Passamos fome e golpe ainda pode tirar nosso trabalho, diz motoboy de app
Entregadores de aplicativos têm reclamado que estão sendo punidos pelas plataformas por conta de reclamações infundadas de clientes e por causa de um tipo de golpe cada vez mais comum. Após receber a comida, o cliente diz que ela não foi entregue para conseguir o reembolso.
Perder a conta ou ser suspenso da plataforma é um dos desdobramentos que o golpe pode causar na vida dos entregadores.
"O cliente muitas vezes age da malandragem. Depois que recebe a comida, ele diz que o entregador não levou só para conseguir o ressarcimento. A empresa faz o pagamento e pontua mal o entregador ou até bloqueia a conta dele. Isso é muita injustiça", diz o entregador Miguel (nome fictício), que faz entregas por duas plataformas de aplicativos desde o início de 2020.
A moto é dele e foi comprada de segunda mão em seis prestações, pagas com a renda vinda dos aplicativos.
A gente passa um veneno o tempo todo. É tanta coisa que fica até difícil falar. Vai da fome até o medo de não ter como trabalhar de uma hora para outra
Miguel (nome fictício), entregador
Ele é um dos milhares de entregadores que, de motocicleta, mobilete ou bicicleta, cruzam as grandes cidades do país levando encomendas, bebidas e refeições rápidas driblando um trânsito cada vez mais caótico.
De bicicleta, o entregador Wilker Barbosa, 23, roda a região da avenida Paulista e dos Jardins, na cidade de São Paulo, diversas vezes por dia.
Ele mora na zona Leste, em Artur Alvim, e para conseguir mais entregas fica sem almoçar até as 16h30 ou 17h, quando faz uma pausa para comer um lanche rápido enquanto se atualiza das notícias do dia com outros entregadores.
"Quem está ali o dia inteiro fica frustrado com a situação. A nossa liberdade de trabalhar está ameaçada. No geral, as taxas estão baixas, tem muita gente sendo bloqueada sem motivo e diminuição dos pedidos", disse.
Na semana passada, circulou na internet um vídeo de dezenas de entregadores depredando um portão de garagem e um carro na cidade de Bauru, no interior de São Paulo.
O protesto aconteceu porque, segundo os entregadores, o morador aplicava rotineiramente o golpe de ligar dizendo que o lanche não tinha sido entregue.
O ataque na casa do cliente foi organizado por meio de grupos formados em aplicativos de mensagens dos entregadores.
Em nota, a assessoria de imprensa da SSP (Secretaria de Segurança Pública) de São Paulo informou que não foi registrado nenhum boletim de ocorrência em Bauru, porém, tanto o cliente que teve os bens danificados como os entregadores "que se sentirem lesados" podem fazer o registro para que uma investigação seja iniciada.
Ainda segundo a SSP, o boletim pode ser feito em uma delegacia ou pela internet na delegacia eletrônica.
Um caso parecido foi registrado em Florianópolis também.
Protesto
No ano passado, os entregadores fizeram uma série de protestos contra as regras impostas pelas plataformas e pedindo mais transparência nas negociações.
Uma das lideranças do levante dos entregadores foi Paulo Lima, mais conhecido como Galo, articulador do grupo entregadores antifascistas. Com 30 anos e morador da periferia, Galo é um crítico do modelo adotado pelas empresas de entrega.
Segundo ele, plataformas como iFood e Uber Eats são claras sobres os critérios adotados ao bloquear ou suspender um entregador.
"Não tem nem espaço de contestação. Muitos são bloqueados sem saber e não podem se defender", disse Galo.
O entregador Barbosa diz que a burocracia no contato com as plataformas é proposital para desanimar a categoria.
"Diria que é impossível fazer qualquer questionamento. Quem está no front sente na pele que a vida é osso. Não tem voz para nada. Os meninos estão trabalhando cautelosamente para não perder a conta", afirma.
Outro lado
A plataforma Uber Eats informou também em nota que "parceiros com sucessivas avaliações negativas podem, inclusive, ter as contas desativadas da plataforma".
"Parceiros que descumprem os Termos de Uso da plataforma (por exemplo, com seguidos cancelamentos injustificados, denúncias de extravio de pedidos ou tentativas de fraude) também estão sujeitos à desativação", diz o texto.
Por outro lado, a plataforma disse que tem procedimentos para verificar se as entregas foram feitas. "Dessa forma, reclamações sobre pedidos não entregues podem ser checadas e, caso fique claro que o usuário tentou cometer alguma irregularidade, não há nenhum tipo de punição para o entregador parceiro", diz a nota da Uber Eats.
Também em nota, o iFood diz que "vem trabalhando para ser cada vez mais transparente sobre os motivos de eventuais desativações, que estão presentes nos termos e condições da plataforma e são explicadas na tela do app do entregador parceiro. Em caso de discordância, o entregador pode entrar em contato pelo próprio aplicativo e pedir a revisão do seu caso."
O aplicativo diz ainda que "está testando uma funcionalidade de Código na Entrega, que ajudará o entregador a se certificar de que o pedido será entregue ao destinatário correto, prevenindo extravios".
A Rappi não respondeu os questionamentos da reportagem.
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