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União indígena recorre ao governo peruano para buscar desaparecidos no AM

Rio Itaquaí na região da Terra Indígena Vale do Javari, em Atalaia do Norte (AM) - BRUNO KELLY/AMAZÔNIA REAL
Rio Itaquaí na região da Terra Indígena Vale do Javari, em Atalaia do Norte (AM) Imagem: BRUNO KELLY/AMAZÔNIA REAL

Juliana Arreguy

Do UOL, em São Paulo

10/06/2022 18h08

A Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) encaminhou ontem (9) um pedido de ajuda ao governo do Peru para encontrar o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips, desaparecidos no Vale do Javari (AM) desde o domingo (5).

Em nota divulgada nesta sexta-feira (10), assinada em conjunto com a Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) e o OPI (Observatórios dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato), a Univaja afirma ter recebido um retorno de Rómulo Acurio, embaixador peruano que atua no Brasil, dizendo ter encaminhado a solicitação às autoridades peruanas.

"Esta solicitação foi realizada em função da atuação transnacional dos agentes criminosos potencialmente envolvidos nas circunstâncias do desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips. Transmitimos nosso profundo agradecimento ao governo peruano pela sua cooperação neste momento dramático."

Bruno e Dom desapareceram durante o trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte. Os dois foram vistos pela última vez às 7h de domingo em São Rafael.

Testemunhas disseram à polícia que o barco da dupla foi seguido por uma lancha pilotada por Amarildo da Costa de Oliveira, 41, conhecido como "Pelado". Amarildo foi preso em flagrante na terça (7) por porte de munição de uso restrito das Forças Armadas. Ontem (9), a Polícia Federal solicitou a prisão preventiva do suspeito após encontrar vestígios de sangue na embarcação.

Segundo o coordenador-geral da Univaja, Paulo Barbosa da Silva, Dom Phillips fotografou invasores armados ligados a Amarildo na divisa de um território indígena dois dias antes do desaparecimento.

"O Bruno e o Dom Phillips foram visitar a equipe da Univaja quando um grupo de invasores esteve lá, no limite da terra indígena. Eles chegaram lá e ficaram mostrando arma de fogo, para ameaçar. O jornalista tirou a foto, e os invasores voltaram para a comunidade deles, que fica na área do Pelado, que é um dos suspeitos", diz.

Onde o indigenista e o jornalista desapareceram - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Escalada de violência

Localizada na fronteira com o Peru e a Colômbia, com acesso restrito por vias fluviais e aéreas, a região do Vale do Javari é maior do que a Áustria e abriga 6.300 indígenas de 26 grupos diferentes, sendo 19 deles isolados — trata-se da maior concentração de povos isolados no mundo.

De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, houve um crescimento de 9,2% na violência letal entre 2018 e 2020 em cidades de floresta na região Norte do país. Isso inclui uma guinada na ocupação da área demarcada, no avanço do tráfico de drogas, da caça clandestina, da extração ilegal de madeira e da mineração de ouro.

"Aquela região tem questões envolvendo o narcotráfico, a atividade de madeireira, de pesca ilegal e garimpo. E a organização indígena está nesse enfrentamento contra a invasão das terras", declarou Fabio Ribeiro, coordenador-executivo do OPI.