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Podia ser minha família ali, diz estudante que visitou Capitólio há 2 dias

Anaís Motta

Do UOL, em São Paulo

08/01/2022 18h40Atualizada em 09/01/2022 10h27

A mudança de casa e a necessidade de cortar gastos motivaram a família da estudante de Psicologia Yasmin Pezzuol, 21, a encurtar uma viagem a Capitólio, cidade turística de Minas Gerais, onde hoje uma rocha se desprendeu em um cânion no Lago de Furnas e caiu sobre quatro embarcações, deixando ao menos oito mortos e mais de 30 feridos, segundo o Corpo de Bombeiros. Outras duas pessoas seguem desaparecidas.

Yasmin esteve no local do acidente com os pais e os dois irmãos mais novos, de 16 e 5 anos, na última quarta-feira (5). A família fez um passeio de lancha pelos cânions, onde também havia muitos turistas, e decidiu voltar no fim da tarde, deixando um último ponto de fora da visita, por conta da forte chuva que começou a cair.

"A gente estava no restaurante flutuante e ainda tinha mais um ponto para visitar, mas pedimos para voltar ao píer de onde nossa lancha saiu. Chovia demais, e ainda estávamos com uma criança", contou ao UOL. " A volta foi horrível. O marinheiro que estava com a gente disse que já pegou chuvas piores, e os turistas não desistiram de fazer o passeio completo (e eles, marinheiros, também não abrem mão). Parecia bem perigoso."

Segundo a estudante, a família chegou a Capitólio na segunda (3) e ficaria por lá até este sábado (8). A viagem foi encurtada porque eles compraram uma casa nova no fim de dezembro e, agora, precisavam economizar e fazer a mudança. Os cinco voltaram ontem (6) para Guarujá, no litoral de São Paulo, onde moram.

"Lá para 23 de dezembro, mais ou menos, surgiu a oportunidade de comprarmos uma casa. Então a gente tinha uma mudança para fazer e tinha que cortar gastos também, então diminuímos os dias da viagem. Era para voltarmos hoje, dia do acidente. Como aconteceu pela manhã, é capaz que a gente estivesse envolvida, já que antes não tínhamos muita preocupação quanto à volta", lembrou.

Me deu vontade de chorar [ao ver as imagens do desabamento]. Só conseguia imaginar a minha família ali, porque podia ser. Até agora estou muito mexida. Quando a gente estava lá, chegamos a olhar aquele paredão e dizer 'nossa, não existe perigo aqui?'. E hoje a resposta veio"
Yasmin Pezzuol, estudante de Psicologia

"Não dava para cancelar"

Choveu em todos os dias em que Yasmin e a família estiveram em Capitólio. Mesmo assim, os passeios de lancha e de veículo 4x4, fechados com semanas de antecedência, não podiam ser cancelados de forma gratuita, apenas remarcados, de acordo com a estudante.

"Quando a gente chegou lá", disse, "estava chovendo bastante. No primeiro passeio, que era o de 4x4, estava chovendo mais ainda, e aí a gente pensou em desistir. Só que não existia essa possibilidade. A gente podia remarcar caso estivesse com muito mau tempo. Mas a opção de remarcar seria inviável, porque não daria para a gente ir lá de novo, todos juntos".

"Os contratos eram bem claros: cancelamento apenas em caso de morte do marinheiro ou se o mau tempo não permitisse", completou.

A opção de cancelamento nunca existiu, porque a gente não teria nosso dinheiro de volta. Só tinha a opção de remarcar, e isso é inviável para qualquer turista, acredito. Você planeja suas férias, o mau tempo atrapalha... Como você vai remarcar? Minha mãe até comentou: o que a gente passou muitas pessoas devem ter passado também.
Yasmin Pezzuol, estudante de Psicologia

Segundo Yasmin, que conversou com locais, "todos diziam que era muito perigoso" fazer os passeios nos cânions em meio à chuva, mas isso não desencorajava nem guias, nem turistas, que preferem se arriscar a perder a viagem. Ela também criticou a fiscalização, que não dá conta da quantidade de visitantes que Capitólio tem recebido.

"[No dia do passeio de 4x4] O marinheiro parou em duas cachoeiras em que a gente podia entrar e nadar, mas a gente não quis por causa do tempo. Mas tinha pessoas nadando. No passeio de lancha, a mesma coisa", relatou. "Nosso guia comentou que existem guias turísticos que se arriscam, e que existem turistas que insistem também, mesmo sabendo dos perigos."

"Espero que [meu relato] sirva para terem mais cuidado por lá. O turismo está crescendo muito, mas a fiscalização... Nada", finalizou.