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Dinheiro em colchão é furtado e haitianos adiam plano de trazer filhas a SP

Filhas do casal continuam morando com familiares no Haiti - Johnny Torres/Diário da Região
Filhas do casal continuam morando com familiares no Haiti Imagem: Johnny Torres/Diário da Região

Simone Machado

Colaboração para o UOL, em São José do Rio Preto (SP)

06/05/2022 20h12Atualizada em 06/05/2022 20h12

Um casal de haitianos que mora em São José do Rio Preto, a 440 km de São Paulo, teve a casa invadida e R$ 13,5 mil roubados. O dinheiro, que estava guardado embaixo de um colchão, era fruto de economia de quatro anos e seria destinado para trazer as filhas de 7 e 8 anos, que ainda vivem no Haiti, para o Brasil.

O mecânico Donald Jean Jacques, 44, e a esposa Marie Yvrose Fils, 45, relatam que, na manhã de sábado (30), foram até uma agência bancária e sacaram o valor de R$ 13,5 mil para trocar por dólar e então, enviar o valor para os familiares comprarem as passagens para as crianças viajarem até o Brasil.

Segundo eles, a autorização para a viagem já estava pronta e o saque foi necessário porque o banco que eles utilizam não realiza transações com o Haiti.

Com o valor em mãos, o casal colocou o dinheiro debaixo do colchão, na casa de fundos onde mora, no bairro São Francisco, e, em seguida, saiu para comprar frutas e verduras em um estabelecimento próximo.

Ao retornarem para o imóvel, cerca de dez minutos depois, encontraram a janela do quarto arrombada, a casa revirada e perceberam que o dinheiro havia sido furtado.

"Foi desesperador. Estava tudo mexido, as coisas jogadas e o dinheiro de um trabalho de anos sumiu, assim, em poucos minutos. Levaram tudo e acabaram com o nosso sonho de ter nossas filhas conosco", desabafa Jacques. Segundo o mecânico, apenas o dinheiro foi levado da residência.

A polícia foi chamada e um boletim de ocorrência foi registrado. O delegado João Lafayete Sanches Fernandes afirma que as investigações já apontaram um suspeito que, segundo ele, possui passagens policiais por crimes de receptação, furto de veículo e tráfico de drogas.

"A autoria está esclarecida, foi um morador do mesmo bairro. No entanto, ele ainda não foi localizado e também não encontramos o dinheiro ou outros bens que poderiam ter sido adquiridos com o dinheiro da vítima", explica o delegado.

Vaquinha virtual

Sensibilizados com a situação, vizinhos se mobilizaram para ajudar a arrecadar o valor furtado e, assim, fazer com que o casal consiga trazer as filhas para morarem com eles. Para isso, eles criaram uma vaquinha virtual e passaram a divulgar a situação nos grupos do bairro.

No sábado, quando eles perceberam o furto, eles entraram em desespero. Eles ajoelhavam, choravam e gritavam muito, aquela cena nos comoveu demais porque só quem é mãe sabe o quanto dói ficar longe dos filhos. A gente quer muito que eles consigam realizar esse sonho de trazer as crianças para perto.
Adriana Bonini de Farias Andrigo, professora vizinha do casal

A meta da vaquinha é arrecadar os R$ 13,5 mil que foram furtados. Até a tarde de hoje cerca de R$ 2 mil haviam sido prometidos.

Vida no Brasil

Donald e Marie são da cidade de Porto Príncipe, capital do Haiti, e deixaram o local há quatro anos para fugir da violência. Sem condições financeiras e sem saber como sobreviveriam no Brasil, eles deixaram as duas filhas sob os cuidados de familiares.

Desde que chegaram, eles vivem em São José do Rio Preto (SP), onde Donald trabalha como mecânico e Marie, em uma fábrica de salgados.

O Brasil é um bom país e a gente pretende reconstruir nossas vidas aqui, mas queremos as meninas junto, sempre foi esse nosso objetivo.
Donald Jacques, mecânico