Quem foi Padre Cícero, religioso cearense citado por Bolsonaro em live
Citado ontem pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em sua live semanal, quando o mandatário errou sua origem, Cícero Romão Batista, mais conhecido como Padre Cícero, foi um religioso considerado santo por muitos brasileiros que nasceu em Crato (CE) em 1844 e cuja influência alcançou a política.
Era filho de Joaquim Romão Batista, um pequeno comerciante da cidade, e Joaquina Vicência Romana, conhecida como dona Quinô.
Entre seus devotos estava Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, com quem ele se encontrou ao menos uma vez, em 1926.
Cícero entrou para o seminário em 1865, em Fortaleza, mas foi apenas em março de 1889, em Juazeiro do Norte (CE), que se deu o episódio marcante em sua vida, conhecido como "milagre da hóstia", quando a hóstia dada por ele teria virado sangue na boca de uma beata. O suposto milagre que teria acontecido mais de uma vez se espalhou pela região.
No entanto, como na tradição católica, a hóstia representa o corpo de Cristo, e não o sangue, o Vaticano retirou as credenciais de Padre Cícero.
Apenas em 2015, sob a liderança de Papa Francisco, a Igreja Católica se reconciliou com o religioso e devolveu seus direitos sacerdotais. A partir de então, não há mais medidas proibitivas para que o "santo popular" seja beatificado ou canonizado.
"O afeto popular que cerca a figura de padre Cícero pode constituir um alicerce forte para a solidificação da fé católica no ânimo do povo nordestino. Portanto, é necessário, nesse contexto, dirigir nossa atenção ao Senhor e agradecê-lo por todo o bem que ele suscitou por meio do padre Cícero", dizia o trecho de uma carta assinada pelo secretário de Estado da Santa Sé, Pietro Parolin e divulgada na ocasião.
O processo de reabilitação demorou mais de dez anos. Foi enviado um dossiê de mais de dez volumes para o Vaticano ainda quando João Paulo 2º era papa.
A influência de Padre Cícero extrapolou os limites religiosos e também alcançou a política. Ele foi o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, em 1911, quando o povoado foi elevado à cidade.
Durante a década de 1920, no entanto, seu o poder político diminuiu e sua saúde se agravou. Ele morreu em 20 de julho de 1934, aos 90 anos, devido a uma paralisia intestinal.
Na data, se celebram missas para ele em todas as igrejas de Juazeiro, costume que também ocorre em outras cidades do Nordeste.
Romarias em louvor ao padre Cícero levam milhões de devotos por ano a Juazeiro do Norte.
Bolsonaro chama assessores de 'pau de arara'
Durante sua tradicional live ontem, Bolsonaro ficou irritado com a demora de seus assessores para responder uma pergunta sobre o estado natal de Padre Cícero e os chamou de "pau de arara", uma expressão depreciativa para se referir a nordestinos. O presidente disse equivocadamente que o religioso era de Pernambuco.
"Cheio de pau de arara aqui e não sabem em que cidade fica Padre Cícero?", questionou o chefe do Executivo federal.
"Pau de arara" são caminhões adaptados para transportar passageiros em sua carroceria de forma irregular. Foram muito usados nas migrações do Nordeste para a região Sudeste no século passado, principalmente para o estado de São Paulo.
Um dos funcionários presentes respondeu que o religioso era de Juazeiro do Norte. "Parabéns aí. Ceará, desculpa aí, Ceará", disse o presidente.
Além da terra natal do religioso, o mandatário também cometeu outro equívoco. Entre os decretos de luto revogados por ele, não consta o de Padre Cícero. No entanto, em mensagem publicada no último sábado (29) nas redes sociais, Bolsonaro colocou o nome do cearense entre as personalidades que tiveram o decreto de luto revogado e, depois, reabilitado.
* Com informações da Ansa e Estadão Conteúdo
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