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Mãe diz em audiência que Estado assassinou Kathlen; PMs negam emboscada

Kathlen Romeu, 24, morta em ação policial no Rio, estava grávida de 4 meses - Reprodução/Instagram_rogeriojorgeph
Kathlen Romeu, 24, morta em ação policial no Rio, estava grávida de 4 meses Imagem: Reprodução/Instagram_rogeriojorgeph

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

16/05/2022 19h24

Mãe da jovem Kathlen Romeu, 24, que morreu com um tiro no peito durante uma ação da PM, no Complexo do Lins, em junho do ano passado, foi a segunda testemunha a ser ouvida durante a primeira audiência sobre a morte da designer de interiores que estava grávida de quatro meses.

À Justiça, Jacqueline Oliveira lembrou a dor que a acompanha desde 8 de junho. "Eu perdi como mãe, como avó e como cidadã. É muito ruim ouvir que o Estado assassinou sua filha. Fui condenada a uma dor. Agora, sou mãe sem filho. Não soube quem era meu neto, menino ou menina. Tiraram toda minha vida (...) Hoje, não tenho mais nada. Agora, sou uma mulher que toma antidepressivo."

Jacqueline reforçou durante depoimento que a filha foi vítima da prática de troia —quando policiais se escondem na comunidade para atacar o tráfico de drogas, ação comum nas favelas do Rio, segundo moradores.

Também ouvidos nesta segunda-feira, PMs que estavam na comunidade no momento em que Kathlen foi baleada negaram a prática.

A mãe da vítima lembrou que estava no trabalho quando soube que a filha havia sido baleada. Ela recorda ter sido informada por telefone que a filha havia sido baleada no braço.

"Achei que ela tivesse sido assaltada. Gritei: 'Deus, deixa minha filha, mesmo que seja sem o braço. Estava desesperada, mas nunca achei que minha filha podia estar morta. Ainda falei para o motorista [a caminho do hospital]: 'Vai rápido, eu preciso segurar a mão da minha filha'", afirmou.

Foi na unidade de saúde que Jacqueline soube que Kathlen havia morrido.

A audiência desta segunda-feira na Auditoria da Justiça Militar foi realizada para tratar a denúncia de fraude processual ocorrida na ação. Cinco PMs são acusados de alterarem a cena do crime.

Onze meses após a morte de Kathlen, o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) ainda não ofereceu denúncia do homicídio, apesar de uma perícia da Delegacia de Homicídios da Capital ter concluído que o tiro que a atingiu partiu de dois PMs envolvidos na ação.

O advogado da família, Rodrigo Mondego, integrante do Conselho de Direitos Humanos da OAB-RJ (Ordem dos Advogados do Brasil), diz esperar que a denúncia ocorra logo.

"A gente espera que a Justiça comece a ser feita nessa questão da fraude processual e falso testemunho e que, enfim, a DH [Delegacia de Homicídios] e o promotor responsável do caso façam a denúncia e o caso vá para a Justiça."

Seis PMs são ouvidos como testemunhas

Também prestaram depoimento, na tarde de hoje, os policiais militares Adilson Ferreira de Oliveira, Erivelton de Lima, Avelino Rodrigues, Rodrigo de Oliveira Menezes e Alan Soares. Eles foram ouvidos como testemunhas —os agentes atuavam em outra guarnição que estava na comunidade.

Moradores negam que, na ocasião, tenha havido confrontos e presença de traficantes armados.

Os policiais foram questionados sobre a prática de troia na comunidade, citada pela mãe de Kathlen, e negaram a ocorrência. Os PMs informaram que estavam na favela em patrulhamento e que se deslocaram para o local onde a jovem foi baleada, após ouvirem os primeiros tiros na comunidade.

O grupo negou ainda recolhimento de cápsulas de bala no local e explicou que retornou para a base da UPP do Lins, após serem hostilizados por moradores. Os agentes negam ter permanecido na região para preservar o local do crime para perícia.

No dia 27 de junho, haverá uma nova audiência para ouvir o policial Juan Fernandes Lima. Ele não compareceu hoje à audiência devido a licença médica.

Segundo a Justiça, posteriormente, será aberto prazo para defesa apresentar as provas e por último, os cinco réus serão interrogados. Eles são o capitão da PM Jeanderson Correa Sodré, o terceiro sargento Rafael Chaves de Oliveira e os cabos Rodrigo Correia de Frias, Claudio da Silva Scanfela e Marcos da Silva Salviano.