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Influencer ironiza estacionamento para autista: 'quando vai ter pra gordo?'

Pedro Paulo Couto

Colaboração para o UOL, em Goiânia

15/06/2022 16h23Atualizada em 15/06/2022 16h23

A Polícia Civil de Goiás investiga uma denúncia de possível discriminação cometida por uma influenciadora digital de Anápolis (GO), a 55 km de Goiânia. Larissa Rosa, que também é maquiadora, postou ontem em seu perfil nas redes sociais um vídeo no estacionamento de um shopping da capital goiana com piadas sobre a reserva de vagas para pessoas com transtorno do espectro autista.

Na gravação, ela diz que "o mundo está muito difícil, eu quero saber quando que vai ter vaga para gordo estressado?". Em seguida, Larissa escreveu na postagem que achou que a vaga era "pra viado". O vídeo foi publicado apenas na função melhores amigos, que, segundo ela, tem 18 pessoas, no entanto, foi repostado publicamente e gerou comoção.

A maquiadora recebeu várias mensagens com críticas, e então usou também as redes sociais para se desculpar. "Refleti sobre toda a situação e quero me desculpar. Minhas palavras não podem ser vistas como brincadeira e não deveriam ter sido ditas. Acreditem, elas não me representam em nada. [...] Me desesperei inicialmente com a repercussão da situação e com um bombardeio de mensagens revoltadas (com razão)".

Segundo a Polícia Civil, a corporação tomou todas as providências de direito e instaurou inquérito policial, identificando formalmente testemunhas e a influenciadora. Larissa será investigada pelo crime de discriminação de pessoa em razão de deficiência, previsto no Estatuto da Pessoa com Deficiência. Se condenada, pode ter que cumprir pena de 2 a 5 anos de prisão.

Repúdio

Associações e especialistas no assunto repudiaram as publicações. Presidente da Comissão de Direitos da Pessoa com Deficiência da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Goiás, Tatiana Takeda lamentou que a sociedade desconheça as características dos autistas.

"O espectro autista é tão vasto que podemos dizer que nenhum autista é igual ao outro. No entanto, parte substancial deles precisa, sim, de acessibilidade para poder desempenhar direitos básicos como o de ir e vir. No que toca às vagas reservadas, a Secretaria Municipal de Mobilidade de Goiânia emite o cartão que garante esse direito ao autista com base no relatório médico que informa o diagnóstico do paciente", explicou.

A presidente destacou ainda que, com relação a manifestações discriminatórias, é importante "que a sociedade saiba que aquele que se sentir atingido e constrangido, seja pessoa física, jurídica ou uma associação representativa, por exemplo, pode fazer uma ocorrência na delegacia".

A Associação de Pais de Autistas em Goiânia também se manifestou. De acordo com a entidade, além de proferir falas totalmente capacitistas, a mulher "não tem a mínima noção de como é difícil para conseguirmos o mínimo de direito para nossos filhos".

Pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) têm direito a vagas especiais em estacionamentos em qualquer lugar do Brasil, de acordo com a lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, que definiu o autismo como uma deficiência, ampliando os seus direitos.