na festa.
Médica não vai se mudar e ainda lida com as dores
Após a agressão, a médica Ticyana Azambuja chegou a dizer que iria se mudar do apartamento no Grajaú porque tinha medo de sofrer algum tipo de represália dos agressores —o prédio onde ela mora fica em frente à casa de Rafael Presta. Mas ela mudou de ideia e decidiu permanecer no bairro, incentivada pelos próprios moradores.
"Outro dia, uma vizinha me escreveu dizendo que ora toda noite por mim, porque ela voltou a dormir [após o fim das festas clandestinas em meio à pandemia]. A comunidade me abraçou", disse ao UOL.
Eu estou redimensionando os meus riscos. Tomei uma decisão corajosa de ficar. Estava muito difícil lidar com a ideia de sair daqui. Seria um segundo ato de violência
Ticyana Azambuja, médica agredida
Ticyana foi submetida a uma cirurgia no joelho fraturado e só retirou o gesso na última quinta-feira (25). Ela agora convive com as dores e com as limitações para dobrar o joelho. As sessões de fisioterapia só devem começar no fim do mês. Ainda não há previsão para que ela volte a trabalhar.
Relembre o caso
Ticyana usou um martelo para quebrar o retrovisor e o vidro traseiro de uma Mini Cooper Paceman de 2014 avaliada em R$ 100 mil, que pertencia ao PM de folga Luiz Eduardo e estava estacionada irregularmente na Rua Marechal Jofre, no Grajaú, zona norte do Rio, em frente à festa clandestina, que ocorria ao lado de uma unidade do Corpo de Bombeiros.
Em seguida, a médica saiu correndo e foi perseguida por Rafael Presta e Rafael Ferreira, que a alcançaram quando ela pedia ajuda a um motoboy em frente ao Hospital Italiano. Ferreira retirou o martelo dela. Presta aplicou um mata-leão na médica, que desmaiou e foi arrastada por alguns metros até o meio da rua.
Luiz Eduardo, então, apareceu e arrastou Ticyana pelo braço. Mas logo saiu de cena. Presta, então, a carregou às costas. Nesse instante, Ester a puxou pelos cabelos. Luiz Cláudio a agrediu com um tapa no rosto. Ferreira usou o martelo para agredi-la. Em seguida, Presta a atirou no chão, em frente ao carro.
Na queda, Ticyana sofreu duas fraturas no joelho esquerdo. O defensor público Marco Antônio Guimarães Cardoso, que mora na mesma rua, pegou o celular para acionar a polícia. Mas acabou sendo agredido por um soco nas costas dado por Ferreira.
Segundo testemunhas, os agressores se identificavam como policiais, inibindo qualquer tentativa de reação. As agressões foram flagradas por vídeos e fotos feitos por moradores. O UOL também teve acesso às câmeras de segurança do Hospital Italiano, que registraram o começo das agressões. Todo o material foi encaminhado para a Polícia Civil.
O que dizem os envolvidos
Procurada, a defesa de Rafael Presta e Rafael Ferreira disse que irá aguardar o relatório final da investigação. O representante de Ester Mendes de Araújo disse que ela não irá se pronunciar. A reportagem não localizou Luiz Cláudio Balbino dos Santos e Marcus Vinicius Alamin Missena.
O advogado Roger Doyle Couto Ferreira, que representa Luiz Eduardo dos Santos Salgueiro, negou que o PM tenha presenciado as agressões ou se omitido de agir —o UOL teve acesso a fotos e vídeos que mostram que o policial de folga presenciou, mas não impediu os ataques. Em vídeo publicado pelo UOL, o policial aparece arrastando a médica pelo braço após ela desmaiar ao ser contida por um golpe mata-leão.
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