Josias: Tática de Bolsonaro de negar crime e terceirizar não cola mais
Jair Bolsonaro recorre à conhecida estratégia de negar seu envolvimento na trama golpista e terceirizar a culpa pelos crimes cometidos, mas esta tática não funciona mais, disse o colunista Josias de Souza no UOL News desta sexta (22).
Ontem, a Polícia Federal indiciou Bolsonaro e mais 36 pessoas sob suspeita dos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. O ex-presidente afirmou em entrevista à revista Veja que nunca discutiu qualquer estratégia para matar autoridades. Segundo a PF, militares próximos ao governo dele elaboraram um plano para assassinar Luiz Inácio Lula da Silva, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes.
A defesa do Bolsonaro passa por dois pilares. O primeiro é a terceirização da culpa e o segundo, a vitimização.
Bolsonaro opera sempre da mesma maneira. Sempre que o acusam de algum crime, ele nega; quando surgem as provas, terceiriza as responsabilidades. Ele nunca é responsável por nada, por coisa nenhuma.
Ocorre que agora, tanto a vitimização quanto a terceirização de responsabilidades tornaram-se estratégias gastas. Bolsonaro agora tem diante dele um inquérito com mais de 800 páginas, que resultou no indiciamento dele e de outras 36 pessoas. E há nessas mais de 800 páginas uma profusão de evidências que vinculam o Bolsonaro a essa criminalidade golpista.
Então, esse lero-lero do 'eu não tenho nada a ver com isso' não cola diante das evidências que lá estão. Ele precisará arrumar algo que se pareça com uma defesa crível. A vitimização perdeu o sentido e o nexo.
Josias de Souza, colunista do UOL
Josias destacou que Bolsonaro repete atitudes desleais que já havia protagonizado quando esteve no Exército, com diversos episódios de indisciplina e de quebra de hierarquia.
Se raciocinarmos do ponto de vista historiográfico, se o Bolsonaro ensina alguma coisa é que a História acaba se repetindo quando não prestamos atenção aos sinais que ela emite. Bolsonaro é a personificação da reincidência.
Quando era militar, ele foi em cana na década de 80, condenado por decisão unânime de um conselho militar porque foi acusado de desejar, tentar e planejar a explosão de prédios militares. Alheio aos sinais da História, o Superior Tribunal Militar produziu um arranjo que permitiu ao Bolsonaro sair pela porta lateral, em vez de expulsá-lo e enxotá-lo pelos fundos.
Ele, que vestindo farda era um líder sindical dentro do quartel, levou seu sindicalismo para o mundo da política. Este personagem, com toda sua precariedade, apresentou-se ao eleitorado como um candidato antissistema e foi eleito. Nada mais sistêmico do que Bolsonaro. Josias de Souza, colunista do UOL
Tales: Chefe do golpe, Bolsonaro deixa política da violência como herança
O ex-presidente Jair Bolsonaro deixa ao Brasil a assustadora herança da política baseada na violência, comprovada por seu papel central na trama golpista.
É praticamente certo que o Bolsonaro acabará condenado como o artífice do golpe de Estado, o chefe do movimento golpista. No entanto, nem acho isso o mais grave.
O mais grave é o Bolsonaro ter sido o chefe, o artífice, o comandante da política de violência. Desde a década de 90, ele já defendia guerra civil, violência, tortura, todas essas coisas. E é essa herança que ele está deixando. Ele saiu do governo e o país continua com casos que nunca havia por aqui, como homens-bomba na frente da praça dos Três Poderes.
Ele desenvolveu e incentivou uma política armamentista no governo, dizendo que 'povo armado é povo livre'. As pessoas passaram a andar armadas, com mais e mais casos de mortes violentas nas escolas. Com essas descobertas, sabemos que virá um tempo conturbado.
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Quero receberNem todos os bolsonaristas são assim, mas há um núcleo violento incentivado pela ideologia de violência de um presidente da República. Isso deixa marcas na sociedade, e é o mais grave de tudo desse tempo em que o Bolsonaro encabeçou uma parte do pensamento dos brasileiros. Tales Faria, colunista do UOL
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Reale Jr.: Cabe pedir prisão domiciliar a Bolsonaro ou uso de tornozeleira
A adoção de novas medidas cautelares a Jair Bolsonaro, como prisão domiciliar e uso de tornozeleira eletrônica, é cabível durante as investigações do envolvimento do ex-presidente na trama golpista, explicou o jurista Miguel Reale Jr. Para ele, não se justificaria um pedido de prisão preventiva de Bolsonaro neste momento, sob risco de acelerar a apresentação de uma denúncia - o que aumentaria as chances de comprometer todo o processo por conta de pontas soltas.
A prisão preventiva exige algumas condições. A primeira delas é a contemporaneidade. São fatos ocorridos há quase dois anos. O que justificaria a prisão preventiva de Bolsonaro nesse instante? Isso geraria um problema, que é a urgência na apresentação de uma denúncia. Uma prisão preventiva exige, em uma fase de inquérito, que haja a propositura de uma ação penal em tempo razoável. Se não, esgota-se o tempo e ela é revogada.
Eu creio que novas medidas podem ser adequadas e adotadas, como aquelas não restritivas à liberdade. Bolsonaro já está com o passaporte retido e não pode se ausentar do país. Seria o caso de se estabelecer, nessa hipótese, uma prisão domiciliar ou uma tornozeleira eletrônica para efetivamente se ter o monitoramento e o controle das relações que ele possa vir a ter com algum dos conspiradores. Deve-se prevenir que continue a haver conspiração. Miguel Reale Jr., jurista
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