Onda de lama derruba muro e invade casa em GO: 'a parede tá abrindo'
Rômulo do Carmo, de 37 anos, teve a casa invadida por uma onda de lama e quase foi arrastado, no bairro Residencial Morumbi durante as fortes chuvas que atingiram a cidade de Anápolis (GO), na última semana. Ele ainda calcula os prejuízos, mas hoje, formalizou denúncia junto à Polícia Civil contra o proprietário de lote vizinho — que nega promover obras no local, exceto por uma limpeza do terreno.
"Ele comprou o lote, derrubou o muro, rebaixou a calçada abaixo do nível da rua e colocou terra para fazer tipo um aterramento na frente. Com a chuva, essa terra desceu em forma de lama e tapou a vazão da água", conta o promotor de vendas em entrevista ao UOL.
Ele disse ter ficado monitorando a área e chegou a ligar para o dono do terreno. Na noite de quarta-feira (17), conta ele, uma marca no muro já mostrava que a água represada atingiu 1,4 metro de altura. Na quinta-feira, quando, segundo a Estação Meteorológica da UniEVANGÉLICA, a área registrou mais 44 mm de precipitação, durante a chuva forte, por volta das 12h, a água teria atingido a altura de 1,7 m no muro e a estrutura começou a ceder.
"Na hora que eu vi, minha esposa gritou lá no fundo 'a parede tá abrindo'. Fui perto da parede e peguei no trincado. Eu estava em ligação com o dono do lote. [...] Desci rapidamente e me escondi atrás da casinha do cachorro. Se não tivesse casinha do cachorro eu tinha morrido na hora. A parede foi arrancada como se fosse papel. Eu segurei uma viga na área e foi como se fosse uma onda do mar me levando", lembra Rômulo.
Prejuízos
Uma parte do concreto chegou a atingir a residência: "A parte de concreto que bateu ia entrar na cozinha direto e ia pegar minha esposa. Falei para ela fechar a porta. Assim que fechou, a parte de concreto bateu, abriu e jogou ela em cima da mesa. Se ela não tivesse fechado, tinha quebrado as pernas dela".
Todos os cômodos do imóvel, mobiliado ao longo de dois anos, foram atingidos. Membros da igreja ajudaram na retirada de água e lama da residência durante a tarde e a noite, após orientação da Defesa Civil do município. Na sexta-feira (19), a prefeitura ajudou com duas caçambas, um trator e ônibus com funcionários.
De acordo com Rômulo, somente com os móveis planejados, o prejuízo excede os R$ 24 mil. A restauração do muro e da área atingida pode custar cerca de R$ 30 mil. "Perdemos as roupas, tudo. Tapetão caro de veludo que eu tinha pagado R$500, R$800. Tava tudo na área, destruiu tudo", lamenta.
O UOL conversou com o delegado Jorge Bezerra, responsável pelo caso na Delegacia de Anápolis. "Em tese, pode ser que seja configurado a prática do crime de dano, mas antes disso a gente deve apurar se houve a intenção de praticar o dano ainda que seja assumindo o risco da prática desse dano por parte desse morador. Inicialmente, não conseguimos definir eventual crime praticado", declarou.
Outro lado
O dono do lote é o engenheiro civil Pedro Ricardo, de 26 anos; ele alega que não está realizando obras no local e que apenas fez uma limpeza no terreno dias antes do incidente. Em entrevista ao UOL, falou que a casa de Rômulo não foi a única que sofreu com problemas semelhantes no bairro: "Teve uma chuva muito forte aqui, na rua de baixo aconteceu a mesma coisa. Foi uma infelicidade [isso] ter acontecido no meu lote".
Pedro disse que ainda não foi notificado para prestar depoimento na delegacia, mas já está sendo representado pelo advogado Diogo Moreira. "Ele fala que eu não tomei providências. Tenho áudios dele conversando comigo. Eu tentei procurar, ele foi arrogante, não quis conversar comigo, eu saí de perto. Deixei ele tomar qualquer providência que ele quisesse tomar".
O engenheiro também afirmou que chegou a ir à casa de Rômulo e que ajudou a colocar escoras para conter mais material que pudesse descer e que, na sexta-feira, teria tentado contato com o promotor de vendas.
"[Voltei] no outro dia, ele foi super arrogante comigo. Eu entendo o lado da pessoa; teve a casa invadida por água. Mas eu fui conversar com ele, ele não quis. Queria apenas que eu pagasse tudo, me cobrando mais de 150 mil reais. Eu falei que um dia que ele estivesse mais tranquilo a gente conversava".
Pedro afirma que não chegou a ligar para Rômulo e que eles não fizeram contato desde então. Outro ponto que ele levanta é de que a construção rompida seria irregular: "Ele fez uma construção indevida em cima do muro. No caso, o muro era no meu lote. [...] Inclusive até tem no vídeo, que mostra caindo tudo. [Ele] colocou essa área colocando a carga, que afetou a estrutura do meu muro", conclui.
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