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RJ: Perito pediu para ser levado a hospital após ser baleado por militares

O perito papiloscopista Renato Couto, morto por militares da Marinha - Arquivo Pessoal
O perito papiloscopista Renato Couto, morto por militares da Marinha Imagem: Arquivo Pessoal

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

17/05/2022 12h33

Após ser agredido, baleado e colocado em uma van da Marinha, o perito papiloscopista Renato Couto, 41, se identificou como policial e pediu que os militares —que admitiram o crime à polícia— o levassem a um hospital.

A informação relatada por testemunhas consta em decisão que converteu a prisão em flagrante dos militares em preventiva. Em vez de prestarem socorro, os dois sargentos e um cabo da Marinha, juntamente com o pai de um deles, jogaram o policial ferido no rio Guandu, na Baixada Fluminense, segundo relata a mesma decisão. Renato morreu afogado.

"Ainda de acordo com os depoimentos prestados em sede policial, a vítima, já no interior da van, novamente se identificou como policial civil e pediu para ser levada para um hospital, o que não foi atendido. Pelo contrário, o policial foi jogado no rio Guandu e os custodiados deram início às ações para encobrir o delito", diz um trecho do documento.

De acordo com o atestado de óbito, a vítima morreu por asfixia por afogamento. Ou seja, o perito ainda estava vivo quando teve o corpo arremessado. O laudo também destaca hemorragias causadas pelos tiros no abdômen e na perna.

A briga entre o policial e o grupo começou na semana passada, quando o perito identificou que um o ferro-velho havia receptado materiais furtados da obra do policial.

Em uma discussão com o dono do ferro-velho, Lourival Ferreira Lima, ficou acertado que o policial voltaria na última sexta-feira (13) para ser ressarcido. No entanto, no dia seguinte à discussão, Renato sofreu uma emboscada, segundo investigações da Polícia Civil.

Lourival, o filho dele, Bruno Santos Lima, supervisor do Setor de Transportes do 1º Distrito Naval e os outros militares da Marinha, Manoel Vitor Silva e Darios Fideles Motta, foram presos por suspeita de agredir, balear e ocultar o corpo do papiloscopista. Segundo a polícia, eles confessaram envolvimento no crime.

Eles vão responder por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. O corpo de Renato foi encontrado ontem às margens do rio Guandu e identificado pela família.

Vídeo mostra policial sendo colocado em van

Uma testemunha gravou em vídeo o momento em que Renato Couto foi imobilizado com uma chave de braço e colocado em uma van, na região da Praça da Bandeira, zona norte do Rio. O vídeo, de quase dois minutos, mostra ao menos três homens imobilizando o policial e deixando o local.

Um outro vídeo, que está sendo periciado pela Polícia Civil, mostra o momento da discussão entre Renato e o dono do ferro-velho. Nas imagens, o policial aparece apontando uma arma e gritando com Lourival. Em alguns momentos, ele chega a empurrar o dono do ferro-velho.

De acordo com as investigações, foi após uma discussão com o policial que Lourival acionou o filho Bruno e armou uma emboscada.

O diretor do Departamento Geral de Polícia da Capital, delegado Antenor Lopes, afirmou ao UOL que, após arremessarem o corpo no rio Guandu, os militares lavaram duas vezes o carro na tentativa de eliminar os resquícios de sangue do veículo.

"Trata-se de um crime bárbaro, chocante. A gente lamenta que militares das Forças Armadas tenham se envolvido nisso. Eles tentaram ainda lavar o carro após a desova do corpo. Lavaram duas vezes: uma em um lava-jato perto do local, em Austin, Nova Iguaçu [Baixada Fluminense] e outra na garagem do próprio distrito naval, onde os três serviam. Chegaram a usar cloro", informou o delegado.

O que diz a Marinha

Procurada, a Marinha informou que tomou conhecimento na noite de sábado (14) da ocorrência envolvendo militares da ativa do Comando do 1º Distrito Naval.

"Os militares envolvidos foram presos em flagrante pela polícia e responderão pelos seus atos perante a Justiça", afirmou a Marinha, por meio de nota.

A Marinha disse que se solidariza com os familiares da vítima e "reitera seu firme repúdio a conduta e atos ilegais que atentem contra a vida, a honra e os princípios militares".

O UOL tenta contato com a defesa dos militares. Assim que houver uma manifestação, o posicionamento será incluído nesta reportagem.