Após emoji de banana, advogada vira ré por injúria e recebe recado de juiz
A advogada Isabela Bueno de Sousa, 49, que atua em Brasília (DF), virou ré em uma ação de injúria racial após enviar emojis de banana a uma colega de profissão negra, que viu no gesto uma ofensa racista. Além de responder à ação judicial, ela teve negado o pedido para o processo correr em segredo de Justiça.
Na sua decisão, divulgada na última quinta (19), o juiz Wellington da Silva Medeiros, do TJ-DFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios) afirmou que a conduta de advogados não deve ser tratada em segredo, já que a própria classe deve ter conhecimento de condutas contrárias à Constituição Federal. "A conduta desviante imputada ao advogado pode comprometer, também, a imagem da própria classe", ponderou.
A defesa da ré também solicitou que sua foto fosse retirada de uma reportagem publicada por um site de notícias, alegando temer "pela segurança e integridade física, bem como busca evitar prejuízos de ordem moral". Este pedido também foi negado.
A denúncia contra Isabela foi apresentada pela advogada Thayrane Evangelista, 31. A Polícia Civil abriu um processo de inquérito, que foi analisado pelo MP-DFT (Ministério Público do Distrito Federal e Território), que denunciou Isabela ao TJ-DFT e pediu indenização no valor de R$ 6 mil para "reparação dos danos causados" pela injúria racial.
O caso
A cena levada à Justiça ocorreu em 11 de janeiro um grupo de advogados do DF no WhatsApp. Por lá, os profissionais costumavam conversar sobre os meandros da profissão. Em um desses bate-papos, Thayrane enviou uma mensagem, respondida por Isabela com um emoji de banana. A partir daí, questionou a motivação do envio da figura.
"Reserva de pensamento. Pensei alto, sorry [desculpa em inglês]", escreveu Isabela, em resposta ao questionamento.
Thayrane explica que não conhecia Isabela. Também não participava da conversa e só entrou no grupo para responder outra pessoa. Logo em seguida, a ré mandou os emojis de banana. Thayrane afirma que no momento teve uma "sensação ruim" e ressalta que historicamente as bananas são usadas para insultar pessoas negras, chamadas pejorativamente de macacos.
"Há diversas reportagens sobre o uso da banana de forma racista com jogadores de futebol, jornalistas, ou qualquer pessoa preta", diz.
No grupo, Thayrane seguiu a conversa alertando a colega de profissão que injúria racial é "ofender alguém com base em sua raça, cor, etnia, religião, idade ou deficiência".
Em resposta, Isabela tentou justificou o uso dos emojis de banana. Alegou que são referências a pessoas "sem personalidade". "Banana é a fruta que mais gosto, mas ela representa pessoas sem personalidade. Acho fácil de entender", respondeu na ocasião.
Ao UOL, Isabela afirma que tem a "consciência tranquila" e diz que não cometeu crime de racismo e que esta sendo vítima de um "linchamento virtual". Para ela, a acusação foge do "contexto real".
"Tenho uma filha negra que sustento sozinha. No emoji de banana eu sequer marquei a menina [Thayrane], não a mencionei. Acredito na Justiça e na justiça divina. Estão me linchando publicamente por conta de algo que ainda não fui julgada. Vou me manifestar nos autos", diz.
Primeiro passo
A advogada Thayrane conta que precisou buscar apoio psicológico e fazer uso de medicamentos por conta da ofensa. Ela ressalta que já passou por diversas situações de racismo na vida, mas que essa foi a primeira vez em que teve coragem de denunciar.
"Como é um grupo de advogados sempre conversamos sobre temas jurídicos, nunca ofendemos ninguém. Fiquei surpresa, não esperava isso de uma advogada", diz.
Ao UOL, ela diz estar aliviada com a decisão da Justiça de tornar ré a acusada, apesar de o processo ainda estar na fase inicial.
"Ainda é um caminho longo, são vários passos até a sentença. Por enquanto me sinto bem, não é coisa da minha cabeça, houve injúria. O juiz entendeu que houve injúria, por isso vão investigar o que aconteceu. Esses primeiros passos já são uma grande vitória", diz.
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