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"Observe o mar", diz especialista após 2 ataques de tubarão em Ubatuba (SP)

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

19/11/2021 12h53

Os dois ataques de tubarão ocorridos em menos de 15 dias em Ubatuba, no litoral de São Paulo, apavoraram turistas e moradores do município. As causas para o aparecimento dos tubarões na praia —e para os ataques— ainda não podem ser confirmadas cientificamente, mas o fato é que os dois incidentes ocorreram durante feriados prolongados, quando mais pessoas procuram as praias para o lazer.

O aumento demográfico humano é determinante em acidentes com tubarões, segundo pesquisadores. Ou seja: quanto mais pessoas na água, maior é a probabilidade de se depararem com animais marinhos, entre eles os tubarões. Porém, a motivação dos ataques ocorridos em Ubatuba ainda é um mistério.

"A motivação do ataque, o que levou os tubarões a atacarem essas duas pessoas ainda é impossível de confirmar", diz o biólogo e especialista em tubarões Otto Bismarck Fazzano Gadig, professor doutor da Unesp (Universidade Estadual Paulista).

"Se existe um fator maior de médio ou longo prazo, média ou larga escala, como mudanças climáticas, mudanças na temperatura do oceano, alterações das correntes marítimas...Isso tudo não dá para responder agora. Não se descarta, mas são coisas impossíveis de se responder agora", completa o pesquisador.

Dois ataques em pouco mais de dez dias

Há mais de 30 anos Ubatuba não registrava um incidente com tubarões. Antes das novas ocorrências, o último registrado tinha envolvido uma menina que pescava com o pai. Ela estava com o braço dentro d'água quando um tubarão esbarrou, provocando um ferimento leve.

Neste ano, em 3 de novembro, um turista francês foi atingido por um tubarão de pequeno ou médio porte, na praia do Lamberto. Foi o suficiente para que especialistas começassem um estado de observação na região.

O alerta se intensificou no último domingo, dia 14, quando uma idosa de 79 anos, foi mordida por um tubarão. Uma análise preliminar indicou que o acidente foi provocado por um tubarão de médio ou grande porte —possivelmente um tubarão-tigre ou cabeça-chata.

Ambas as espécies foram responsáveis pela autoria dos 68 ataques registrados de 1992 a 2021 nas praias do Recife, em Pernambuco.

Um tubarão-tigre, quando adulto, tem em média seis metros de comprimento. Mas pode atingir até nove metros.

O consenso entre os cientistas é que, quanto mais gente na água, maior a probabilidade de encontros com esses animais. Afinal, o mar é o lar deles e somos nós, humanos, que invadimos esse espaço. E, muitas vezes, com comportamentos que atraem os predadores.

"Não foi à toa que os dois acidentes em Ubatuba ocorreram cada um em um feriado diferente. Um no dia 3, Finados, e outro no dia 14, Proclamação da República, quando foi registrado um fluxo maior de pessoas no litoral. E essa é uma tendência verificada no mundo inteiro", avalia Gadig, da Unesp.

O tubarão-tigre pertence à família dos Carcharhinidae de águas tropicais e subtropicais. É encontrado em diferentes ambientes, e muito comum no Nordeste do Brasil. Ele ocupa o terceiro lugar no envolvimento com fatalidades humanas, ultrapassado pelo tubarão-branco (segundo) e pelo cabeça-chata (primeiro).

Essas espécies, junto com o tubarão-de-galha-branca-oceânico, são as que mais oferecem risco de ataque não provocado a humanos, com um número de fatalidades muito maior do que as causadas por outras espécies.

Verão chegando

Após os dois registros, fica a pergunta: com a chegada do verão, os acidentes podem aumentar nas praias do litoral paulista?

Para o professor Gadig, apesar de ser ainda uma hipótese, isso é possível, por conta da retomada das atividades recreativas nas praias, interrompidas no ano passado por causa da pandemia do coronavírus.

"É possível que, um ano após confinados, com restrição de movimento, sem poder ocupar as praias, e agora as pessoas voltando, com feriado emendado e o verão chegando. todo esse conjunto pode fazer com que a gente observe acidentes similares, de menor gravidade ou não nos próximos tempos nas praias da nossa região".

Para Gadig, é necessário haver campanhas de conscientização da população, que ensinem as pessoas a evitarem certos padrões de comportamento que podem atrair a atenção dos predadores marinhos.

Para isso, ele ontem realizou uma videoconferência com outros colegas especializados em tubarões, de todo o país. Eles traçaram estratégias e metodologia para amenizar os riscos e também orientar as pessoas que têm medo destes animais.

"Mesmo que os banhistas não tomem nenhuma precaução, o índice de possibilidade de acidentes envolvendo tubarões é baixo naturalmente. Mas, se você tomar algumas medidas comportamentais preventivas, você pode diminuir esse risco".

Entre as medidas, o professor cita as cinco mais importantes:

  • Nunca entre no mar sozinho, em qualquer situação. Se você tiver uma câimbra ou mal-estar, já é perigoso. Imagine se ocorrer algo envolvendo um tubarão.
  • Evite se banhar ou nadar em períodos de baixa luminosidade. As duas espécies citadas acima (tubarão-tigre e cabeça-chata) são muito ativas no horário noturno para se alimentar.
  • Evite usar objetos que brilhem, como pulseiras, relógios e pingentes. Eles podem refletir a luz do sol e, para o tubarão, podem parecer os pequenos peixes prateados que podem ser eventualmente presas.
  • Observe a superfície do mar. Isso não vale só para quem estiver dentro da água. Um cardume de peixes saltando, um burburinho na superfície da água, aves marinhas concentradas na superfície se alimentando...Isso pode indicar que ali está acontecendo alguma atividade alimentar. E pode ser que um tubarão esteja envolvido nesse cenário.
  • Não entre no mar se você tiver um ferimento, principalmente sangrando. Esses animais são extremamente desenvolvidos do ponto de vista sensorial e sentem o odor das moléculas de sangue e de qualquer fluido corpóreo. "Esse pessoal que gosta de entrar no mar e fazer xixi lá no fundo está praticamente enviando sinais para caso tenha um tubarão procurando comida lá perto", diz o pesquisador. "Não quer dizer que o tubarão vai atacar, mas ele vai notar esse sinal e pode se interessar."