Segurança de atos pró e contra Bolsonaro no dia 7 pressiona governo de SP
Apesar do posicionamento contrário do governo de São Paulo, movimentos sociais alinhados à esquerda confirmaram manifestação contra Jair Bolsonaro (sem partido) no Vale do Anhangabaú, centro da capital, para o dia 7 de setembro, mesma data em que apoiadores do presidente vão às ruas defendê-lo na avenida Paulista.
Apenas 4 quilômetros vão separar os dois atos programados para a parte da tarde da próxima terça-feira, o que tem preocupado autoridades e especialistas pelo risco de confronto entre os grupos — em especial na região da rua da Consolação, que liga ambos os locais.
Não será a primeira vez em que duas manifestações antagônicas acontecem no mesmo dia, mas a tensão desta vez é maior diante do risco de pessoas estarem armadas no ato a favor de Bolsonaro.
Policiais militares da reserva e que estarão de folga têm se organizado para comparecer à manifestação, que defende pautas antidemocráticas como o fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal) e a intervenção militar. O próprio João Doria (PSDB), em reunião com outros governadores, ressaltou que a "milícia bolsonarista" estava incentivando pessoas a irem armadas às ruas no dia sete.
Doria afirma ter seguido um sistema de revezamento que permitiu que a Paulista fosse reservada para os apoiadores do presidente, mas se posiciona como contrário à realização de outro ato contra o presidente na mesma data, mesmo que em local diferente.
A determinação da Secretaria da Segurança Pública foi não autorizar atos antagônicos no mesmo dia -- a meu ver, acertadamente. Não faz o menor sentido. Nós já estamos vivendo um clima de tensão horroroso, com um presidente negacionista, autoritário, que flerta com a ditadura militar."
João Doria
Em agenda pública na manhã de hoje em Cotia, Doria defendeu nova data para protestos da oposição. "Estabeleceu-se que o dia 7 é para os que defendem Bolsonaro — é difícil defender Bolsonaro, mas enfim. E o dia 12 é para os que são contra. Democracia é isso, é o direito e o respeito às manifestações. E nós respeitamos, mas com segurança e protegendo a vida das pessoas", concluiu o governador.
Organizado por frentes e movimentos sociais, o movimento Fora Bolsonaro rechaça o posicionamento do mandatário paulista. Em reunião, o grupo optou por não entrar na briga pela avenida Paulista, mas confirmou que realizará um ato no mesmo dia no Vale do Anhangabaú.
A coordenação do Ato #ForaBolsonaro e do Grito dos Excluídos reitera que desconhece e que nunca esteve em discussão, em momento algum, a agenda do dia 12 de setembro divulgada pelo governador João Doria. Tal comentário só deixa evidente a movimentação política dele em proveito próprio."
Nota da organização do Grito dos Excluídos
O principal argumento do grupo é que não é atribuição do estado decidir quando se pode ou não realizar uma manifestação. Além disso, os organizadores afirmam que conversaram com representantes da prefeitura de São Paulo, que não teriam questionado a realização da manifestação.
Ainda segundo organizadores do evento, se houvesse sistema de revezamento, a vez seria dos movimentos sociais de oposição, e não dos apoiadores de Bolsonaro. Segundo eles, os manifestantes a favor de Bolsonaro realizaram um ato no dia 1º de agosto, o que já daria a vez à esquerda pelo direito de ocupar a avenida.
Já a sugestão de realizar a manifestação no dia 12 de setembro também foi rebatida, visto que o protesto neste dia será contra Bolsonaro, mas organizado por movimentos de espectro político mais à direita, como o MBL (Movimento Brasil Livre) e o Vem Pra Rua.
"[A posição de Doria] contraria inclusive os anseios de grande parcela da sociedade, que desaprova a situação social e econômica que o país e o Estado de São Paulo atravessam nesses tempos de crise econômica e de pandemia", argumentou a organização em nota.
No dia do ato, a ideia dos manifestantes é ficar apenas no Vale do Anhangabaú, sem caminhar em direção à Paulista ou outra localidade, o que reduziria a chance de confronto entre os dois grupos.
"A resposta [ao governador] é que vai ter o ato no Anhangabaú. Nós fizemos uma reunião ontem com diversas entidades e decidimos que faremos. Temos esse direito e o dever de comunicar. Esperamos que o governador cumpra com o dever dele [garantindo segurança]", afirmou Juliana Donato, dirigente do PSOL e da Frente Povo Sem Medo, em entrevista coletiva realizada ontem no Sindicato dos Bancários, no centro de São Paulo.
O presidente do CMP, Raimundo Oliveira, afirmou que a PM já foi comunicada da manifestação. "Nós fizemos as tratativas com prefeitura de São Paulo e não há objeção por parte da prefeitura. Assumimos o compromisso e comunicamos a PM da realização do ato no dia 7", disse.
Apesar de o próprio governador tucano negar a realização do ato contra Bolsonaro, o diretório municipal do PSDB em São Paulo confirmou sua participação no dia.
Ao UOL, o presidente municipal, Fernando Alfredo, afirmou que ainda não conversou com o governador, mas confirmou a participação dos tucanos paulistanos na manifestação.
O Diretório Municipal [do PSDB] fechou questão para participar de todos os atos pelo fora Bolsonaro e a favor da vida e da democracia."
Fernando Alfredo, presidente municipal do PSDB
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública se opôs à realização do ato: "A Secretaria da Segurança Pública, em razão do elevado potencial de conflitos entre grupos antagônicos e o risco à integridade física de manifestantes e populares, se posiciona contrariamente à realização de atos simultâneos na cidade de São Paulo no próximo dia 7 de setembro. A orientação é que as manifestações sejam realizadas alternadamente nos próximos dias 7 e 12 de setembro. As forças policiais atuarão em ambas as datas para garantir a segurança e o direito de todos".
O UOL questionou o governo do estado e a secretaria da Segurança se a PM irá fazer a proteção dos dois eventos ao mesmo tempo, já que o grupo contra Bolsonaro afirma que não irá remarcar a data. A reportagem será atualizada caso haja uma resposta.
A reportagem também aguarda posicionamento desde ontem da prefeitura de São Paulo e do prefeito Ricardo Nunes (MDB). O chefe da casa-civil da gestão municipal, Ricardo Tripoli, também foi procurado, mas não respondeu até a publicação desta reportagem.
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