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Preso ex-vereador Girão por suspeita de crime com acusado de matar Marielle

Leonardo Martins e Daniele Dutra

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, no Rio

30/07/2021 08h53Atualizada em 30/07/2021 15h31

O ex-vereador do Rio Cristiano Girão foi preso preventivamente na manhã de hoje em São Paulo, numa operação da Polícia Civil do Rio que investiga o envolvimento dele na morte do miliciano André Henrique da Silva Souza, conhecido como Zóio, e da esposa dele, em 2014.

Os policiais também cumpriram mandado de prisão contra o policial militar reformado Ronnie Lessa, que já está preso acusado de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. Também são cumpridos hoje mandados de busca e apreensão em 14 endereços ligados a Girão e a Lessa em São Paulo e no Rio.

Segundo as investigações, Girão é suspeito de ter contratado Ronnie Lessa para matar o miliciano rival e a esposa. Os dois foram mortos dentro de um carro na comunidade da Gardênia Azul, na zona oeste do Rio. A polícia diz que a motivação seria a disputa pelo controle de uma milícia na região.

Nesta investigação em específico, ficou sim comprovado um vínculo entre Lessa e Girão
Ana Carolina Lemos, delegada da Delegacia de Homicídios da Capital

Girão foi preso em decorrência de denúncia apresentada pelo MP-RJ (Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro) por meio da força-tarefa do Caso Marielle, que investiga o assassinato da vereadora e do motorista Anderson Gomes.

Girão dormia em loja para despistar polícia

A polícia do Rio afirma que Girão foi preso no bairro do Pari, na região central da capital paulista, onde ele morava. Ele dormia em uma loja da região e, ao sair de carro na madrugada de hoje, foi surpreendido pelos agentes, ainda segundo a polícia.

"Segundo as investigações, ele passou a adotar tal rotina depois da veiculação de notícia que apontava que havia um pedido de prisão contra ele", diz a Polícia Civil em nota.

O advogado Zoser Hardman disse que Girão nega qualquer tipo de envolvimento com a milícia do Rio ou com Ronnie Lessa.

"Ainda não conheço os detalhes do processo, soube da prisão pela mídia. Mas te adianto que causa estranheza uma prisão ser decretada por um fato ocorrido há sete anos. Agora preciso ter acesso aos autos para me manifestar sobre o mérito da acusação. Vou impetrar um habeas corpus para que Cristiano possa responder ao processo em liberdade", disse o defensor.

Condenação e negócios com milícia

O ex-vereador já foi apontado por chefiar uma milícia que extorquia dinheiro de comerciantes e moradores da Gardênia Azul. Ele foi indiciado pela CPI das Milícias da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

Girão cumpriu pena após ser condenado a 14 anos e seis meses de prisão por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro em 2009. Segundo a condenação, ele usou a fortuna oriunda dos negócios com a milícia para comprar imóveis na zona oeste carioca entre 2003 e 2007.

Em 2015, passou a ter direito a liberdade condicional, mas foi proibido pela Justiça Federal de ir ao Rio de Janeiro por pelo menos um ano.

No Twitter, o deputado federal Marcelo Freixo (PSB) se manifestou sobre a prisão e disse que o crime supostamente cometido por Girão e Lessa mostra que os dois são "parceiro em atividades criminosas". "Essa descoberta pode audar a entender quem mandou matar Marielle e qual a motivação."

De acordo com reportagem da revista Veja de 17 de julho, Júlia Lotufo, viúva do miliciano Adriano da Nóbrega — morto em fevereiro de 2020 — apontou que a milícia do Gardênia Azul procurou Nóbrega para discutir um plano para assassinar Marielle. Não há informações sobre quem seriam esses interlocutores.

As declarações de Júlia fariam parte de uma discussão para firmar acordo de delação premiada para relaxar suas medidas de prisão.