Biopirata russo é condenado a 11 anos de prisão pela Justiça do Brasil
O veterinário russo Kirill Sergeevich Kravchenko, 36, foi condenado a 11 anos de prisão por crimes relacionados ao tráfico internacional de animais. Ele estava preso preventivamente desde junho deste ano, quando foi alvo da Operação Leshy, feita pela Polícia Federal em conjunto com a PRF, Ibama e Interpol.
Na decisão condenando o réu em primeira instância, a juíza Ana Emília Rodrigues Aires destacou que não propôs um acordo de redução de pena para Kirill por ele ter um "papel de destaque" na organização criminosa que trafica animais exóticos, participando de sua "caça, captura, transporte, publicidade e venda".
Uma das testemunhas ouvidas no caso, um analista ambiental do Ibama, afirmou que o primeiro delito do russo foi registrado em 21 de janeiro, no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, enquanto ele esperava para embarcar para a Europa. Ao revistar a bagagem de Kirill, os fiscais encontraram cerca de 294 animais, muitos deles invertebrados pequenos, o que prejudicou a contagem.
Entre as espécies encontradas estavam camaleões, que foram enviados ao parque Ecológico do Tietê. Eles foram acomodados pelo traficante em potes do tipo Tupperware e colocados dentro das malas, alguns deles na carga que seria despachada.
Devido ao malcuidado, muitos dos animais acabaram morrendo pouco depois de identificados — alguns acabaram mutilados ainda durante o transporte. Num saco de algodão com capacidade para um animal foram acondicionados 44. Na ocasião, ele respondeu a um Termo Circunstanciado de Ocorrência e foi liberado.
Já o segundo flagra do veterinário foi registrado em 17 de junho, quando ele também foi pego com animais clandestinos em uma viagem ao Rio de Janeiro. O número de espécimes não foi detalhado, mas uma das testemunhas do caso afirmou que "se tratavam de animais peçonhentos". Eles estavam sendo transportados até a capital carioca em um ônibus. Como havia sido liberado apenas com um termo circunstanciado na primeira ocorrência, Kirill não tinha ficha registrada no Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
Quando o assunto é a origem dos animais traficados pelo russo, a investigação apurou registros de hospedagens do homem em hotéis no distrito de Paranapiacaba, próximos de reservas ambientais.
Muitos dos animais que foram apreendidos no primeiro flagrante do réu são animais nativos da Mata Atlântica, mesmo bioma da região do município paulista. A retirada de espécimes que vivem em áreas de preservação ambiental é considerada um agravante do crime ambiental.
"O acusado é veterinário e se valeu de seu conhecimento na biologia, com grande conhecimento sobre os biomas de muitos países, experiência na captura de espécies e comércio ilegal. Tudo isso foi bem detalhado nas Informações técnicas e laudos periciais", afirmou a juíza da 1ª Vara Federal de Guarulhos.
Kirill foi condenado pela tentativa de exportação de mercadoria proibida, captura de animais silvestres, por transportar, manter em cativeiro e vender animais silvestres e maus-tratos com o agravante de morte de animais, transportar muitos animais venenosos e expor a vida ou a saúde de outra pessoa a perigo.
Nos autos, a defesa do réu questionou as provas de que os animais realmente viviam nas áreas de conservação e sua presença em parques e reservas ambientais. O UOL procurou os advogados do russo para um posicionamento, mas ainda não teve resposta. Se houver, a matéria será atualizada.
Entre as pessoas apontadas como ajudantes do veterinário estão são sua ex-mulher, Ekaterina Burukhina, e sua atual companheira, Ekaterina Kravchenko, que moram no exterior. As duas seriam as responsáveis por gerenciar comunidades e fóruns em redes sociais para comercializar os animais exóticos.
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