'Só quero voltar à vida normal', diz mulher flagrada com sem-teto no DF
Sandra Mara Fernandes, a mulher que foi flagrada pelo marido personal trainer com o sem-teto Givaldo Alves em um carro em Planaltina (DF), relatou em um programa de TV que, antes do episódio, teve mudanças estranhas em seu comportamento, mas não percebia a gravidade dos sintomas e como eles a levariam a se relacionar com o morador de rua. Agora, ela afirma apenas querer voltar a ter uma 'vida normal'.
Em entrevista ao "Superpop", da RedeTV, Sandra explicou que, após o incidente, foi diagnosticada com transtorno bipolar afetivo e que hoje busca tratamentos para a condição. "Eu juro que eu não queria ter esse tipo de exposição. Eu só queria voltar para minha vida normal. Muitas vezes me sinto nojo de mim, por isso eu preciso continuar meu tratamento, para ter coragem para seguir em frente."
Apesar de nunca ter percebido a bipolaridade, ela diz que começou em meados de janeiro a agir de maneira impulsiva, a manifestar muita disposição para realizar diversas atividades e para trabalhar além do habitual.
"Nesse período eu mudei totalmente o meu comportamento. Eu fiquei eufórica, fazendo várias coisas ao mesmo tempo. Meu marido não tinha estranhado, porque ele ficou super feliz por eu estar alegre e super ativa".
Na ocasião, Sandra não tinha certeza do que havia desencadeado esse fenômeno, porém confessou não se importar, pois acreditava que era algo positivo. "Nesse momento de euforia, eu fiquei mais amorosa, mais elétrica. Eu me senti diferente, mas achava que eu tinha mudado para melhor. Eu queria ser aquela versão da Sandra, de uma mulher que não reclama, que não murmura".
Depressão
Para a comerciante, foi a primeira vez que sentiu algo semelhante. Ela aponta que essa transformação comportamental pode estar associada a um trauma do passado, envolvendo uma tragédia familiar. E naquela circunstância, poderia ter perdido a vida.
"Passei por um momento de depressão quando eu perdi a minha mãe. Se eu não tivesse procurado ajuda, eu teria tentado o suicídio, porque o meu sofrimento tinha chegado nesse nível. Então eu passei a me tratar com medicamentos por um ano", disse. "Na época, os médicos não diagnosticaram o transtorno de bipolaridade. Apontaram apenas para a depressão e não aprofundaram o caso. Eu tive apenas ajuda psiquiátrica através de remédio."
Ao narrar o dia no qual teve relações sexuais com Givaldo Alves, Sandra garantiu que não o conhecia diretamente, apesar de já tê-lo visto algumas vezes em frente a escola onde a filha estuda. Durante o surto psicótico, ela alegou que precisava fazer doações de objetos porque recebera uma mensagem divina. E decidiu entrar em contato com Alves e marcar um encontro com ele, pois, em sua mente, ele estava representando Deus.
"Eu estava fazendo doações junto com a minha sogra. Mais tarde, fui buscar minha filha na escola e, então, o indivíduo [Alves] chegou. Eu fiquei sozinha no carro enquanto ela saiu para pegar a minha filha na portaria. Eu não o conhecia, nunca tinha o visto na vida", contou. "Minha sogra sestranhou o momento em que dei um beijo nele na frente delas na escola. Quando eu fiz isso, eu enxerguei nele o meu marido e Deus ao mesmo tempo. A confusão mental começou ali".
Sandra alegou que tem dificuldades para se lembrar com clareza de como as coisas se desenvolveram naquele dia. No entanto, em uma conversa com uma amiga no hospital, depois do flagrante, ela teve novas recordações. "Foi em um áudio feito pela minha amiga quando eu relatei que, primeiramente, o encontrei na porta da escola da minha filha. E depois ele marcou um encontro comigo na rodoviária e fui. Mesmo assim, eu achava que estava indo encontrar Deus, que ele tinha possuído o corpo daquele homem".
Quando chegaram ao local, os dois iniciaram uma conversa e trocaram carícias. Sandra recorda que constantemente o chamava de "marido", pois era nisso que acreditava. Após o diálogo, o morador de rua entrou no carro de Sandra e os dois se deslocaram até uma rua próxima da residência de sua família.
"Eu o levei até o meu carro. E no meio do caminho ele me pediu para fazer um percurso até determinado local, mas não estranhei, achava que era meu marido. Não imaginava que quando eu estacionasse, começaríamos o ato sexual. Não estranhei na hora".
Chegada do personal
Assim que deu por sua ausência, o marido de Sandra, Eduardo Alves, saiu para procurá-la pela vizinhança. Quando reconheceu o veículo e percebeu que a esposa estava dentro dele, acompanhada de outro homem, ele imediatamente supôs se tratar de uma violência sexual.
"No momento eu percebi que tinha coisa errada. Afinal estamos casados há 3 anos, nada ali estava normal. Eu sei como ela é. Para mim, o que ela passou foi um abuso", disse Eduardo Alves ao programa de TV. "Não o agredi exatamente, só tentei tirá-lo de dentro do carro achando que minha esposa estava em perigo. Saímos do local e fomos direto para o hospital. Ela passou pelo IML, e não sofreu nenhuma lesão".
Por outro lado, Sandra reforça que durante o confronto entre o marido e o morador de rua, o surto psicótico permaneceu e entrou em desespero. "Eu não entendia como meu marido estava do meu lado e ao mesmo tempo estava na rua. Aí eu comecei a enxergar o homem ao meu lado no carro como Deus. Quando ele foi agredido, eu me ajoelhei no chão e tentei interceder por céus: 'Por favor não bate nele, ele é Deus, eu imploro'".
Ela afirma que não se recorda do momento em que se relacionou com Givaldo Alves dentro do carro. No entanto, horas mais tarde teve um novo surto no hospital e precisou de um tratamento mais rígido. "Tenho apenas memória parcial do ato sexual. Eu não me lembro da conversa em si, porque foram muitas horas dentro do carro. Mas, no hospital, eu tive um segundo surto, no qual eu fui amarrada por mais de quatro homens, porque eu reagia e tinha uma força que nunca imaginei. Eu fui parar em três hospitais no total. Depois, houve um terceiro surto, porque eu não queria vestir minhas roupas. Foram os piores dias da minha vida".
Sandra Mara Fernandes vivia harmoniosamente com o marido e os dois filhos e trabalhava em sua loja de roupas. Em virtude do incidente, ela se viu obrigada a fechar o estabelecimento e limitar as operações para o e-commerce porque teme ter outro surto.
Ela também alegou sofrer perseguições nas redes sociais e se sente humilhada pela experiência e sua repercussão na mídia. Agora, se dedica ao tratamento psicológico e espera recuperar-se dos acontecimentos.
"Depois que deixei o hospital e vi toda essa humilhação que fizeram comigo, eu não acreditei, porque criaram um personagem de horror para mim, me colocaram no fundo do poço. Superar uma situação como essa não é fácil", criticou Sandra.
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