SP: Bolsonarismo na PM acende alerta para monitoramento de atos no dia 7
Em postagens no Facebook, o coronel Aleksander Lacerda, da Polícia Militar de São Paulo, atacou seu chefe e governador do estado, João Doria (PSDB), e convocou seus colegas da rede social a participarem de uma manifestação contra o STF (Supremo Tribunal Federal) e em defesa de Jair Bolsonaro (sem partido) no próximo dia 7 de setembro. O caso repercutiu e o oficial foi afastado do cargo.
O episódio jogou luz, novamente, ao apelo que o presidente tem entre os policiais militares, tema que não é novidade dentro da corporação e do governo estadual paulista. O caso também mostrou como os agentes de segurança estariam envolvidos com a próxima manifestação a favor de Bolsonaro e com motivações antidemocráticas. Isso elevou o nível de atenção das forças de segurança para o monitoramento do ato.
Nos bastidores, os movimentos das polícias Civil e Militar já começaram. Há pelo menos uma semana, um grupo de inteligência cibernética da Polícia Civil de São Paulo está mobilizado para investigar o perfil dos organizadores desses atos nas redes sociais.
Além de monitorar possíveis apoios à posse de armamentos durante os protestos em apoio ao governo federal, os trabalhos focam também em levantar informações de possíveis confrontos com manifestantes de oposição. As informações são repassadas ao comando-geral da PM, que ficará encarregado de elaborar um plano de contingência ao ato.
Usando as redes sociais como um termômetro da participação dos policiais, espera-se amplo apoio da classe. Vídeos pedindo comparecimento à manifestação circulam em grupos de WhatsApp e páginas militares no Facebook.
Um levantamento do UOL apontou que bolsonaristas estão utilizando a punição ao coronel Aleksander Lacerda para inflamar a militância a comparecerem à manifestação convocada pelo presidente Jair Bolsonaro.
Esse suporte foi externado publicamente, por exemplo, por um ex-comandante da Rota, batalhão especial da PM, que chegou até a marcar um local de encontro para os PMs que comparecessem à manifestação, em frente a um batalhão da Tropa de Choque, no centro da capital.
O deputado e PM da reserva Coronel Tadeu (PSL) disse que PMs do interior estavam organizando ônibus para vir protestar na cidade.
O contexto preocupa no estado porque deve colocar de frente PMs em serviço — responsáveis por monitorar e garantir a segurança do ato —, e oficiais de folga e da reserva. Como grande parte dos policiais costumam andar armados em folga, o medo de tumulto com armas de fogo ao alcance das mãos tem pontuado falas de autoridades e especialistas em segurança pública.
O receio foi externado pelo próprio Doria que, em audiência com outros governadores, disse que os militantes do "movimento bolsonarista" estão sendo estimulados a sair armados no dia 7 de setembro. Para o governador, o momento é "gravíssimo".
O Ministério Público de São Paulo também se movimentou e pediu ações da Corregedoria da PM diante do ato do dia 7. O órgão, em nota, pede "eventuais apurações de inteligência para detectar a participação de PMs da ativa nos atos convocados" e se estão programadas ações para "impedir que isso ocorra, bem como a utilização de armas de fogo da corporação nessas ocasiões".
O que tranquiliza os membros do governo estadual é que o atual comandante-geral da PM, Fernando Alencar de Medeiros, é conhecido por ter boa liderança e autoridade diante da tropa. Avesso a declarações públicas, o tenente-coronel assumiu a PM em março de 2020.
Segundo a secretaria da Segurança Pública, em caso de descumprimento às leis pelos policiais que eventualmente participem da manifestação, haverá investigação e punição.
"Os integrantes da Polícia Militar do Estado de São Paulo, compromissados com os valores e deveres da instituição e respeito às leis, são responsáveis pelos seus atos e opiniões quando deles se afastam. Toda e qualquer denúncia de descumprimento das normas vigentes são rigorosamente apuradas e punidas, se confirmadas. As forças policiais atuam diuturnamente para garantir os direitos e a segurança de todos", disse a pasta em nota enviada ao UOL.
"Policiar" policiais
Na opinião do tenente-coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo Adilson Paes de Souza, uma nova estratégia deveria ser elaborada para a cobertura da manifestação.
"Deve existir receio no governo do estado e não só em São Paulo. A influência do bolsonarismo nas policiais militares é uma constante na cabeça das autoridades, gera preocupação. Você tem pessoas que podem estar armadas em uma manifestação e, em última análise em caso de conflito, pode gerar ocasiões em que você terá um policial militar contra outro policial militar. Vai requerer muito treinamento dos superiores com os profissionais envolvidos", afirmou.
PMs aposentados e em folga estão sendo convocados para defender o presidente e para defender as pautas antidemocráticas. Fatos graves podem acontecer."
Adilson Paes de Souza, tenente-coronel aposentado da PM
O pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor de Gestão Pública na FGV (Fundação Getúlio Vargas) Rafael Alcadipani concorda com o coronel. "Eu não acredito que a Polícia Militar de São Paulo possa atentar contra a ordem. PM e Polícia Civil têm que trabalhar integradas nesse tipo de situação, que tem extremismo", afirmou.
A PM precisa ter uma linha mais dura com relação aos seus extremistas internos, muito cuidado para que as pessoas que são extremistas e estão dentro da PM não cometam nenhuma loucura."
Rafael Alcadipani, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Já o presidente da Feneme (Federação Nacional de Entidades de Oficiais Militares Estaduais) e coronel da reserva da PM, Elias Miler, afasta a possibilidade de confronto e diz que a tensão se criou por disputa política e eleitoral entre Bolsonaro e Doria.
"Entendo que a PM deve fazer o planejamento para garantir o legítimo direito constitucional de manifestação. O alinhamento [de PMs e Bolsonaro] é natural pela identidade de valores militares. Sinceramente, não vejo perigo, pois quem garante a segurança e a governabilidade do país são as PMs", avalia.
"O país está maduro, e não vejo risco institucional e, sim, um jogo político pré-eleitoral", concluiu.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.