Pescadores ficam seis dias à deriva no mar após naufrágio de jangada no CE
Os pescadores Raimundo Nonato Alves dos Santos, 59, e Francisco Doquinha, 57, enfrentaram seis dias à deriva no mar após a jangada em que estavam naufragar devido aos fortes ventos registrados na Praia da Caponga, em Cascavel (CE). Sem comida, os dois conseguiram sobreviver às condições extremas bebendo apenas a água da chuva com a ajuda de um pedaço de pano.
Raimundo e Francisco saíram para trabalhar na quinta-feira passada (24). Os dois pretendiam voltar para casa no sábado (29). No entanto, os planos foram interrompidos no final da tarde, por volta das 18h, quando o barco virou. "Ficamos na embarcação virada. Já estava escuro e passamos a noite ali. Não pensamos em nada na hora, deixamos o dia amanhecer para saber o que faríamos", conta Raimundo ao UOL.
Segundo o pescador, a noite foi de chuva, trovoadas e raios. "O meu amigo ficava me dando coragem. Nós conversávamos para conseguir vencer essa tarefa", conta ele.
Na sexta-feira (25), com a luz do sol, os dois se propuseram a buscar os itens pessoais que estavam soltos no oceano. "Colocamos tudo em cima do barco virado. O mar estava forte. Ficávamos descendo e subindo porque a onda levava", relembra Raimundo.
Os dias seguintes foram de luta pela própria sobrevivência. Eles já não tinham comida para se alimentar e começaram a tomar água da chuva com o auxílio do pano da vela da jangada. "Não passamos sede por isso, mas passamos fome. A gente só pensava em ter força e em Deus para nos dar coragem."
À deriva, os pescadores não conseguiram ter uma boa noite de sono. "Não tinha condição de dormir. Sempre estava chovendo e não havia cobertor. O único cobertor que tinha era o céu", explica Raimundo.
A ajuda veio apenas na terça-feira (29), quando uma lancha passou pelos pescadores perdidos. "Foi uma alegria para nós. Gritávamos tanto que ficávamos roucos", relembra ele. Na ocasião, a família já havia acionado a Marinha relatando que eles estavam desaparecidos.
Raimundo e Francisco voltaram ao chão firme e trouxeram com eles a jangada, instrumento essencial para o trabalho. Os dois foram encaminhados para uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da região para receber os atendimentos básicos. Segundo Raimundo, o único problema que teve após o acidente foi nas pernas, que ficou "meio curvada".
Raimundo conta que há 50 anos trabalha com a pescaria na mesma região e que nunca tinha passado por uma situação semelhante. "Já passei por problemas, mas nunca naufraguei", diz ele. Após o acidente, a dupla perdeu todos os peixes que haviam capturado.
O retorno pra casa, por sua vez, foi bastante celebrado por familiares e amigos, que se juntaram para recepcioná-los. "Uma alegria tremenda!", define Raimundo. A filha, Luziene Borges dos Santos, 38, endossa a afirmação do pai. "Eu fiquei muito emocionada ao saber da notícia que eles estavam vivos. Para mim e para nossa família foi uma alegria e tanto."
Apesar do sufoco, Raimundo não pretende ficar longe do mar. "Vou trabalhar porque é meu meio de vida. Não tenho outro", diz. "Não fiquei com medo do mar. Eu sinto um alívio quando estou lá. Eu gosto". O retorno, no entanto, acontecerá apenas daqui a alguns dias. Até lá, Raimundo quer cuidar da saúde e se recuperar totalmente dos dias à deriva.
O que diz a Marinha
Em nota enviada ao UOL, a Marinha do Brasil informou que tomou conhecimento do caso na noite de segunda-feira (28). "De imediato, a MB iniciou uma Operação de Busca e Salvamento, coordenada pelo Salvamar Nordeste, que está empregando o Navio-Patrulha 'Guaíba' e equipes da Capitania dos Portos do Ceará (CPCE). Adicionalmente, foi emitido Aviso aos Navegantes e realizado contato com a comunidade marítima, a fim de ampliar a divulgação sobre o ocorrido e alertar todas as embarcações que estejam navegando em áreas próximas ao desaparecimento para apoiar nas buscas", informou o órgão.
Ainda, de acordo com comunicado, a lancha "Flexeiras", de Praticagem de Fortaleza, foi quem avistou a embarcação dos pescadores a uma distância de 1,3 milha do Porto de Mucuripe (cerca de 2 km), e prestou o socorro aos pescadores.
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