Candidatas negras entram no Itamaraty 5 anos após serem tidas como brancas
Depois de uma batalha judicial que durou cinco anos, duas candidatas negras antes consideradas "brancas" conseguiram entrar no Itamaraty como cotistas. A economista quilombola Rebeca Mello, 28 anos, e a publicitária ex-integrante do movimento negro Verônica Couto, 38, foram aprovadas após uma entrevista em uma comissão do Ministério das Relações Exteriores. A decisão foi publicada no Diário Oficial de terça-feira (21).
Como o UOL mostrou, isso só foi possível depois de as duas fecharem um acordo com o governo federal que, segundo a defesa delas, contou com as participações do ministro Carlos França e do advogado-geral da União, Bruno Bianco. Elas abriram mão das ações judiciais em troca de terem a chance de uma nova entrevista na comissão de heteroidentificação do concurso.
Rebeca Mello disse que será a primeira diplomata quilombola. O Itamaraty não prestou esclarecimentos ao UOL sobre isso. Ela e Verônica até já foram incluídas no grupo de mensagens dos novos aprovados no concurso.
A minha ficha ainda não cai muito. Depois de cinco anos de espera. É muita novidade, mas estou feliz que a justiça esteja sendo feita"
Rebeca Mello, economista e futura diplomata
Enquanto lutava para ser reconhecida pelo Itamaraty, Rebeca foi nomeada escrivã da Polícia Federal. Ela está na primeira semana de trabalho numa delegacia voltada ao combate ao narcotráfico.
Verônica Couto disse que a nova etapa reforça sua condição. "Não é possível que venha mais um questionamento em relação à nossa negritude", afirmou Verônica.
Estou um pouco alerta ainda, mas esperançosa. Mas acho que só vou conseguir celebrar de fato quando a gente tomar posse"
Verônica Couto, publicitária e futura diplomata
As duas dizem considerar que a jornada trouxe aprendizados. "Acabei confiando muito em Deus mesmo e nos planos Dele para nossa vida", disse Rebeca. "Às vezes, a gente é muito ansioso."
Verônica afirma estar mais resiliente "diante dos desafios e, principalmente, diante de tudo pelo que eu passei. Eu estava disposta a lutar para reconquistar a aprovação, que entraria no Itamaraty mais amadurecida."
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