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Copacabana: Sauna gay sobrevive à pandemia, mas dono prevê sucumbir a apps

Palco da sauna gay Point 202 em Copacabana - Reprodução
Palco da sauna gay Point 202 em Copacabana Imagem: Reprodução

André Aram

Colaboração para o UOL, no Rio

30/10/2021 04h00

Em uma casa branca de três andares, em uma das ruas mais conhecidas de Copacabana, funciona há 18 anos o Point 202. Nos tempos áureos, a sauna gay ostentava longas filas, mas isso ficou no passado. "O futuro das saunas é acabar", diz, taxativo, o proprietário Júnior Barbosa.

A sauna sobreviveu à pandemia do coronavírus —que fechou definitivamente outros "inferninhos" da zona sul carioca—, mas na avaliação do empresário a casa não deve resistir mesmo é aos aplicativos de pegação.

Barbosa, 45, que já atuou como camelô e garoto de programa, abriu sua primeira sauna aos 19 anos em meados dos anos 1990 e, em 2003, fundou a Point 202 —pouco tempo, manteve apenas a última.

Segundo ele, havia na época uma máfia das saunas, em que uma dominava o espaço de Copacabana, "se abrisse outra, eles te matavam, e logo sofri várias ameaças por anos". Durante quase uma década, Barbosa disse que andou com seguranças e carro blindado.

Ele conta que as ameaças só cessaram após a sauna concorrente fechar. Hoje Barbosa mantém apenas uma das casas —com 700 m², o lugar tem ambientes à meia-luz, sofás, palco, bares, duas saunas e suítes, onde rapazes circulam usando apenas uma toalha branca.

Júnior Barbosa, proprietário de sauna gay em Copacabana, com os acompanhantes que trabalham na casa - André Aram/UOL - André Aram/UOL
Júnior Barbosa, proprietário de sauna gay em Copacabana, com os acompanhantes que trabalham na casa
Imagem: André Aram/UOL

Barbosa explica que os boys, como são chamados os acompanhantes, pagam R$ 20 a entrada e que o valor do programa fica para eles (a entrada para clientes custa R$ 60).

No dia em que a reportagem esteve na sauna, havia em torno de 50 boys e um número um pouco maior de visitantes —homens acima dos 45 anos, muitos deles turistas. No palco, drag queens e strippers se revezavam nas performances.

O empresário, que trocou Cedro (CE) por São Paulo aos 13 anos e chegou ao Rio três anos depois, não enxerga vida longa para o negócio. Acredita que casas do tipo vão acabar no médio prazo —Barbosa estima hoje queda de até 70% do público em razão de sites e apps.

"Quando a internet chegou, tudo acabou. A internet deixou tudo muito fácil. Tem esses aplicativos... As boates grandes faliram (...) Me tirou o sono. No início dos anos 2000, estava ainda muito bom. Antes da internet, era uma coisa de louco, eu tinha dois caixas, era fila pra entrar, fila pra sair."

A situação se complicou ainda mais com a pandemia. Barbosa, que conta ter feito um investimento alto em uma boate no Nordeste meses antes de a covid-19 surgir, mas viu seus dois empreendimentos fecharem —somente o de Copacabana reabriu.

"[Após a reabertura] Reduzi os funcionários pela metade. Temos agora uns dez. Dá tristeza dispensar funcionário."

Apesar das projeções pessimistas, Barbosa —que se identifica como gay— gostaria que o filho de 21 anos seguisse seu legado. O rapaz atua hoje na recepção da sauna.

O gerente da sauna Paulo César de Monteiro, 58, compara, saudoso, o movimento de 2000 e o momento atual. "Acho que as saunas vão deixar de existir. Vai se chamar um rapaz como se pede uma comida, não é desmerecendo ninguém, mas é a tecnologia", lamenta.