Vereador Dr. Jairinho e mãe de Henry Borel são presos pela polícia no Rio
A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu na manhã de hoje o vereador Dr. Jairinho (Solidariedade) e a professora Monique Medeiros em investigação pela morte do menino Henry Borel, ocorrida no dia 8 de março. Segundo investigadores, o pedido de prisão aconteceu pelo casal atrapalhar investigações e ameaçar testemunhas.
Padrasto e mãe da vítima, o casal foi preso na casa de uma tia do político em Bangu, zona oeste do Rio. Os mandados de prisão temporária por 30 dias foram expedidos pelo 2º Tribunal do Júri. A polícia investiga o crime de homicídio duplamente qualificado —por motivo torpe e sem chances de defesa à vítima.
Para a polícia, o menino morreu em decorrência de agressões. Segundo os investigadores, Dr. Jairinho já tinha histórico de violência contra Henry. Segundo a investigação, o parlamentar se trancou no quarto para agredir a criança com chutes e pancadas na cabeça um mês antes do crime —a mãe soube das agressões, ainda de acordo com a polícia.
O casal também é suspeito de combinar versões e de ameaçar testemunhas para atrapalhar as investigações. A Polícia Civil ouviu ao menos 18 pessoas na investigação.
Após serem ouvidos na 16ª DP (Barra da Tijuca), Dr. Jairinho e Monique Medeiros seguirão para a Polinter, na Cidade da Polícia, zona norte do Rio, onde passarão por uma triagem, depois serão levados para o Instituto Médico Legal para corpo de delito. Depois disso, Dr. Jairinho e Monique serão encaminhados para presídios.
Chegada à delegacia tem gritos de 'assassino'
Um vídeo feito na entrada da 16ª DP (Barra), que investiga o caso, mostra o momento em que Dr. Jairinho e Monique foram conduzidos até a delegacia, algemados. "Assassino!", gritou um homem no momento em que o político era conduzido pelos investigadores, diante da presença da imprensa.
Procurada, a defesa do engenheiro Leniel Borel, pai de Henry, se posicionou sobre a prisão e disse que ele chorou ao receber a notícia.
"O pai tem três sentimentos, ele está chorando muito, está destruído. O primeiro sentimento é de que ele se culpa demais por não ter entendido o que o filho queria passar para ele, que ele podia ter feito mais para que a criança não tivesse morrido", disse Airton Barros.
A defesa diz ainda que Leonel Borel está inconformado com Monique Medeiros, mãe da criança e, assim como Dr. Jairinho - padrasto do menino - presa hoje pela manhã pela morte de Henry. Segundo Airton Barros, "até agora ela [Monique] não demonstra nada. O casal tem uma preocupação muito forte com a imagem. O pai entende que quem deveria proteger era a mãe e ela não protegeu. Ele está muito arrasado com isso".
Para a defesa de Leniel, a polícia irá concluir o inquérito apontando o crime homicídio duplamente qualificado —por motivo torpe e sem chances de defesa à vítima. "Nós já havíamos nos posicionado quando a criança foi entregue à família [Dr. Jairinho e Monique] em perfeitas condições e que ela foi agredida e como resultado dessas agressões houve a morte da criança. E ali estava muito claro, ou seria um homicídio praticado pela mãe, pelo padrasto ou pelos dois. A investigação está indo nesta direção", afirmou o advogado.
O UOL entrou em contato com a defesa de Dr. Jairinho e Monique, mas ainda não obteve resposta.
Câmara irá pedir afastamento de vereador
Membro do conselho de ética da Câmara, a vereadora Teresa Bergher (Cidadania) vai pedir ainda hoje que o vereador Dr. Jairinho seja afastado do cargo. O assunto será discutido em reunião às 18h na sala das comissões da Câmara.
"[Ele] Precisa ser afastado imediatamente. Pela imagem da casa, pela credibilidade de cada um de nós vereadores e por respeito a esta criança vítima de um cruel assassinato e a toda a população que representamos", diz Teresa.
Jairinho tentou apressar atestado de óbito
Cerca de uma hora depois que Henry Borel chegou ao Hospital Barra D'Or, já sem vida, na madrugada de 8 de março, o vereador Dr. Jairinho (Solidariedade) enviou mensagens a um alto executivo da área da saúde pedindo que o atestado de óbito do enteado fosse agilizado. Isso afetaria o processo de análise pelo IML (Instituto Médico Legal).
Em março, a colunista do UOL Juliana Dal Piva mostrou que houve pressão do político para a liberação do corpo. Nas mensagens reveladas agora pela TV Globo, Jairinho escreveu: "Aconteceu uma tragédia". Ele diz que o enteado havia morrido e o atestado de óbito precisaria ser liberado. Ao final da chamada, o vereador enviou: "Agiliza. Ou eu agilizo o óbito. E a gente vira essa página hoje". O executivo então explica que, pelas circunstâncias da morte, isso não seria possível.
Casal não compareceu à reconstituição do crime
O casal, que não compareceu à reconstituição do crime feita na semana passada no apartamento de Dr. Jairinho, passou a ser tratado como investigado pela morte de Henry desde segunda-feira (5). A defesa alegou que ambos estavam abalados emocionalmente para justificar a ausência na reprodução simulada.
A Polícia Civil levou em consideração as versões apresentadas por Jairinho e Monique —de que o menino teria caído da cama. Os agentes analisaram algumas possíveis quedas sofridas por Henry: a partir da escrivaninha que fica ao lado da cama do casal, da poltrona, um salto da cama para o chão ou uma queda da própria altura.
O laudo de necropsia de Henry aponta que a criança sofreu "múltiplos hematomas no abdômen e nos membros superiores", "infiltração hemorrágica" na parte frontal, lateral e posterior da cabeça, "grande quantidade de sangue no abdômen", "contusão no rim" e "trauma com contusão pulmonar".
Entenda o caso
Henry Borel, de 4 anos, havia passado o final de semana com o pai, o engenheiro Leniel Borel de Almeida. Por volta das 19h, ele deixou a criança no condomínio onde morava a mãe do menino, Monique Medeiros, que havia se mudado para viver com o novo namorado, o vereador Dr. Jairinho, com quem começou um relacionamento em outubro de 2020.
Câmeras de segurança registraram a chegada do garoto, sem nenhum problema de saúde aparente.
De acordo com as investigações, na madrugada do dia 8, Jairinho e Monique levaram o menino ao Hospital Barra D'Or, na Barra da Tijuca, onde relataram que a criança apresentava dificuldade respiratória. O casal então ligou para o pai do garoto para relatar o ocorrido.
Leniel foi, então, até a unidade de saúde e encontrou os médicos tentando reanimar a criança. Orientado pelos profissionais do hospital, o pai do menino abriu uma ocorrência na 16ª DP para entender o que aconteceu com o filho. A morte do menino ocorreu ainda no dia 8.
O laudo da necropsia de Henry indicou sinais de violência e a causa da morte foi hemorragia interna e laceração hepática causada por uma ação contundente.
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