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'Criança pode estar viva', diz mãe de jovem assassinada que estava grávida

Thaysa Campos dos Santos, 23, estava grávida de oito meses - Arquivo Pessoal
Thaysa Campos dos Santos, 23, estava grávida de oito meses Imagem: Arquivo Pessoal

Daniele Dutra

Colaboração para o UOL, no Rio

06/07/2021 15h05

Desde 4 de setembro do ano passado, a família de Thaysa Campos dos Santos, 23, que estava grávida de oito meses, busca respostas. O corpo dela foi achado perto da linha do trem em Deodoro, zona oeste do Rio, uma semana após o desaparecimento. A família de Thaysa diz acreditar que a criança possa estar viva.

Laudo do IML (Instituto Médico Legal) —que veio a público nesta semana e ao qual o UOL teve acesso— aponta que não havia feto no ventre da jovem. A perícia não identificou vestígios de placenta ou cortes na barriga que pudessem indicar a retirada do feto por ato cirúrgico.

"Essa criança pode estar viva em algum lugar. Eu peço pelo amor de Deus que, se essa criança estiver viva em algum lugar, que ela seja devolvida. Eu preciso da minha neta", afirmou a mãe da vítima, a psicopedagoga Jaqueline Tavares Campos, 51.

A causa da morte da jovem ainda não foi identificada. O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital, que coletou imagens de um homem acompanhando Thaysa próximo ao local onde o corpo foi encontrado. A Polícia Civil colheu depoimentos de testemunhas para tentar identificá-lo.

Bebê pode ter nascido antes do assassinato, diz perito

"O perito não se opõe que o útero seja compatível com os de período puerperal; não foi visualizada placenta ou feto", diz laudo complementar de necropsia.

A pedido da reportagem, Marcos Camargo, presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais, analisou o documento. Para ele, o laudo não afasta a possibilidade de o bebê ter nascido antes de Thaysa ser morta.

"O laudo diz que o útero pode ser compatível com estágio puerperal. Não diz que é, mas também não descarta a possibilidade. Por esse laudo, não dá para descartar que o feto tenha sido retirado antes do exame necroscópico. O útero estava vazio. O laudo não diz que tinha um feto, mas também não descarta possibilidade dessa moça ter dado à luz antes de ser morta", explicou.

Segundo Camargo, se Thaysa tivesse sido morta sem dar à luz, a perícia com certeza teria identificado o feto. Com isso, o perito vê a possibilidade de o bebê ter sido roubado.

"Se ela estava grávida e foi a óbito com o bebê ali, isso seria evidentemente relatado na necropsia. Considerando esse dado e o laudo necroscópico, a questão está parecendo que a criança foi roubada. Tudo indica que alguém esperou ela dar à luz, mataram e levaram a criança."

"Agora fica ainda mais importante saber a causa morte, por isso tem que aguardar o resultado do laboratório, para saber se foi envenenada ou se houve algum outro tipo de problema."

O corpo foi encontrado uma semana após o crime já em estado de putrefação. "Quando eu fui reconhecer o corpo da minha filha, eu não tive condições. Mas eu descobri que ela tinha parido aquela criança. No local do crime não tinha nada, nenhum vestígio."

Câmera mostra homem levando Thaysa para matagal

Mãe de duas crianças, a manicure era solteira e estava em sua terceira gestação. O pai do bebê que ela esperava era casado. Thaysa morava em Deodoro com uma amiga e, na noite do desaparecimento, tinha dito à irmã que buscaria uma bolsa de bebê, por volta das 22h, mas não voltou para casa.

Por meio de imagens de câmeras de segurança da estação de trem de Deodoro, a polícia identificou Thaysa sendo abordada por um homem pelas costas nas imediações da estação.

"No vídeo que a polícia mostrou à família, é possível ver um homem chegando por trás dela e levando para dentro de um mato. Uma semana depois, ela foi encontrada nesse mesmo local e com a bolsa de maternidade por baixo do corpo. Minha filha foi morta a poucos metros de casa", afirmou Jaqueline.

O homem —cuja identidade não foi revelada— ainda não foi preso.

O celular de Thaysa foi roubado e vendido em Santa Cruz da Serra, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, a 35 km do local onde o corpo foi encontrado. Segundo a mãe de Thaysa, a mulher que comprou o celular disse à polícia que o homem das imagens é o mesmo que vendeu o celular para ela.

Jaqueline não chegou a conhecer o pai do bebê que sua filha esperava e, mesmo após a morte e o desaparecimento da neta, em nenhum momento esse homem entrou em contato com a família.

"Quando ela disse que estava grávida, a Thaysa falou que nem sabia quem era o pai da criança. Uma semana antes do desaparecimento, ela me mostrou uma foto. Até o momento, ele não procurou a família."

"A mulher que vivia com ele chegou a ameaçar a Thaysa dizendo que essa criança não viria ao mundo. Minha filha estava com medo, mas não tinha noção do que estava por vir. Ela chegou a pedir para a tia comprar uma Nossa Senhora", disse Jaqueline.

Segundo ela, o casal também foi ouvido pela polícia.

Uma semana antes da morte da filha, Jaqueline, que mora em Brasília, viajou para o Rio.

"Ela não falou pelo que estava passando, mas estava muito nervosa, apreensiva. Quando eu e a avó perguntamos se estava acontecendo alguma coisa, ela chegou a desmaiar. Até pensei que ela não estivesse comendo direito, mas não, minha filha estava com muito medo", afirmou a mãe.