'Afro-brasileiro puro', Itamar Assumpção ganha estátua em São Paulo
Em suas canções, Itamar Assumpção (1949-2003) dizia que era um "afro-brasileiro puro" e reverenciava sua negritude. Com um legado importante na música vanguardista paulistana nos anos 1980, o cantor, instrumentista e compositor terá uma estátua inaugurada nesta quarta-feira (15) na capital de São Paulo.
Assumpção será homenageado com uma escultura de bronze instalada em frente ao Centro Cultural Penha, no Largo do Rosário, na zona leste da capital. A escultura foi criada pelo artista plástico Leandro Júnior de Sousa, de 37 anos.
Natural de Cachoeira do Norte, no Vale do Jequitinhonha, sudoeste mineiro, Júnior é professor de arte e escultura em comunidades quilombolas e tem um trabalho voltado para obras que abordam a ancestralidade africana e a história da escravização no Brasil.
"Itamar tem importância fundamental no movimento negro. Ele se superou, criou um estilo próprio, a vanguarda paulista. Ele conseguiu seu legado e com certeza é uma referência para todos nós"
Leandro Júnior de Sousa, artista plástico
A ligação entre os artistas vem de um passado recente. Júnior conheceu os trabalhos de Assumpção quando o cantor se apresentava em programas televisivos, como programas de auditório, além de ter assistido alguns documentários com e sobre o cantor. Se sentindo privilegiado por ter sido escolhido para produzir a obra, Júnior vê no cantor uma ligação forte com sua arte. "Veio para coroar todo o meu trabalho", diz.
A escultura que será lançada nesta quarta tem 1,80 metro de altura, foi construída em argila e passou por um processo de fundição em bronze no município de Contagem (MG). Foram necessários cerca de dois meses e meio para finalizá-la.
Cantor Itamar Assumpção ganha estátua em SP
Legado de família
Nascido em 1949, na cidade de Tietê, no interior de São Paulo, Itamar Assumpção se mudou para o Paraná aos 12 anos. Por lá, participou de festivais de música e teatro. Já de volta à capital paulista, se casou em 1975 com Elizena Brigo e passou a morar na Penha, zona leste, trabalhando como entregador de carnês de IPTU.
Cinco anos depois ele lançou o disco Beleléu, Leléu, Eu pelo selo Lira Paulistana, momento em que assumiu o gerenciamento independente de sua carreira estreando nos festivais e palcos. Ao todo, ele lançou nove álbuns que o consolidaram em uma carreira premiada. O músico morreu aos 53 anos, vítima de um câncer no intestino.
Para a cantora e compositora Anelis Assumpção, sua filha, a homenagem ao pai é importante, porém, um movimento reparatório tardio. "Não em relação ao Itamar somente. Em relação há diversos anos, centenas de anos, onde as celebridades, as figuras políticas, culturais trazem importâncias imensas para a construção da nossa cultura, da nossa base, da educação", explica.
"A gente precisa de muito mais. E mais do que isso, a gente precisa também realocar as representatividades escravocratas, as grandes, avenidas, com nomes de torturadores, estupradores, escravocratas, bandeirantes, assassinos. A gente precisa realocar muita coisa"
Anelis Assumpção, cantora e compositora
Pela cidade
A estátua de Itamar Assumpção será a primeira de uma série de cinco com personalidades negras, e também construídas por artistas negros, que a Prefeitura de São Paulo vai instalar na cidade nos próximos meses.
A iniciativa é uma proposta para mudar o cenário da cidade. Segundo o Instituto Pólis, dos 367 monumentos da cidade, apenas cinco representam pessoas negras. Dessas, apenas uma, a Mãe Preta, localizada no Largo do Paissandú, homenageia uma mulher negra.
"As estátuas e monumentos servem para contar passagens da história, e a proposta de construirmos estátuas de personalidades negras pela cidade é que tenhamos nossa história contada de maneira positiva também.", disse ao UOL a secretária municipal de Cultura, Aline Torres.
As demais estátuas estão previstas para serem instaladas no primeiro semestre de 2022. Os nomes foram escolhidos a partir de uma pesquisa encabeçada pelo Departamento do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura. Elas serão dedicadas à escritora Carolina Maria de Jesus, em Parelheiros; ao cantor e compositor Geraldo Filme, na Barra Funda; ao atleta Adhemar Ferreira da Silva, na Avenida Braz Leme, em Santana; e à sambista e ativista Deolinda Madre, na Praça da Liberdade.
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