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Laudêmio: o que é a 'taxa do príncipe' recolhida em Petrópolis

Danificada pelo temporal em Petrópolis, a Casa da Princesa Isabel sedia a CIP, companhia criada para gerir a herança da família imperial - Lucas Landau/UOL
Danificada pelo temporal em Petrópolis, a Casa da Princesa Isabel sedia a CIP, companhia criada para gerir a herança da família imperial Imagem: Lucas Landau/UOL

Colaboração para o UOL

20/02/2022 12h20Atualizada em 21/02/2022 07h26

Junto às notícias da tragédia em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, um outro assunto foi bastante citado nas redes sociais nos últimos dias: o laudêmio —taxa imobiliária paga a herdeiros da antiga família imperial.

O laudêmio foi alvo de críticas após uma manifestação de Bertrand de Orleans e Bragança, autoproclamado príncipe imperial do Brasil e descendente da família real que já liderou o país, nas redes sociais, na sexta-feira (18). Na declaração, ele lamentou as fortes chuvas que atingiram Petrópolis. Mais de 150 pessoas morreram, de acordo com a Defesa Civil.

Apesar da carta e das palavras de pesar do príncipe, internautas citaram a taxa imobiliária e se queixaram que, no comunicado, o príncipe não diz se fará algum tipo de doação à cidade.

O laudêmio é uma taxa cobrada desde o período colonial, em regiões de interesse da Coroa. Em Petrópolis, é recolhido pela CIP (Companhia Imobiliária de Petrópolis), criada para gerir a herança e administrada por dez integrantes da família Orleans e Bragança. A sede da CIP, na Casa da Princesa Isabel, foi danificada pelo temporal.

A companhia é a responsável por cobrar a taxa na área da antiga Fazenda Imperial, formada por terrenos comprados por dom Pedro 1º a partir de 1830 e, depois, passadas a seu filho, dom Pedro 2º. Ela compreende grande parte da área central de Petrópolis, epicentro do desastre.

A propriedade da antiga fazenda é a base legal para a "taxa do príncipe" de 2,5% sobre todas as transações imobiliárias na área.

Mais cedo, na sexta, Bertrand já havia dito, também nas redes sociais, que sua "família imediata não recebe quaisquer quantias referentes ao laudêmio". "Meu saudoso pai, o Príncipe Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil entre 1921 e 1981, vendeu todas as suas ações da dita Companhia Imobiliária ainda na década de 1940", escreveu.

Bertrand integra o chamado "ramo de Vassouras", de descendentes de dom Luis de Orleans e Bragança, filho da princesa Isabel e irmão de dom Pedro de Alcântara, que deu início ao "ramo de Petrópolis" —do qual fazem parte os sócios da CIP.

Também na sexta, o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ) propôs um projeto de lei para destinar o laudêmio para a cidade de Petrópolis.

"Apresentei agora um projeto de lei para que o laudêmio, conhecido como "imposto do príncipe", seja destinado à Prefeitura de Petrópolis para financiar políticas públicas de prevenção a desastres e para socorrer a população", disse Freixo. "Em pleno século 21, não faz sentido que uma taxa imobiliária criada pelo Imperador Dom Pedro II continue onerando a população em benefício de seus descendentes."

Freixo alega que o temporal da semana passada "trouxe à tona a necessidade de investimento do imposto cobrado pela venda de imóveis na cidade em prol da própria cidade". O parlamentar classificou a cobrança como "arcaica".

Herdeiros entraram na Justiça

A cobrança da "taxa do príncipe" é uma polêmica antiga. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, quatro herdeiros entraram na Justiça para obrigar os demais sócios da Companhia Imobiliária de Petrópolis a comprar suas partes do patrimônio, cujo valor ainda não foi estimado.

Eles pedem que os sócios majoritários sejam obrigados a comprar sua parte na sociedade —equivalente a 28,5% do total de ações. Para isso, pedem uma avaliação do patrimônio por um perito.

Não se tem ideia do valor atual desse patrimônio. Assim como não é de conhecimento público o tamanho exato da área da antiga Fazenda Imperial e quantos imóveis atualmente existem nela.

Atas das assembleias da CIP juntadas no processo aberto pelos sócios minoritários mostram que, entre 2006 e 2012, a companhia distribuiu R$ 5,8 milhões de seu lucro aos herdeiros de dom Pedro 2º.

Esse valor caiu entre 2020 e 2021. Nos últimos dois anos, o lucro da CIP foi de R$ 372,5 mil e usado para cobrir prejuízos de anos anteriores, segundo documentos da Junta Comercial.

No total, levantamento da Folha calcula que há mais de 200 ações na Justiça questionando o cálculo da cobrança feita pela CIP.

O laudêmio é cobrado também em outros pontos do país, inclusive por outras entidades como a Igreja Católica. A União também é beneficiária do laudêmio de imóveis em terrenos de Marinha — eles não pertencem à Marinha, são áreas em geral próximas ao mar. O pagamento destas taxas vem do período do Império e está ligada a uma noção de defesa do território.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado em versão anterior deste texto, os terrenos de Marinha não pertencem à Marinha. A informação foi corrigida.