Formol na comida: afinal, quais os riscos de consumir o conservante?
Apesar de, na teoria, a utilização de formol ou formaldeído na conservação de alimentos ser proibida desde 1997 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, especialistas alertam que esse tipo de fraude continua ocorrendo e que, por conta da pandemia e com a chegada do verão, tende a aumentar. A recomendação é que se tome cuidado redobrado com a compra de alimentos perecíveis, pois a ingestão dessa substância pode provocar danos sérios ao organismo e até mesmo levar à morte.
O caso da família do litoral de São Paulo que comprou um quilo de salmão a R$ 90 em um hipermercado e descobriu que o produto, além de estragado, estava embebido em formol é um exemplo do risco que se corre na hora de adquirir carnes, peixes e outros alimentos perecíveis sem confirmação de origem e qualidade.
Paula Carpes Victório é farmacêutica e toxicologista e atua como perita judicial. Foi ela que realizou os exames no salmão comprado pela família do perito Fernando Soares Salles em um hipermercado na cidade de Santos e detectou a presença do formol ou formaldeído, que é uma mistura homogênea composta por água e pelo menor aldeído existente, o metanal.
O produto é comumente utilizado na preservação de animais mortos, na conservação de tecidos, membros e órgãos, além do embalsamento de cadáveres. Sua utilização na indústria cosmética também já é bem conhecida, com sua presença em concentrações baixas em esmaltes e alisantes para cabelo.
Segundo Paula, a presença do formaldeído em alimentos não é algo novo e continua acontecendo, mesmo após a portaria que proíbe a aplicação, de 1997. "É um tipo de fraude química que sempre existiu, no entanto, ela está sendo praticada de forma cada vez mais grosseira. Ao comprar um alimento com essa substância, a pessoa pode sentir um odor irritante às mucosas nasais, agulhadas na pele ao manuseá-lo e um sabor ácido ao provar".
Atenção na compra
Na opinião da perita, o consumidor deve ficar atento, principalmente por conta do período pandêmico, em que as famílias ainda estão impactadas e diversos setores da economia foram abalados. Ela afirma que muitas empresas que trabalham com perecíveis não querem perder os produtos e, por essa razão, os casos de uso de conservantes tóxicos à saúde humana voltaram a crescer.
"Nesse momento, acredito que as pessoas devem preferir comprar produtos congelados, embalados. Carnes, peixes, muitas vezes são importados, como o salmão. Então, até passar por toda a logística dentro do Brasil e chegar ao consumidor final, o prazo de traslado é muito grande, o que aumenta as chances de fraudes com o uso de conservantes, como o formol. Mas quem preferir mesmo o produto fresco, pode buscar as feiras livres, o comerciante de sua confiança".
O cardiologista Edmo Atique Gabriel alerta para a chegada das festas de fim de ano e do período de verão, quando o clima esquenta e as pessoas procuram consumir mais peixes e frutos do mar. Ele lembra que não existem limites seguros para a sua presença em um alimento e confirma os riscos para o coração.
"A incidência dessas ocorrências, principalmente em regiões litorâneas como no caso de Santos, aumenta muito nessa época do ano", avisa. "O perigo de ingestão de pescado e frutos do mar com o formol é a pessoa apresentar uma intolerância imediata, com manifestações cardiovasculares, como arritmias, alterações de pressão arterial e outras manifestações mais sérias, como um processo inflamatório no coração, que exijam internação em UTI".
Já os danos neurológicos, segundo o médico, incluem paralisia motora, perda de reflexos e da consciência e confusão mental. Ele explica também que a presença de formaldeído no organismo aumenta a produção de dióxido de carbono na circulação sanguínea. O gás tóxico, liberado pelos motores dos veículos, é mais um fator de toxicidade, que vai atacar pulmões e bloquear funções dos glóbulos vermelhos, responsáveis pelo transporte de oxigênio no sangue.
O aparelho digestivo também pode ser afetado severamente pela ingestão de formol, provocando o que os médicos chamam de gastrite corrosiva. E, em casos graves de intoxicação, o paciente pode vir a óbito. "É muito temerário saber que existem supermercados ou estabelecimentos onde o controle de qualidade ainda não é completo, podendo existir alimentos contaminados com uma substância tão perigosa e tóxica como o formaldeído".
O que fazer se houver ingestão
Segundo o cardiologista, caso a pessoa ingira o formol, é recomendado que ela beba muita água e procure atendimento médico. Dependendo da dosagem, ela deverá realizar exames cardiológicos e neurológicos e ser acompanhada pelo médico por pelo menos 15 dias. "É muito importante que as pessoas contaminadas bebam uma grande quantidade de água. De 2 a 3 litros por dia, além de optarem por uma alimentação leve, com muitas fibras, como frutas e verduras, para ajudar na eliminação das toxinas pela urina, suor e fezes".
A médica cardiologista intensivista Nicolle Queiroz concorda que, se houver ingestão acidental, ou caso uma pessoa descubra que o alimento ingerido contém formol, ela deve procurar o pronto-socorro imediatamente. Além disso, ela avisa que o uso tópico de produtos com essa substância, como no caso dos cosméticos e produtos para cabelos, deve ser evitado.
"Existem outras formas de fazer alisamento. Eu mesma já atendi na UTI uma paciente que evoluiu para uma intoxicação grave, após o uso de alisante com formaldeído. Se a pessoa já teve algum tipo de reação antes, deve evitar até usar esmaltes que contenham essa substância. Até na hora de pintar paredes, sugiro a escolha de tintas que não contenham o formaldeído na composição", conclui a médica.
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