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Estelionato sentimental: Falso PM é suspeito de golpes em namoradas no DF

Segundo vítimas que registraram boletins de ocorrência, Samuel alegava que estava com "cartão bloqueado" para pegar dinheiro emprestado com elas - Redes sociais
Segundo vítimas que registraram boletins de ocorrência, Samuel alegava que estava com 'cartão bloqueado' para pegar dinheiro emprestado com elas Imagem: Redes sociais

Lorena Barros

Do UOL, em São Paulo

14/07/2022 22h05Atualizada em 14/07/2022 22h05

Um homem suspeito de se passar por policial militar e manter relacionamentos amorosos para dar golpes financeiros nas parceiras é investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal após denúncias de pelo menos quatro mulheres. Segundo os boletins de ocorrência registrados contra o suspeito, o caso é investigado como estelionato sentimental.

A primeira pessoa a desconfiar e formalizar queixa contra Samuel Carlos da Silva Batista, 30, foi uma empresária que pediu para não ser identificada. Ela engatou um relacionamento com ele em 2020, após conhecê-lo por amigos em comum, mas logo passou a fazer "empréstimos" ao parceiro, que afirmava ter problemas na conta bancária. Eles ficaram juntos por quase dois anos e o prejuízo calculado por ela chegou a R$ 26 mil.

"Durante os primeiros cinco meses de namoro, quem bancava tudo era ele. Depois disso, ele disse que queria comprar um carro e foi fechar esse negócio. Só que para ele fechar esse negócio, ele disse que ainda faltavam R$ 4 mil, pois estava com um cartão bloqueado. Falei: 'vamos fazer assim, eu te empresto os R$ 4 mil e quando a sua conta desbloquear, você me paga'. Ficou acordado assim, só que nunca houve o pagamento", contou a mulher em entrevista ao UOL.

"Nesse tempo, ele começou a falar desse cartão bloqueado o tempo todo, então ele foi tirando dinheiro aos poucos, emprestado. Em setembro, eu percebi que tinha algo errado, que não era possível um cartão passar tanto tempo bloqueado", complementa. Apesar de achar o comportamento suspeito, na ocasião, ela não imaginou que estava sofrendo um golpe.

Meses depois, a empresária soube que Samuel andava acompanhado de outra mulher e iniciou uma "investigação" por conta própria. "Eu achei que era apenas uma traição", diz. Desconfiada, ela decidiu conversar com a "outra namorada" do suspeito. Ambas notaram inconsistências nas falas e perceberam que caíram em um golpe. Da segunda mulher, ele tinha emprestado pelo menos R$ 2 mil.

"Foi aí que percebi que tinha caído em um golpe e que outras pessoas também. Me juntei a essa outra moça e a gente foi à delegacia", afirmou. Na delegacia, a vítima descobriu que o último emprego formal do homem foi em 2017.

"Ele não enganou só a mim, ele enganou amigos de oito anos [de relação], a família, porque a própria família acreditava que ele era policial, e nossos amigos em comum também", afirmou. O caso se tornou público e, segundo a empresária, mais de 14 mulheres a procuraram após a história ser divulgada. Entre essas 14, duas decidiram formalizar denúncias contra ele na polícia.

Em conversa com uma das vítimas, homem mostra fardamento da Polícia Militar - não há qualquer registro dele como policial  - Divulgação - Divulgação
Em conversa com uma das vítimas, homem mostra fardamento da Polícia Militar - não há qualquer registro dele como policial
Imagem: Divulgação

Segundo a vítima, quando outras mulheres se reuniram para falar sobre os golpes sofridos por elas, notaram repetições na forma de agir do homem. Além das narrativas de cartão bloqueado e compra de carro, ele também afirmava que precisava de dinheiro emprestado para cursos de capacitação e até mesmo para pagar uma cirurgia de coração para a mãe e outros procedimentos para a irmã.

Segundo boletim de ocorrência, uma terceira vítima do suspeito chegou a pegar dois empréstimos de R$ 5 mil para ajudá-lo e comprou um carro em 69 parcelas de R$ 687 para utilizar com ele, sem que ele tenha quitado qualquer parcela do veículo. Posteriormente, segundo relato da vítima, o homem, que afirmava ser um policial de Nova Gama (GO), chegou a anunciar o carro em um site de vendas. Somadas, as perdas da mulher em denúncia à polícia excede os R$ 70 mil.

As mulheres que se relacionaram com Samuel também notaram outro comportamento comum a ele: o homem frequentemente andava armado, narrava "causos" dos seus dias fictícios como policial militar e chegava a mandar fotos fardado para elas.

De acordo com decisão judicial que concedeu medida protetiva às vítimas, uma pesquisa foi feita nos sistemas da Polícia Civil de Goiás e foi constatado que o nome dele não consta nos quadros da Polícia Militar daquele estado e que o homem não tem arma oficialmente registrada em nome dele. O nome dele também não consta no efetivo policial do Distrito Federal.

Na plataforma de intermediação de serviços Get Ninjas, Samuel Carlos da Silva Batista aparece inscrito como detetive particular, tendo já negociado 12 prestações de serviço. Ele ainda oferece consultorias de arte, musical, de marketing, finanças, carreira, imagem, RH, entre outros.

Em registros públicos de concursos do estado de Goiás, o nome do suspeito aparece como candidato para vagas como vigilante penitenciário, bombeiro militar e policial militar. A reportagem localizou registros de eliminação e desclassificação, mas não encontrou aprovações.

O UOL entrou em contato com Samuel para saber o lado dele quanto às acusações. Em resposta, ele afirmou que deseja se defender, mas disse que vai conversar com a advogada dele antes de se posicionar. Ele se recusou a fornecer o contato da advogada à reportagem e não deu prazo para se pronunciar. O espaço segue aberto para posicionamento e será atualizado tão logo haja manifestação.

A Polícia Civil do Distrito Federal confirmou que investigações sobre os casos estão em andamento pela DEAM II (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher) e pela 26ª Delegacia de Polícia de Samambaia do Norte. Por se tratar de crimes que envolvem pedidos no âmbito da Lei Maria da Penha, já que as vítimas pediram medida protetiva contra ele, o caso segue em sigilo.