Muçulmana denuncia intolerância religiosa em posto de vacinação no AM
Ana Rita Gomes Vieira, de 41 anos, denunciou nas redes sociais ter sido vítima de um suposto ato de intolerância religiosa em um posto de vacinação contra a covid-19 em Manaus, no Amazonas.
Ao chegar ao local, a mulher, que é muçulmana e usava um lenço tradicional, chamado keffiyeh, e uma máscara com as cores da bandeira palestina, afirmou ter ouvido uma das enfermeiras dizer que temia que ela soltasse uma bomba.
O caso ocorreu no início da tarde de hoje, quando Ana Rita se dirigiu ao posto para tomar a segunda dose do imunizante.
Ao se sentir agredida verbalmente, a mulher passou a filmar o atendimento, questionando a servidora. Na gravação, a enfermeira diz que fez uma brincadeira.
"Gente, era brincadeira. Gente, eu estava só brincando", diz a profissional de saúde.
"Eu vim tomar vacina e a senhora disse que tem medo que eu solte uma bomba aqui. Com isso não se brinca. A gente teve uma marcha pró-Palestina contra o genocídio cometido contra nosso povo e hoje eu venho aqui para ouvir isso", rebateu Ana Rita.
Ao UOL, ela contou que é uma paciente imunossuprimida e que, por essa razão, entrou no grupo prioritário de vacinação.
"Eu não posso me alegrar por ser privilegiada em tomar vacina. Isso não é motivo de orgulho, é de tristeza. Porque muitos não tiveram a chance de tomar. Então, já fui lá com esse clima pela Palestina e pelo Brasil, e fui recebida desse jeito", lamentou.
"Fiquei na fila e quando chegou minha vez, ela olhou para mim e falou: 'ai, tenho medo que vocês venham aqui e joguem uma bomba. Por que vocês, que andam assim, fazem isso.' A única coisa que eu queria era chegar lá e tomar a vacina, e não ser agredida", concluiu.
Ao perceberem que o caso seria levado à delegacia, três enfermeiras foram até Ana Rita para pedir desculpas.
"A enfermeira-chefe veio falar comigo e perguntou: 'se ela pedir desculpas, você releva essa situação?'. Eu falei que um pedido de desculpas, ainda mais orientado, não iria apagar a dor que estou sentindo", acrescentou.
Ana Rita registrou queixa na unidade policial local e a Polícia Civil investigará a denúncia.
A reportagem não teve acesso à enfermeira acusada para ouvir sua versão da história.
Procurada, a Prefeitura de Manaus afirmou que lamenta o episódio e classificou a piada da enfermeira como "inadequada".
O órgão acrescentou que a profissional será advertida e receberá uma reorientação quanto aos procedimentos adequados para o atendimento aos usuários durante a campanha municipal de vacinação.
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