Flordelis: 2º júri de réus por participar de morte de pastor passa de 12 h
Doze testemunhas foram ouvidas até as 23h40 desta terça-feira (12) no segundo júri popular de acusados de envolvimento na morte do pastor Anderson do Carmo, então marido da ex-deputada federal Flordelis, assassinado em junho de 2019.
A juíza Nearis do Santos Carvalho Arce conduz o julgamento — iniciado por volta das 11h, na 3ª Vara Criminal de Niterói — no qual estão sendo avaliadas as denúncias contra quatro réus. A previsão é que o júri termine por volta das 7h desta quarta-feira (13). A partir de 0h serão ouvidos os réus.
Além do homicídio em si, recaem sobre eles outras acusações, como a tentativa de envenenamento do pastor e participação na tentativa de forjar uma carta na qual Lucas Cézar dos Santos, outro filho adotivo de Flordelis, assumiria toda a culpa pelo assassinato de Anderson. Os réus são:
- Adriano dos Santos Rodrigues, um dos filhos biológicos de Flordelis, acusado de participar do plano para forjar a carta. Ele responde por uso de documento falso, falsidade ideológica e associação criminosa;
- Carlos Ubiraci Francisco da Silva, pastor e filho adotivo de Flordelis, é acusado de participar do plano do assassinato e das tentativas de envenenamento contra Anderson. É réu por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa;
- Marcos Siqueira Costa - Ex-policial militar, ele responde por uso de documento falso, falsidade ideológica e associação criminosa por participação no plano para incriminar Lucas;
- Andrea Santos Maia - Mulher de Marcos, usou o fato de ter autorização para visitá-lo na cadeia como forma de ajudar a articular a falsa carta, segundo a denúncia. É acusada de uso de documento falso, falsidade ideológica e associação criminosa;
Outro réu, que estaria no banco hoje, não compareceu. André Luiz de Oliveira, filho adotivo, também é acusado de envolvimento na tentativa de culpar Lucas e responde por uso de documento falso, falsidade ideológica e associação criminosa. O advogado de André passou mal, por isso houve a falta.
'Poder político' do pastor incomodava
Nos primeiros depoimentos, os delegados Bárbara Lomba e Allan Duarte — que conduziram as investigações da DHNSG (Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí) sobre a morte — responderam questões sobre o inquérito policial.
Em sua fala, Barbara Lomba, que chefiou a primeira parte das investigações, afirmou que a vítima tinha grande poder político — o que incomodava parte dos filhos de Flordelis.
Segundo ela, o pastor era "uma pessoa de ação", que tomava para si muitas responsabilidades. Em relação à atividade política de Flordelis, a delegada afirma que "todo mundo" no meio sabia que ele era o responsável pelas articulações.
"O grupo que ficou descontente com o que o Anderson estava representando queria deixar claro que tudo foi construído com a imagem da Flordelis. No meio político, havia pessoas que tratavam com ele, não com ela. Há uma decisão que a ação de Anderson precisava ser interrompida, e não podia ser pela separação", disse ela.
O depoimento de Bárbara Lomba foi corroborado por outra testemunha. Luana Pimenta, mulher de Wagner Andrade Pimenta, o Misael, disse que alguns dos filhos reclamavam do protagonismo de Anderson.
A nora relatou que havia um núcleo de filhos "preferidos", que não gostavam da alta influência de Anderson na carreira como cantora e no mandato de Flordelis na Câmara dos Deputados.
Luana afirma que Simone dos Santos Rodrigues, uma das filhas biológicas, era uma das que mais reclamavam de Anderson. Flordelis, de acordo com a nora, fazia coro às reclamações.
"Eu perguntei: 'por que não separa?' Mas ela [Flordelis] dizia que a separação iria queimar a imagem da igreja, que seria um escândalo. Então ela falava que Deus iria levar ele, que até o final do ano ele iria morrer", relata Luana.
Plano de envenenamento descoberto após suco
Além de Luana, também depuseram Misael e Alexander Felipe Matos Mendes, o Luan, dois filhos afetivos de Flordelis. Alexander, aliás, pediu que não fosse chamado de Luan no plenário — era prática comum de Flordelis mudar o nome de quem chegava à casa da família.
Ambos os filhos contaram que ficaram chocados na ocasião da morte do pastor.
As filhas de Carlos Ubiraci Francisco da Silva, um dos réus, também prestaram depoimento: Roberta (filha afetiva) e Raquel (filha biológica), além de uma outra filha afetiva, menor de idade.
Carlos responde por envolvimento na tentativa envenenamento. As três mulheres afirmaram que só souberam que havia uma tentativa de envenenamento quando a mãe delas, mulher de Carlos, bebeu um suco da geladeira de Flordelis na igreja e passou mal a ponto de ir a um hospital.
Raquel, última das filhas a depor, afirmou que, ao saber que a nora tinha ido ao hospital, Flordelis reclamou. A ex-deputada federal teria dito que deveria ter sido procurada pela família para que ela pudesse "reverter".
Todas contaram que uma outra neta biológica de Flordelis tomou uma bebida láctea da mesma geladeira e também passou mal. Durante o depoimento, a mãe das jovens estava no plenário e confirmou, afirmando com a cabeça, a versão da filha.Até as 23h40, também depuseram Regiane Rabelo, ex-patroa do réu Lucas, Alexandre Freires, filho adotivo de Flordelis, Eduardo da Silva Pereira e Claudia Inês Barbosa Pinto, amigos do réu Carlos.
Ex-PM participou de maior chacina do Rio
Não é a primeira vez que o nome de Marcos Siqueira Costa, um dos réus julgado hoje, é envolvido em homicídios. Ainda quando estava na PM, ele participou da Chacina da Baixada, a maior já praticada no estado, em 2005.
Marcos dirigiu o carro usado por outros quatro policiais para matar 29 pessoas pelas ruas de Nova Iguaçu e Queimados em menos de duas horas. Pela participação no crime, ele foi condenado a 480 anos e seis meses de prisão, por homicídio, tentativa de homicídio e formação de quadrilha.
Filhos foram condenados em novembro
Em uma sessão que durou 22 horas ininterruptas, a Justiça condenou em novembro de 2021 os primeiros envolvidos na morte de Anderson do Carmo.
Os filhos da ex-deputada Flávio dos Santos Rodrigues e Lucas Cézar dos Santos de Souza foram julgados na ocasião.
Flávio, acusado de efetuar os disparos que mataram o pastor, foi condenado a 33 anos e dois meses de prisão por homicídio, porte ilegal de arma de fogo, uso de documento falso e associação criminosa. Já Lucas, acusado de ter comprado a arma usada no crime, foi condenado a sete anos e seis meses de prisão por homicídio.
Em razão do número de acusados no processo, a juíza optou por dividir o julgamento em três sessões. Flordelis será julgada na última delas, marcada para 9 de maio, ao lado de duas filhas e uma neta.
Em agosto do ano passado, a política teve o mandato de deputada federal cassado por 437 votos a favor e apenas sete contrários, além de 12 abstenções.
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