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Militar que matou vizinho responde por crime doloso; viúva: 'foi covardia'

Durval Teófilo Filho, de 38 anos, chegava em casa do trabalho quando foi atingido na barriga - Reprodução/Facebook
Durval Teófilo Filho, de 38 anos, chegava em casa do trabalho quando foi atingido na barriga Imagem: Reprodução/Facebook

Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

04/02/2022 20h04

A Justiça do Rio de Janeiro aceitou um pedido do Ministério Público e agora o sargento da Marinha, Aurélio Alves Bezerra, 40, responde pelo crime de homicídio doloso — quando há a intenção de matar — pela morte do vizinho, Durval Teófilo Filho, além de enfrentar prisão preventiva, concedida após audiência de custódia. A vítima foi enterrada hoje, em São Gonçalo, em meio a protestos por Justiça.

A interpretação da Justiça difere do indiciamento feito pela Polícia Civil, que considerou o crime culposo, ou seja, sem intenção. O militar disparou três vezes na direção do próprio vizinho, que é negro, e alegou que teria achado que ele seria um assaltante armado, quando a vítima, de 38 anos, chegava em casa e tentava pegar a chave do portão do condomínio onde vivia, na última quarta-feira (4). Ele foi atingido por um tiro no abdômen e na perna quando foi pegar a chave do portão do condomínio.

Aurelio - Reprodução - Reprodução
Aurélio Alves Bezerra alegou ter achado que homem estava armado e que agia em sua própria defesa
Imagem: Reprodução

A magistrada Ariadne Villela Lopes também converteu a prisão, até então temporária em preventiva, mas destacou que a medida é necessária "para a garantia da ordem pública e para a conveniência da instrução criminal, e não em razão de pressão ou clamor social".

O UOL teve acesso ao depoimento do militar, em que ele diz que atirou contra a vítima "para reprimir a injusta agressão iminente que acreditava que iria acontecer". Além disso, Aurélio Bezerra deixa claro que "por seu automóvel ter película escura nos vidros e por estar chovendo, não conseguiu ver com precisão o que Durval estava segurando".

Despedida

Hoje à tarde Durval Teófilo Filho foi enterrado no Cemitério São Miguel, em São Gonçalo. A viúva, Luziane Teófilo, muito abalada, questionou o fato da Polícia Civil não ter reconhecido "intenção" por parte do suspeito de tirar a vida de seu marido.

Muito obrigada, senhor Aurélio, por destruir a minha vida, da minha filha, da minha família. Estou aqui sangrando. Ele não deu chance de o meu marido viver. Eu não vou te perdoar. Isso não foi engano, foi uma covardia, foi racismo, foi despreparo, mas ele vai pagar. Falar que não foi intencional? Estou enterrando meu marido por causa da imprudência dele. Eu espero que o senhor esteja feliz. E agora, é o senhor que vai levar ela para escola? É o senhor que vai contar história para dormir? Ela chamava o Durval de super-herói e tinha o melhor pai do mundo.
Luziane Teófilo, viúva de Durval

Durante o enterro, familiares e amigos realizaram um protesto na porta do cemitério. O grupo segurava cartazes com os dizeres: 'Vidas negras importam' e 'Queremos Justiça por Durval'.

Por meio de nota, a Marinha do Brasil informou que "está colaborando com os órgãos responsáveis para a elucidação do fato. A MB lamenta o ocorrido e se solidariza com os familiares da vítima".