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Suspeito estava acompanhado em barco que seguiu Dom e Bruno, diz testemunha

Preso em flagrante por posse de munição de uso restrito, Amarildo da Costa de Oliveira, 41, é apontado pela Polícia Militar do Amazonas como suspeito de envolvimento no desaparecimento do indigenista e do jornalista britânico desaparecidos na Amazônia - Divulgação
Preso em flagrante por posse de munição de uso restrito, Amarildo da Costa de Oliveira, 41, é apontado pela Polícia Militar do Amazonas como suspeito de envolvimento no desaparecimento do indigenista e do jornalista britânico desaparecidos na Amazônia Imagem: Divulgação

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

10/06/2022 13h30

Uma testemunha disse à Polícia Civil ter visto no último domingo (5) Amarildo da Costa de Oliveira, 41, com outro homem na lancha logo atrás da embarcação onde estavam o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Araújo Pereira, desaparecidos há cinco dias no trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte (AM), no Vale do Javari.

Apontado como suspeito de envolvimento no sumiço, Amarildo teve a prisão temporária decretada ontem à noite pela Justiça após peritos encontrarem vestígios de sangue em sua lancha. O homem que estava com ele na embarcação ainda não foi identificado pela polícia. Amarildo já tinha sido preso em flagrante na terça-feira (7) por posse de munição de uso restrito.

Em entrevista à TV Globo, o delegado Alex Perez detalhou o relato feito na quarta-feira (8) por uma das testemunhas do caso, que disse ter presenciado a passagem da embarcação com o correspondente do jornal britânico The Guardian e o servidor licenciado da Funai (Fundação Nacional do Índio).

Cerca de dois minutos depois, o delegado disse que a testemunha revelou ter visto a lancha de Amarildo passar com outro homem. "Seguindo viagem, em determinado momento, [a testemunha] viu a embarcação de Amarildo. Só que dessa vez, Amarildo estava sozinho", disse Alex Perez.

Amarildo foi apontado por testemunhas como o dono de uma lancha verde com a logomarca da Nike, segundo a Polícia Militar.

"Não há nada que ligue Amarildo ao caso de desaparecimento. Não há testemunhas [que prestaram depoimento]. A própria polícia não tem prova", disse o advogado Ronaldo Caldas da Silva Maricaua, que atuou no caso até a última quarta-feira. A família do suspeito contratou o advogado Davi Barbosa de Oliveira. Procurado pelo UOL, ele ainda não se manifestou sobre o caso.

Paulo Barbosa da Silva, coordenador-geral da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), disse que o repórter inglês fotografou homens armados que ameaçavam os indígenas. Os homens, segundo Barbosa, seriam ligados a Amarildo.

O episódio ocorreu dois dias antes do desaparecimento, na divisa de um território indígena, de acordo com Barbosa. "O Bruno e o Dom Phillips foram visitar a equipe da Univaja, quando um grupo de invasores esteve lá. Eles ficaram mostrando arma de fogo, para ameaçar. O jornalista tirou a foto, e os invasores voltaram para a comunidade deles, que fica na área [do suspeito preso]", relata.

Defensoria oficia PF por gabinete de crise em Atalaia do Norte

A DPU (Defensoria Pública da União) encaminhou na madrugada de hoje um ofício à Polícia Federal solicitando a instalação de um gabinete de crise no município de Atalaia do Norte (AM) para agilizar as buscas por Bruno e Dom.

Atualmente, a PF coordena um comitê de crise em Manaus, distante 1.136 quilômetros de Atalaia do Norte, que era o destino final de Pereira e Phillips quando sumiram.

O órgão também pede o acompanhamento de um indígena indicado pela Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) em cada embarcação ou aeronave de busca. O documento cita a determinação judicial desta quarta-feira (8) após ação civil pública, que autoriza a DPU e o Ministério Público Federal a requisitar o suporte às buscas diretamente às forças de segurança.

No documento, a DPU indica que o gabinete de crise deve reunir ao menos uma vez por dia todos os órgãos de segurança pública envolvidos nas buscas, que também contam com o apoio da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas, Marinha e Exército "para informar como foram as buscas e alinhar estratégias".

Procurada, a PF disse que só se manifestará sobre o caso no final da tarde de hoje.

Onde o indigenista e o jornalista desapareceram - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

O que se sabe sobre as investigações e as buscas

Oito pessoas prestaram depoimento à polícia, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas. O MPF (Ministério Público Federal), que abriu investigação do caso, acionou Polícia Federal, Polícia Civil, Força Nacional e Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari.

A equipe de busca e salvamento vasculha os rios Javari, Itaquaí e Ituí desde segunda-feira (6). Militares da Capitania Fluvial de Tabatinga (AM), duas lanchas, uma moto aquática e um helicóptero estão sendo usados nos trabalhos, segundo a Marinha.

Mergulhadores estão no local, mas não chegaram a atuar nos rios, porque não foram encontrados vestígios da embarcação ou sinais de conflitos.

Por onde eles passaram

Segundo a Univaja, Bruno e Dom foram visitar uma equipe de vigilância indígena perto do lago do Jaburu, nas imediações da base da Funai no rio Ituí, para que o jornalista pudesse conversar com indígenas que vivem no local.

As entrevistas ocorreram na última sexta-feira (3). Na volta, pararam na comunidade ribeirinha São Rafael, onde Bruno teria uma reunião com o líder comunitário "Churrasco". Como o líder não estava no local, Bruno, então, conversou com a esposa dele antes de sair.

A dupla foi vista pela última vez por volta das 7h de domingo, a bordo de um barco. Eles sumiram no trajeto entre São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte (AM), onde eram aguardados por duas pessoas ligadas à Univaja.