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Supervisor acusa vereador de Embu das Artes de racismo: "Todo preto fede"

Supervisor acusa vereador de racismo em condomínio no Rio - Reprodução/TV Globo
Supervisor acusa vereador de racismo em condomínio no Rio Imagem: Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

30/01/2022 21h40

O supervisor Izac Gomes, de 57 anos, acusou hoje o vereador Renato Oliveira (MDB-SP), presidente da Câmara Municipal de Embu das Artes (SP), de ter lhe ofendido com palavras racistas durante a estadia do político de quatro dias em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Oliveira nega as acusações.

Nas imagens que circularam pelas redes sociais, no início da semana, o vereador aparece se recusando a sair da piscina depois de ser abordado por policiais. Um dos agentes entra na água para retirá-lo à força. Em seguida, um dos agentes menciona a suposta acusação de racismo e injúria racial. O parlamentar então é imobilizado pelos militares e levado à delegacia, sob aplausos de pessoas que presenciaram a cena. (Assista ao vídeo abaixo)

O "Fantástico", da TV Globo, teve acesso ao circuito de câmeras de segurança do condomínio, que mostram o comportamento alterado do vereador antes mesmo da confusão.

Segundo o supervisor, Oliveira teria lhe dirigido palavras como "velho" e "fedorento" e dito frases como "preto fede".

Por quatro vezes, ele pegava o copo de chopp e me chamava 'ô, negão, ô negão'. E fazia esse gesto, assim, 'fica calado'. Fui conversar com ele, e ele disse: 'tira a mão de mim, porque você está suado. Eu tô cheiroso e você está fedendo. Todo preto fede'. Izac Gomes, supervisor do condomínio

Oliveira deu entrevista à TV Globo, mas com uma "plateia" atrás dele —a maioria formada por pessoas negras. Ele rebateu as acusações dizendo não ser racista e que abomina esse tipo de comportamento.

Eu não sou racista. Muito pelo contrário. É uma coisa que eu abomino, e que eu jamais faria com alguém. Eu não vou aceitar essa acusação. Como a única forma de me tirarem dali, eles fizeram um funcionário dizer que eu proferi palavras racistas. Renato Oliveira, vereador de Embu das Artes (SP)

O vereador argumenta ainda que "pessoas que fazem parte da elite, que não querem que favelados como eu, adentrem em ambientes como o deles".

O delegado que investiga o caso, Alessandro Petralanda, disse à reportagem ter elementos para concluir que houve crime de injúria racial cometido pelo parlamentar.

"Nós já temos elementos para dizer que houve, sim, um crime de injúria racial. Já ouvimos diversas testemunhas, e todas elas são sempre no sentido de que houve palavras com ofensas raciais", afirma.

Nas imagens das câmaras, o vereador também é flagrado usando o carro oficial da Câmara Municipal de Embu das Artes na chegada ao condomínio no Rio. Ao ser questionado, ele responde, irritado. "Se eu estava a trabalho no Rio de Janeiro, o que eu faria? Colocaria o carro no bolso? Voltaria a pé? O carro ficou todo tempo em que eu estava de folga parado", disse ele.

Um dos vereadores, que faz parte da oposição em Embu, protocolou o pedido de cassação do parlamentar. Já o Ministério Público irá investigar o suposto uso do carro oficial em dias de lazer.

Ele falou que eu sou fedorento. Qual é a ficha criminal mais limpa: a minha ou a dele? Izac Gomes

Vereador responde por tentativa de homicídio

Se os trâmites seguirem, será a segunda vez que Oliveira responderá por um caso de grande repercussão. Ele responde por tentativa de homicídio triplamente qualificado após atacar um jornalista em 2017, de acordo com o MP-SP (Ministério Público de São Paulo).

Na denúncia, o MP-SP afirma que Oliveira e outro homem, Lenon Roque Alves Domingos, tentaram matar o chargista Gabriel Barbosa da Silva, do jornal Verbo Online. Silva era um crítico à administração de Embu das Artes, da qual Oliveira fazia parte como secretário adjunto na época.

A promotora Alice Camargo relata que a dupla estava de carro e perseguiu Silva na rodovia Régis Bittencourt até que ele caísse da moto que pilotava. Com a queda, a dupla atirou três vezes contra ele — que não foi atingido por "erro de pontaria" — e fugiu.

O caso foi julgado pelo juiz Rodrigo Aparecido Bueno de Godoy, que determinou, em junho de 2020, que os acusados sejam julgados diante do Tribunal do Júri. A defesa da dupla ainda recorre da decisão.