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Menino de 12 anos é ferido na cabeça em reintegração de posse no RJ

Glaucia acordou na madrugada com gritos e viu o filho João Gabriel, ferido na testa, coberto de sangue - Lola Ferreira/UOL
Glaucia acordou na madrugada com gritos e viu o filho João Gabriel, ferido na testa, coberto de sangue Imagem: Lola Ferreira/UOL

Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

02/07/2021 12h24

O menino João Gabriel, de 12 anos, levou oito pontos na testa após ser ferido durante uma reintegração de posse ontem em um terreno da Petrobras em Itaguaí, região metropolitana do Rio de Janeiro.

Para cumprir o mandado, a Polícia Militar utilizou balas de borracha e gás lacrimogêneo, de acordo com moradores do local. A ação policial cumpriu decisão da Justiça do Rio de Janeiro após pedido da Petrobras, dona do terreno. Procurada pelo UOL, a corporação ainda não se pronunciou sobre o caso.

Eu não sei o que o atingiu, na hora da correria, só vi ele correndo, sangrando. Saí pela mata para conseguir levar para o hospital. Eu pensei que ele tinha tomado um tiro, fiquei desesperada."
Glaucia Bruzeiro, mãe de João Gabriel

Ao lembrar do momento em que viu o rosto do filho completamente ensanguentado, os olhos de Glaucia Bruzeiro, 30 anos, se enchem de lágrimas. Ela conta que acordou por volta das 5 da manhã de ontem com muita correria e gritos no terreno.

Nem o hospital conseguiu identificar se o ferimento de João Gabriel foi causado por um tiro de borracha ou por um estilhaço. Glaucia conta que está com a recomendação de aplicar uma vacina antitetânica no filho.

Agora João Gabriel só sente dor caso toquem no ferimento. Ontem, ele diz, "doeu muito mais". Ainda assustado, o menino acompanhava a mãe na manhã de hoje em um novo ato em frente à delegacia de Itaguaí (50ª DP).

Depois da reintegração, a família foi levada com outras até uma escola do município. Lá receberam alimentos e local para dormir, mas o que eles pleiteiam mesmo é uma moradia.

Gláucia, João Gabriel e o outro filho dela moravam na ocupação desde maio deste ano. Antes, moravam em casas de amigos que se dispusessem a abrigá-los. Ela explica que viu na ocupação uma oportunidade de viver "sem depender dos outros".

Nos quase dois meses morando na ocupação, ela conseguiu construir um pequeno "barraco de lona" e abrir um negócio de venda de açaí para atender as 3.500 pessoas que moravam ali. "Eu queria minha renda para me manter e criar meus filhos honestamente."

"[Meu material] de trabalho ficou lá, não me deixaram levar. Agora eu não sei o que vai ser da gente, porque a gente já tinha nossa rotina e a expectativa de ter um lar", afirma.

Líder de movimento sem-teto é preso

O líder do movimento sem-teto Eric Vermelho foi preso na manhã de hoje. Ele acompanhava os moradores da ocupação na escola para onde foram levados após a reintegração.

A moradores, o delegado Marcos Castro, titular da 50ª DP, afirmou que Eric será autuado por associação criminosa. À reportagem, Castro limitou-se a dizer que tem 24 horas para lavrar os termos e autuá-lo após a prisão.

Eric Vermelho, líder sem-teto, foi preso enquanto acompanhava moradores após a reintegração - Lola Ferreira/UOL - Lola Ferreira/UOL
Eric Vermelho, líder sem-teto, foi preso enquanto acompanhava moradores após a reintegração
Imagem: Lola Ferreira/UOL

Moradores ficaram revoltados e caminharam cerca de 2 km até a rua General Bocaiúva, principal via da cidade.

"Ele foi preso porque se preocupava em dar dignidade para a gente. Era ele quem conseguia alimentos, remédios, roupa", disse Shirley Conceição, uma das moradoras da ocupação.

No fim da manhã de hoje, a Ordem dos Advogados do Brasil, por meio da Comissão de Direitos Humanos, estava a caminho da cidade para prestar auxílio jurídico a Eric.