'Quem não está investindo na favela está perdendo dinheiro', diz ativista
Para lembrar os 100 anos da favela de Paraisópolis, que fica na zona sul de São Paulo, o UOL Debate de hoje reuniu líderes comunitários para exibirem um panorama das comunidades do país, principalmente em tempos de pandemia do novo coronavírus. Para além das necessidades dessas regiões, eles destacaram o poder que elas têm, principalmente na economia brasileira.
"As favelas no Brasil movimentam R$ 168 bilhões por ano. Aquele que não está investindo na favela está perdendo dinheiro. Montamos um bloco de líderes que fatura R$ 7 bilhões por ano, e percebemos que ao desenvolver nosso comércio, estamos desenvolvendo nosso bairro, gerando empregos e oportunidades", diz Gilson Rodrigues, líder comunitário de Paraisópolis e presidente da ONG G10 das Favelas.
Morador de Paraisópolis, o ativista afirma que a crise sanitária no Brasil agravou a situação econômica dos brasileiros. Ele diz que a melhor forma de ajudar o país neste momento é "colocando dinheiro no bolso da população".
Paraisópolis movimenta por ano R$ 738 milhões em 14 mil pontos comerciais. Podemos fazer muito mais, investindo no e-commerce, em empreendedorismo e desbloqueando CEPs
Gilson Rodrigues
Com o G10 das Favelas, Gilson conseguiu reunir líderes e empreendedores que conseguiram arrecadar e distribuir milhares de kits de higiene e cestas básicas durante a pandemia. Ele afirma, no entanto, que as doações diminuíram.
"O novo normal, de que tanto falam, tem representado menos comida na mesa e 14 milhões de brasileiros desempregados que estão lotando as filas por cestas básicas, marmitas, e lotando as ruas. Quando você olha para o cenário das ruas hoje em dia, das pessoas que estão indo para as ruas, são pessoas de comunidade, que perderam seu emprego, não tem como pagar aluguel e estão indo com a família inteira para as ruas", diz Gilson.
O líder comunitário afirma que atualmente 55% dos brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar, sem tem o que comer. Para ele, a realidade da fome nas comunidades do país não é de hoje.
Estamos com muita dificuldade de manter o trabalho, porque as pessoas pararam de ajudar. Esse novo normal tem representado dois Brasis: um Brasil que pode ter acesso ao home office e outro que está passando fome. Não é normal que a gente viva uma situação de fome
Gilson Rodrigues
Potências
Presidente do Fazendinhando, a arquiteta e ativista urbana Ester Carro também engrossa o coro do presidente do G10 das Favelas ao dizer que as comunidades do país têm muita potência. Ela ainda fala dos preconceitos que os moradores dessas regiões enfrentam no dia a dia.
"Quando a gente fala de potência, existe muito dentro das comunidades. Tem gente que não enxerga e não percebe, e só olha para os moradores que vivem dentro das comunidades como traficantes, como marginais, que praticam atividades ilícitas", diz Estar.
Moradora do Jardim Colombo, na zona oeste paulistana, a arquiteta afirma que as histórias de sucesso que permeiam os moradores das favelas do país são invisibilizadas. Ela diz que dentro das comunidades existem muitos sonhadores e pessoas que lutam todo dia pelos seus direitos.
Infelizmente, quando as pessoas assistem televisão, enxergam o pior. Mas não é só esse lado que existe na nossa comunidade. Há muita potência de transformação, na cultura, na voz de cada morador, em cada sonho, em cada construção. Cada área dentro da comunidade pode impactar e agir de uma maneira integrada e não segregada como vemos
Ester Carro
13 milhões de pessoas
Presidente da Cufa (Central Única das Favelas) São Paulo, Marcivan Barreto diz que as favelas representam um mercado consumidor muito grande no Brasil. Levantamento dos institutos Data Favela e Locomotiva mostra que em 2019 o país tinha 13 milhões de pessoas morando em comunidades.
"As favelas hoje representam um mercado muito grande. Estamos falando de 13 milhões de pessoas, de um valor que é muito maior do que é gerado em mais de 20 estados da federação", afirma Marcivan.
Morador de Heliópolis, na zona sul de São Paulo, o líder comunitário diz que as favelas representam muito mais do que o assistencialismo. Para ele, o morador das comunidades pode ocupar o espaço que quiser na sociedade brasileira.
A gente tem que enfrentar as dificuldades e mostrar para o asfalto, principalmente para as empresas, o potencial que existe dentro das favelas brasileiras
Marcivan Barreto
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