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Defesa de promotor diz que esposa morreu engasgada; filhos ficam com amigo

O promotor de Justiça André Luís Garcia de Pinho e Lorenza Maria Silva de Pinho eram casados - Reprodução/Facebook
O promotor de Justiça André Luís Garcia de Pinho e Lorenza Maria Silva de Pinho eram casados Imagem: Reprodução/Facebook

Bruno Torquato

Colaboração para o UOL, em Betim (MG)

07/04/2021 13h23

O promotor André Luís Garcia de Pinho segue preso temporariamente em Belo Horizonte desde o final de semana suspeito de ter praticado feminicídio contra a esposa, Lorenza Maria Silva de Pinho, de 41 anos. A defesa do promotor afirma que ela sofreu um engasgo e que isso causou a morte.

Ontem, a justiça deu a guarda dos cinco filhos do casal para o médico e amigo de ambos, Bruno Sander. Pesa na decisão um documento assinado pelo casal há dois anos e os relatos de ameaças que André e Lorenza diziam receber.

O advogado que faz a defesa do promotor, Robson Lucas, afirmou que seu cliente está "ansiosamente aguardando o laudo do IML para que a gente possa apresentar ao público e à justiça os esclarecimentos sobre os fatos equivocados que constam contra Dr. André".

Sobre a guarda ter ficado com amigo e não com parentes, Robson disse que a promotoria ouviu o desejo dos menores e levou em consideração um documento assinado em cartório em 2018. Nele, André Luís e Lorenza de Pinho manifestaram o desejo de que, se alguma coisa acontecesse com eles, que os filhos ficassem com Bruno.

À época, diz o advogado, o casal estava sofrendo atentados. Além disso, ele relata que dois dos filhos do casal, de 15 e 17 anos, contaram que não tinham proximidade com o pai de Lorenza. "Tinha mais de um ano que o avô materno não conversava com a mãe deles. Eles nunca tiveram qualquer intimidade e contato, mal conheciam o avô", disse Robson Lucas, ao UOL.

Advogado cita força policial excessiva

O cumprimento de mandado contra o promotor André Luís foi realizado no domingo, no bairro Buritis, na zona oeste de Belo Horizonte, com um forte aparato policial que contou com representantes da Polícia Civil e Militar. O advogado Robson Lucas diz que parecia se tratar "da prisão de um terrorista".

"As crianças ficaram acuadas, os policiais executaram a ordem de prisão com violência desnecessária como se tivesse uma diligência destinada para prender um terrorista da Al-Qaeda", afirmou Robson.

Ainda de acordo com o advogado, os policiais teriam apontado fuzis contra os filhos do casal, que têm 2, 7, 10, 15 e 17 anos. "Foram cerca de vinte policiais, mais de dez deles armados com fuzis. Eles entraram com agressividade na residência, apontaram fuzis para todas as pessoas que estavam na casa, apontaram a arma para o de 17 anos que abriu a porta. O André Luís estava com filho pequeno na cama dormindo, apontaram o fuzil para ele para os filhos, submeteram uma verdadeira tortura aos adolescentes e crianças", acusa ele.

Procurada, a Polícia Civil de Minas Gerais ainda não se manifestou sobre a conduta dos policiais.

Defesa diz que Lorenza morreu por engasgo

De acordo com o relato do promotor André Luís para seu advogado, Lorenza teria se engasgado e os procedimentos médicos realizados não teriam tido sucesso. Robson Lucas contou ao UOL que, no dia, ele acordou com Lorenza tossindo e se engasgando no final da madrugada.

"O filho de 2 anos estava na cama, tentou acordar a Lorenza, mas ela não respondeu", conta Robson. O promotor então teria levado a criança para outro quarto e acionado o serviço de emergência do hospital privado Mater-Dei por volta das 6h.

"Eles encaminharam uma ambulância com um médico e uma enfermeira. Ficaram 40 minutos fazendo massagem, todos os tipos de procedimentos visando o restabelecimento da Lorenza. O médico tentou fazer a intubação, mas as vias respiratórias estavam fechadas. Ele não conseguiu fazer esse procedimento e Lorenza veio à óbito", conta o advogado.

Lorenza teria feito cirurgia de redução de estômago há alguns anos e, desde a perda de sua mãe, sofria de depressão, de acordo com informações passadas pelo advogado à reportagem. "Nos últimos anos foi se agravando o quadro depressivo e ela fazia uso constante de medicamentos para dormir", contou.

Nesse contexto, a defesa do promotor diz que trabalha com a perspectiva de que Lorenza teria tomado uma quantidade de comprimidos e que, sedada por eles, o organismo não teria conseguido reagir ao engasgo.

Procurado, o Hospital Mater-Dei não retornou a reportagem para comentar o atendimento realizado.

Advogado nega motivo para o crime

Ressaltando que a atual condição de prisão do promotor André Luís é preventiva, Robson Lucas disse que seu cliente não teria motivo para tirar a vida da esposa. "A motivação do crime, não tem. Eles atribuem ao André a prática de feminicídio porque no corpo da Lorenza constavam marcas roxas na região cervical e apresentava vazamento de sangue no nariz e boca", relatou à reportagem.
Ele diz ainda que essas características encontradas no corpo de Lorenza seriam devido aos procedimentos médicos adotados pela equipe médica durante o socorro solicitado.

"Estão aproveitando desse fato, houve essa exposição midiática toda. Só quem vai dizer [a causa da morte] é o IML. Ele quem vai confirmar a causa que constou no atestado de óbito, pois o médico que atendeu colocou que foi asfixia e sufocamento por vômito ou por resto de alimentos", concluiu.