Biólogo negro acusa comissário da GOL de associar carrapatos ao seu cabelo
O biólogo Bruno Henrique Dias Gomes, 25, disse ter sido vítima de racismo praticado por um comissário de bordo em um voo da companhia aérea GOL. O relato foi feito pelo próprio cliente em sua página do Facebook.
Bruno conta estava viajando para fazer uma prova de concurso público. No voo de volta, no dia 7 de junho, embarcou de Marabá (PA) com destino a Brasília, onde mora.
"Dentro do voo caiu um carrapato no meu celular, que acabou caindo no chão. Comuniquei ao comissário de bordo, mas ele disse que não era possível. A pessoa que estava ao meu lado também viu e achou estranho. Minutos depois caiu outro nela", relatou.
O biólogo conta que chamou novamente o comissário. Foi quando ele ouviu a fala ofensiva. "Ele disse que isso poderia ter vindo em bagagem ou até mesmo ter caído do meu cabelo", disse.
Ao UOL, ele explica que não teve, na hora, a dimensão do que ocorreu.
No momento eu fiquei perplexo com a situação de cair o carrapato sobre o meu telefone. No momento não caiu a ficha da situação que eu estava sofrendo. Após entender, me senti um lixo, uma pessoa porca, sem higiene."
Ele conta que, no momento, ninguém chegou a defendê-lo. "Estávamos ali, e foi uma fala tão natural [do comissário] que no momento ninguém percebeu nada. Tava um burburinho das pessoas querendo localizar os demais carrapatos", relata.
Ao descer da aeronave, Bruno conta que chegou a contatar um atendente de solo, que teria dito que ele poderia registrar uma reclamação, mas que "não dava em nada".
Reclamações
Em casa, ele diz que fez a reclamação no site da empresa e em um portal de direito do consumidor, mas sem resposta.
"Já na reclamação do 'consumidor.gov' ao menos eles leram e entraram em contato, oferecendo R$ 500 para que eu tivesse uma nova experiência com a Gol. Disse que não era esse o foco, mas sim que a equipe seja instruída melhor. Ao conversar com uma pessoa da família do direito, esta disse que foi sim um constrangimento e racismo, me orientando a buscar meus direitos", conta.
O biólogo explica que vai processar a companhia. "Irei abrir um processo na vara cível por danos e outro na vara criminal pelo constrangimento ilegal e intolerância racial", relata.
Ao UOL, a GOL confirmou que recebeu relatos de carrapatos durante o voo G3 1884 e disse acreditar que "os insetos possam ter sido transportados acidentalmente em alguma mala de mão."
"Todas as aeronaves da Companhia passam por procedimentos diários e rigorosos de sanitização, e a dedetização das aeronaves é realizada periodicamente, em curtos intervalos de tempo, como parte da rotina mandatória de manutenção", garante.
A companhia também confirma que ofereceu uma forma de compensação ao biólogo "para que ele tenha uma nova oportunidade e experiência em voar com a GOL". O crédito de R$ 500 está disponibilizado para uso até 31 de julho de 2022.
Sobre a suposta atitude racista do comissário, a GOL alega que "não compactua com quaisquer atitudes discriminatórias, preza pelo respeito e pela valorização das pessoas" e que "vai apurar o ocorrido."
Racismo x injúria racial
A Lei de Racismo, de 1989, engloba "os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional". O crime ocorre quando há uma discriminação generalizada contra um coletivo de pessoas. Exemplo disso seria impedir um grupo de acessar um local em decorrência da sua raça, etnia ou religião.
O autor de crime de racismo pode ter uma punição de 1 a 5 anos de prisão. Trata-se de crime inafiançável e não prescreve. Ou seja: no caso de quem está sendo julgado, não é possível pagar fiança; para a vítima, não há prazo para denunciar.
Já a injúria racial consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem a fim de atacar a dignidade de alguém de forma individual. Um exemplo de injúria racial é xingar um negro de forma pejorativa utilizando uma palavra relacionada à raça.
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