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Morre porteiro agredido em confusão no Rio; motoboy lamenta: 'Chocado'

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

05/04/2021 08h40

O porteiro Jorge José Ferreira, de 58 anos, que foi agredido durante uma briga com um motoboy em um condomínio na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, morreu na noite de sábado (3). Ele deu entrada no Hospital Miguel Couto, na Gávea, zona sul, no dia 29 de março e morreu em decorrência de traumatismo craniano. Ao UOL, o entregador Marcus Vinícius Gomes Corrêa se disse chocado com a morte de Jorge (leia abaixo).

De acordo com parentes, o entregador - que acusou porteiros de implicarem com ele por ter usado uma saída social do condomínio - usou um guidão de bicicleta para agredir o porteiro, que levou sete golpes na cabeça e foi socorrido por funcionários do prédio.

Em um primeiro momento, vídeos mostraram apenas o relato do motoboy, com poucas cenas da agressão e as ameaças a ele, que filmava a cena - como se vê no vídeo abaixo. Depois, no mesmo dia, filmagens mostraram como houve agressão de ambas as partes e o motoboy também atacou porteiros. Um deles é atingido com um guidão de bicicleta - conforme se vê no vídeo acima.

Jorge José foi encaminhado para o Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, e posteriormente, devido à gravidade das lesões, para o Hospital Miguel Couto, na Gávea, zona sul, onde passou por cirurgia.

Segundo a unidade, o porteiro foi submetido a uma intervenção para descompressão da calota craniana frontal. O paciente precisou também de traqueostomia. O estado de saúde dele era considerado gravíssimo. No sábado à noite, Jorge José não resistiu e morreu.

jorge - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Jorge José morreu dias após ser internado
Imagem: Arquivo Pessoal

"A família está em luto e agradece a todos pelas orações", disse o advogado da família, Bruno Castro.

Jorge José era funcionário do prédio onde um motoboy denunciou ter sido agredido e fez um vídeo onde aparecia no chão, imobilizado por outro funcionário. Ele disse que foi covardemente agredido no local e agiu em legítima defesa. As imagens repercutiram na internet.

Motoboy lamenta

O entregador Marcus Vinícius Gomes Corrêa disse ao UOL na manhã de hoje que está em choque com a morte do porteiro.

"Estou péssimo, muito mal. Completamente arrasado, em choque. Eu não durmo direito, vivendo à base de remédios para dormir. Eu não queria que nada disso tivesse acontecido. Eu sinto muito. Choro o dia todo, meu mundo desabou", disse ele.

Marcus Vinícius prestou depoimento na Delegacia da Barra da Tijuca, onde o caso é investigado e aguarda a conclusão do inquérito.

"O inquérito policial está em andamento. A unidade aguarda o laudo da necropsia do Instituto Médico Legal (IML). Testemunhas estão sendo ouvidas e as investigações continuam", informou a Polícia Civil do Rio.

Relembre o caso

A briga entre o motoboy e o porteiro começou após Marcus Vinícius Gomes tentar deixar o condomínio pela portaria social do edifício e não a de serviço. Marcus Vinícius contou que foi abordado de forma ríspida e foi humilhado pelo porteiro que tentou impedir a saída dele - o que deu início à discussão.

O motoboy admitiu à reportagem que forçou a passagem e que ao ser cercado pelo porteiro desferiu dois chutes contra ele. Depois, na área externa, o porteiro pegou um guidão de bicicleta em uma guarita e agrediu o entregador que também revidou o ataque. As agressões só pararam após o porteiro cair no chão. O motoboy foi imobilizado por outros funcionários.

"Eu me perdi, só estava tentando sair do prédio quando um porteiro veio falando comigo descontrolado, me humilhando dizendo que eu era motoboy e não podia sair por ali. Ele poderia ter me orientado com educação. Disse que só pela forma como ele falou comigo, que iria sair por ali mesmo. Ele começou a me cercar, me empurrar, falei para ele não colocar a mão em mim. Até que ele foi na guarita, pegou uma barra de ferro e me acertou. Eu consegui tirar a barra da mão dele e revidei. Depois, vieram mais porteiros e um morador que ameaçou me matar, me sufocaram", afirmou ele.

Após o ocorrido, o motoboy foi imobilizado pelo pescoço. No chão, ele gravou os vídeos que repercutiram na internet.

"O cara não quer me soltar não. Tô imobilizado aqui e o cara nem policial é. Olha a cara dele, porteiro. Nem policial é. Você não pode me imobilizar, parceiro. Me agrediram, quatro porteiros e um policial morador, vieram me agredir. Os quatro juntaram em mim. Olha como está a situação, o que motoboy passa no Rio de Janeiro", denunciou ele, no vídeo.

Outro funcionário que também aparece nas imagens, ameaça quebrar o celular do motoboy. "Vou quebrar seu telefone, eu quebro, eu quebro", diz um dos porteiros no vídeo que Marcus gravou pedindo ajuda

A família do porteiro agredido disse que José trabalhava há 19 anos no mesmo prédio e era um funcionário querido.

"De uma índole diferenciada, foi promovido, não tem histórico de desentendimento com entregador, o condomínio recebe vários entregadores diariamente", disse o parente que ainda questionou a versão do entregador.

"Ele disse que apanhou tanto, mas não tem uma escoriação. Foram sete golpes de barra de ferro que o motoboy deu nele", acrescentou o parente, que preferiu não ser identificado. A família relata ter sofrido ameaças após o incidente.