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Jovem morre de covid-19 após família vender casa para pagar tratamento

João Vitor Guido, de 22 anos, ficou 1 semana esperando vaga na UTI mesmo com esforços da família, que vendeu casa  - Reprodução/Arquivo Pessoal
João Vitor Guido, de 22 anos, ficou 1 semana esperando vaga na UTI mesmo com esforços da família, que vendeu casa Imagem: Reprodução/Arquivo Pessoal

Naian Lopes

Colaboração para o UOL, em Pereira Barreto (SP)

23/04/2021 18h41Atualizada em 23/04/2021 18h50

Um jovem de 22 anos morreu por complicações da covid-19 em Sorocaba, no interior de São Paulo, mesmo depois de sua família ter vendido uma casa para custear sua internação em um hospital particular.

Os parentes de João Vitor Guido da Silva lembram que o rapaz cumpria as medidas de quarentena, saindo esporadicamente para a igreja e para o trabalho, mas que um dia, durante uma de suas caminhadas diárias ao lado da mãe, ele sentiu os primeiros sintomas do vírus.

"Cumpriu muito bem, ficou quietinho em casa. Ia pouco para a igreja, saía pouco para trabalhar", diz Rogéria Guido da Silva, mãe de João Vitor, lembrando que após o mal-estar durante a caminhada percebeu que o rapaz estava com febre e decidiu levá-lo a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do município.

João teria sido medicado e liberado para voltar para casa sem realizar nenhum exame. Em pouco tempo ele piorou e estava com a unha da mão roxa, o que fez a família pagar por uma consulta em um hospital particular de Sorocaba.

Na unidade, a equipe médica realizou uma tomografia, que constatou que o pulmão estava 25% comprometido, e o teste de covid-19, que deu positivo.

Questionada sobre como ele poderia ter sido contaminado, a mãe conta que o rapaz não foi o único da família a ser diagnosticado com a doença.

"Eu imagino que foi pelo meu marido, porque ele ficou em casa, não foi hospitalizado. Mas não sei se foi ele, porque meu filho pegou na segunda e meu marido pegou dois dias antes", lembra.

Mesmo após testar positivo, João inicialmente ficaria em casa, mas seu quadro clínico piorou rapidamente, o obrigando a buscar a UPA mais uma vez. Ao se deparar com uma fila de pessoas aguardando atendimento, a família resolveu colocá-lo no mesmo hospital particular em que ele fez os exames, onde o rapaz já precisou ser colocado no oxigênio, com a saturação em 70%.

Quando o novo boletim médico do jovem foi divulgado, detalhando que ele já estava com mais de 50% do pulmão comprometido, Rogéria e o marido começaram uma corrida por uma vaga de UTI, e mesmo a unidade particular não tinha mais leitos.

"Quase uma semana depois, ele conseguiu UTI, mas ele foi intubado antes na enfermaria", explica, contando que a família se sacrificou para conseguir a vaga.

"Vendemos nossa casa pela metade do preço para conseguir uma UTI para ele", detalha Rogéria, dizendo que a casa vendida estava no nome de João Vitor e que agora, após a morte do rapaz, eles estão vivendo em outra casa da família, no fundo da loja que possuem.

A mãe do rapaz lembra ainda que depois da força-tarefa para conseguir mantê-lo na unidade particular, os parentes tiveram notícias positivas sobre a recuperação, mas que logo o quadro voltou a piorar.

"Ele já tinha previsão de ir para o quarto em 24 horas, mas quando cheguei no hospital barraram minha entrada porque ele começou a piorar. Ele teve uma infecção muito alta, estava desorientado, mas o médico falou para mim que acreditava na recuperação dele", conta Rogéria.

"No momento que ele morreu estava a igreja toda de joelho dobrado orando pela recuperação dele", completou.

Ao comentar sobre a perda do filho, a mulher destaca: "Ele era um menino de ouro, muito puro. Eu agradeço a Deus ter sido mãe dele por 22 anos".