PMs youtubers do Ceará são alvo de apuração ao divulgar vídeos de operações
Um grupo de policiais militares do Ceará virou alvo de uma apuração aberta pela Secretaria de Segurança Pública do estado por criar perfis em uma rede social e divulgar vídeos que mostram operações da corporação.
Dois perfis foram encontrados pela reportagem e acumulam mais de 40 mil seguidores. As postagens mostram a rotina das equipes de rua, com rondas, abordagens a suspeitos e até prisões, a partir de imagens das câmeras instaladas nas fardas dos agentes. Eles não tiveram as identidades divulgadas e ainda estão em apuração quem são os responsáveis pelos perfis.
Segundo a advogada Audrey Carvalho, especialista em direito digital, os profissionais ferem o Código Disciplinar de Conduta da PM, por usarem as imagens sem autorização e ganharem dinheiro com as publicações, que ultrapassam 130 mil visualizações. Eles recebem em dólar pelo engajamento dos vídeos, feitos com equipamento público.
O material é editado e não mostra os rostos dos suspeitos abordados.
Em nota, a SSPDS (Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social) do Ceará informou apenas que, com a Polícia Militar, abriu investigação e que "estão sendo adotadas providências para apurar os fatos".
A secretaria explicou que o inquérito tem como base a Lei nº 13.407/03, que institui o Código Disciplinar da Polícia Militar do Ceará e do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará e dispõe sobre o comportamento ético dos militares estaduais. Não foram detalhadas as possíveis punições se constatadas as irregularidades.
A reportagem também procurou a CGD (Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário), que disse ter adotado todas as providências administrativas acerca dos fatos.
Lucro em dólar
Como explica a advogada Audrey Carvalho, a política de monetização do YouTube, plataforma onde estão os perfis, exige mais de mil seguidores e paga pelo número de visualizações.
"O usuário recebe algo em torno US$ 4,5 (cerca de R$ 22) a cada mil visualizações, desde que o youtuber respeite as diretrizes de conteúdo e um número mínimo de mil inscritos", disse.
Sobre o conteúdo dos perfis dos PMs, a especialista explicou que podem ferir os critérios da plataforma. "Esse conteúdo poderia ser denunciado, porque não poderia fazer apologia à violência, por exemplo", continuou.
A reportagem buscou perfis semelhantes na mesma plataforma e constatou que a prática não é restrita ao Ceará. PMs do Espírito Santo também registram suas operações e compartilham com seguidores.
Uma das páginas oferece mais de 60 vídeos. Em um deles, com 1,6 milhão de visualizações, os agentes atendem a uma ocorrência de sequestro.
Após a publicação desta reportagem, Polícia Militar do Espírito Santo informou, em nota, que "ao tomar conhecimento do fato, encaminhou o conteúdo para a Corregedoria, que abrirá procedimento apuratório".
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