Homem reencontra pai após 30 anos ao envelhecer foto em aplicativo
Um aplicativo gratuito de envelhecimento de rostos ajudou o construtor civil Everaldo Germano do Nascimento, de 51 anos, a localizar o pai, Geraldo Serafim do Nascimento, hoje com 73, após 30 anos de separação.
O reencontro aconteceu no último sábado (15), numa região de mata isolada em Bertioga, litoral de São Paulo. E foi marcado por um abraço apertado, "de coração para coração". Segundo o construtor, uma emoção só igualada à que sentiu quando seus filhos nasceram.
Everaldo iniciou as buscas pelo pai há cerca de 23 anos, incentivado pela esposa, a cabeleireira Eliana Almeida Nascimento, de 48. Ela conta que, após dois anos de casados, o construtor falou a ela sobre o sofrimento por acreditar ter sido abandonado por Geraldo.
O construtor nasceu e passou parte da infância na cidade de Rio Tinto, na Paraíba, morando com os pais. Mas os dois brigavam constantemente e decidiram se separar, com os seis filhos do casal, entre eles Everaldo, sendo entregues à avó materna pela mãe, que decidiu partir sozinha para o Rio de Janeiro.
"Quando meu esposo completou 13 anos, a avó faleceu. Ele então se viu obrigado a permanecer com parentes, sempre migrando de casa em casa. Quando estava mocinho, mudou-se para São Paulo para tentar a vida. Anos depois, quando ele tinha 27, nos conhecemos", contou Eliana ao UOL.
A mulher conta que o marido havia sido informado de que o pai era "um homem ruim". A mãe, com quem ele manteve contato, era quem reforçava essa versão.
"Insisti para que ele não desistisse de tentar encontrar o pai, de descobrir toda a verdade. Eu sabia que essa dor, essa mágoa que ele sentia, poderia ser desfeita", argumentou a cabeleireira.
Assim tiveram início as buscas por Geraldo. Ao longo dos anos, a família tentou localizar documentações e depoimentos de parentes que ajudassem a desvendar o paradeiro do homem. Em uma viagem ao Nordeste, há alguns anos, Eliana chegou a buscar pelo atestado de óbito de Geraldo, mas não havia registros de sua morte, o que reacendeu a esperança do filho.
Usando a tecnologia a favor
Segundo Eliana, o plano que finalmente ajudou Everaldo a encontrar o pai foi idealizado pelo filho caçula do casal, Vinícius, de 13 anos.
O adolescente propôs que eles pegassem a única foto que tinham de Geraldo, de seu casamento com a mãe do construtor, e usassem um aplicativo de computador para "limpar" a imagem.
Como o homem desaparecido tinha apenas 20 anos no registro, a cabeleireira perguntou ao filho se ele não poderia tentar envelhecer o avô, para conseguir um "retrato falado" mais próximo à realidade.
"Foi o que ele fez. Deu um zoom no rosto do avô, limpou e envelheceu. E publicamos essa foto nas redes sociais", conclui Eliana.
E a iniciativa deu resultado. Com a imagem publicada, internautas deram pistas para cinco possibilidades. Quatro delas, descartadas. Mas a que restou era a que mais chamava a atenção da família.
Conhecido pelo apelido de "Velho do Rio" e "Geraldo do Mato", o homem que vivia afastado da civilização, numa área de mata em Bertioga, no litoral de São Paulo, onde só se chega por barco podia ser, enfim, quem procuravam.
O reencontro
Everaldo partiu no sábado (15) da capital paulista, acompanhado da esposa e do filho mais velho, Vitor, 17 anos, em direção a Bertioga. Em um barco alugado, navegou o rio Itaguaré por 15 minutos, até chegar na área isolada em que o "Velho do Rio" morava.
Ao chegarem ao local, caminharam até encontrarem a cabana simples, sem água encanada ou energia elétrica, onde Geraldo mora há mais de 20 anos.
Dizendo-se compradores de caranguejo, os três engataram uma conversa com ele, fazendo algumas perguntas sobre o seu passado. Ao notarem que se tratava mesmo do Geraldo que procuravam, Eliana disse a ele que o seu esposo, com quem ele conversava, era na verdade o seu filho, Everaldo.
"Quando ele ouviu aquilo, ele arregalou os olhos, largou umas coisas que estava segurando e correu na minha direção. Me deu um abraço tão apertado, tão cheio de sentimento, que qualquer mágoa que eu tivesse se desfez ali, naquele momento. Era o primeiro abraço que eu recebia do meu pai, não tinha lembrança de outro. Eu fiquei muito emocionado", afirmou o construtor.
A família convidou Geraldo para um passeio pela cidade, onde ele cortou o cabelo, fez a barba, e ganhou um almoço. Após muita conversa, Everaldo ouviu a versão do pai sobre seu afastamento, e concluiu que o idoso não o abandonou voluntariamente.
"Agora ele concordou em passar um tempo com a gente, depois passar um tempo com nossos outros irmãos. Ele não quer deixar a cabana, foram muitos anos no isolamento. Mas só de termos essa oportunidade de conhecer a verdade, de poder ajudar meu pai a ter uma vida melhor, e podermos enterrar de vez o passado, já é um alívio e uma felicidade enorme", concluiu.
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