Empresas levaram R$ 315 bi aos EUA em lucros no Brasil, diz carta a Trump
Ler resumo da notícia
As empresas multinacionais dos EUA repatriaram para os EUA US$ 54 bilhões (R$ 315 bilhões) em lucros e dividendos, obtidos em suas vendas no Brasil na última década. Os dados fazem parte de uma carta enviada à Casa Branca por parte da Câmara de Comércio Brasil-EUA, no contexto das negociações entre os dois países para que se evite uma guerra comercial.
Nesta sexta-feira, autoridades do Brasil e dos EUA terão uma nova reunião para tentar encontrar um acordo que evite novas taxas e retaliações por parte do governo brasileiro. A Casa Branca quer anunciar uma nova política comercial a partir de 2 de abril e negocia com diversos países uma saída para o que ela chama de "injustiça" no tratamento dado às empresas americanas.
No caso brasileiro, Washington insiste sobre as barreiras existentes no Brasil para o etanol de milho, produzido por regiões que deram seu apoio para Trump na eleição.
Como parte do processo de consultas, a Amcham enviou uma carta no dia 11 de março para o representante de Comércio do governo de Donald Trump, Jamieson Greer, com argumentos favoráveis a uma solução negociada para a potencial crise, usando canais diplomáticos e sem a imposição de novas tarifas.
A constatação do setor privado é que, se Trump seguir na linha protecionista, serão as companhias dos EUA que perderão.
"As empresas norte-americanas se beneficiam substancialmente de seus investimentos no Brasil", afirma o documento, obtido pelo UOL. "Os EUA são o maior investidor estrangeiro no Brasil. De acordo com o Banco Central do Brasil, havia 3.900 empresas norte-americanas operando no Brasil em 2020, um aumento de aproximadamente 1.000 empresas em cinco anos", destacou.
Em 2023, o total de investimentos dos EUA no Brasil foi de: US$ 357,8 bilhões, o que representa cerca de um terço do estoque total de investimento estrangeiro direto do Brasil.
"Vários fatores tornam o Brasil um destino atraente para os investimentos dos EUA, incluindo o fato de que o Brasil não impõe imposto de renda sobre a remessa de dividendos corporativos. Isso significa que as subsidiárias norte-americanas no Brasil podem distribuir dividendos para suas matrizes nos EUA com isenção total de impostos, uma política altamente excepcional em comparação com os padrões globais", afirma o documento.
"Como resultado, as empresas norte-americanas se beneficiam significativamente dessa estrutura tributária. Os EUA foram o segundo maior destinatário de lucros e dividendos do Brasil entre 2015 e 2024, com um total de remessas de US$ 54,2 bilhões", constatou.
O dado vai na contramão do argumento usado por Washington, de que as empresas americanas estariam sendo tratadas de forma injusta no país. Trump vem citando o Brasil como "exemplo" de mercado onde produtos sofrem resistências e barreiras.
A carta ainda traz dados de como a balança comercial tem sido favorável aos EUA, tanto no setor de produtos como serviços, em mais de US$ 165 bilhões. Mais de 70% dos itens exportados pelos EUA ao Brasil entram sem tarifas.
Para a Amcham, "o superávit comercial substancial dos EUA com o Brasil, especialmente em bens e serviços de alto valor agregado, ajuda a compensar o déficit comercial mais amplo dos EUA com outros países".
Solução negociada
Para a Amcham, os dois países devem buscar uma saída negociada e cita possíveis caminhos que podem ser usados.
"Em 2022, durante o primeiro mandato do Presidente Donald J. Trump, os EUA e o Brasil assinaram um Protocolo ao Acordo de Comércio e Cooperação Econômica ("ATEC") de 2011, incorporando disposições sobre facilitação do comércio, boas práticas regulatórias e anticorrupção", diz.
"O ATEC serve como uma plataforma para promover o diálogo e aprimorar as relações comerciais entre os dois países e poderia ser expandido para incluir outros tópicos comerciais de interesse mútuo", explica.
"Além disso, a estrutura do ATEC poderia preparar o caminho para acordos comerciais mais ambiciosos no futuro, incluindo compromissos de acesso ao mercado", defende.
"Outro canal institucionalizado importante para a cooperação é o Diálogo Comercial EUA-Brasil, coordenado pelo Departamento de Comércio dos EUA (DOC) e pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) do Brasil", diz a Amcham.
Para a entidade, "as relações comerciais entre os EUA e o Brasil permanecem equilibradas".
"Os exportadores norte-americanos se beneficiam das baixas tarifas de importação de fato no Brasil, que são menores do que as aplicadas a outros países, resultando em um superávit comercial consistente e significativo para os EUA - especialmente em bens e serviços de alto valor agregado", aponta.
"Esse superávit ajuda a compensar parcialmente o déficit comercial geral dos EUA com outros países", insiste.
"As possíveis práticas comerciais injustas - como as identificadas nos Relatórios NTE do governo dos EUA - bem como as preocupações comerciais específicas - como o caso do etanol mencionado no informativo "Plano Justo e Recíproco" da Casa Branca - devem ser abordadas por meio de negociações bilaterais, aproveitando mecanismos institucionais como o ATEC e o Diálogo Comercial EUA-Brasil, juntamente com o envolvimento do setor privado", defende a entidade.
O documento ainda alerta que a "imposição de tarifas adicionais sobre o comércio bilateral prejudicaria os interesses das empresas norte-americanas e enfraqueceria os fluxos recíprocos de comércio e investimento".
"Priorizar o diálogo estruturado e institucionalizado continua sendo a abordagem mais eficaz para o avanço dos fluxos recíprocos de comércio e investimentos", completa.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.