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Em enterro de porteiro, familiares acusam motoboy de excesso de violência

Carolina Freitas

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

05/04/2021 18h26Atualizada em 06/04/2021 00h16

O porteiro Jorge José Ferreira, de 57 anos, foi enterrado na tarde de hoje no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Jorge morreu na noite de sábado (3) no Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea. Ele estava internado desde a última segunda-feira (29), quando se envolveu em uma briga com o motoboy Marcus Vinícius Gomes no condomínio em que trabalhava, na Barra da Tijuca.

Cerca de 70 pessoas compareceram ao cemitério para se despedir do porteiro. O cunhado de Jorge, Márcio Henrique Santos, disse que a família está inconformada com o que aconteceu, e apontou excesso de violência do motoboy, que disse ter agido em legítima defesa após ter sido atacado pelos porteiros do prédio.

"Não precisava dessa agressão toda. Podia ser resolvido de outra forma. O motoboy foi cruel. Foi batendo e batendo, até o Jorge cair no chão. É muito difícil de aceitar isso", disse ele, emocionado.

Márcio também pediu um apelo aos órgãos públicos competentes: "Queríamos uma atenção, que deem pelo menos um prazo para que a pessoa (motoboy) reapareça. Ele deu uma versão completamente distorcida do que aconteceu e hoje ninguém sabe onde ele está", reclamou o homem.

Ao falar de Jorge, o cunhado o definiu como uma "pessoa maravilhosa" e muito ligada à família.

"Um paizão e maridão. Aquele tipo de homem que não deixava faltar nada dentro de casa. Trabalhava desde os 11 anos de idade e tudo o que conquistou foi com muito trabalho e muito esforço", finalizou.

Já Aroldo Mendonça, de 59 anos, policial federal e morador do prédio em que Jorge trabalhava, contou que chegou ao condomínio logo após a confusão e que, ao ajudar a socorre-lo, ouviu do porteiro que o motoboy teria o chamado de "macaco" e "crioulo safado".

"Ele me falou isso e eu fiquei sem acreditar. Já no hospital, um dos filhos dele me contou a mesma história. Falou que o pai estava com vergonha de ter apanhado e de ter sido chamado de 'macaco' e 'crioulo safado'", repetiu o condômino.

Entenda o caso

A confusão entre Marcus Vinicius e os funcionários do prédio teria começado após o entregador descer pelo elevador social do prédio onde Jorge trabalhava.

De acordo com o motoboy, na hora de ir embora, ele teria confundido a saída e passado pela área que é permitida apenas para os moradores.

Após ser questionado pelos porteiros sobre o porquê havia usado a área social, ele teria explicado que não conhecia o prédio e se perdeu, mas mesmo assim uma confusão se instalou, e o rapaz chegou a compartilhar um vídeo em que era imobilizado por um dos funcionários, enquanto outro ameaçava tirar o celular de suas mãos.

Imagens de câmeras de segurança do condomínio, mostrando momentos anteriores ao incidente, flagraram as cenas do início da luta corporal entre Jorge e Marcus. Na gravação, o porteiro vai até a guarita, pega uma barra de ferro e tenta bater no entregador, que acaba tomando o objeto e revidando as agressões.

Segundos depois, a filmagem mostra Jorge caído no chão.

A causa da morte do funcionário foi traumatismo craniano, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). O caso está sendo investigado pela 16ªDP (Barra da Tijuca).

Ao comentar a notícia da morte do porteiro, Marcus Vinicius se disse "chocado" e afirmou que está tomando remédios para dormir e que "chora o dia todo" por conta da situação.