Após incêndio, 25 de Março retorna com baixo movimento; veja interdições
Poucos compradores, muitos curiosos e um cheio forte de plástico queimado. Essa é a primeira impressão de quem chega à rua 25 de Março, no centro de São Paulo, depois que a maioria das lojas foi autorizada a reabrir após um incêndio que atingiu quatro imóveis da região. Enquanto os consumidores retomam as compras e os curiosos tiram fotos, os comerciantes contam os prejuízos e planejam demissões.
Ontem (14), algumas pessoas foram à região para finalmente ver de perto o prédio onde o fogo começou. O esqueleto de dez pavimentos na altura do número 78 da rua Comendador Abdo Schahin é visto de frente a partir da esquina das ruas 25 de Março com a pequena Niazi Chohfi.
O incêndio teve início na noite de domingo (10). O odor e a fumaça ainda se desprendiam do edifício 12 horas depois de o Corpo de Bombeiros finalmente debelar as últimas chamas, por volta das 22h20 de quarta-feira (13). Com o trabalho concluído, todas as ruas foram liberadas aos comerciantes e pedestres, exceção à Comendador Abdo Schahin e à Niazi Chohfi.
Para os carros, outras ruas continuam fechadas, segundo a CET (Companhia de Engenharia e Tráfico):
- Rua 25 de Março em dois pontos: com a rua Lucrécia Leme e com a rua Niazi Chohfi;
- Rua Comendador Afonso Kherlakian com a Comendador Abdo Schahin;
- Rua Comendador Abdo Schahin com a rua Cavalheiro Basílio Jafet;
- Rua Barão de Duprat com a rua Doutor Itapura de Miranda.
"Movimento caiu 90%"
Até que as ruas fossem liberadas, no fim da manhã de quarta, o movimento na região havia caído 90%, obrigando até os lojistas não afetados pelos bloqueios a fecharem as portas mais cedo, contou ao UOL a diretora-executiva da Univinco (União dos Lojistas da rua 25 de Março e Adjacências), Claudia Urias. Ela estima em até 300 mil a média diária de consumidores na região antes do incêndio.
"Antes da liberação, 80% das lojas foram fechadas, quase 2.800. A maioria ficava no miolo, na parte principal 25 de Março", afirma.
Umas 100 lojas perderam tudo queimado, mas ainda não sabemos o número ao certo porque essas áreas ainda estão interditadas."
Claudia Urias, diretora-executiva da Univinco
Ela prefere não estimar o tamanho do prejuízo dos lojistas porque a última pesquisa de faturamento da região ocorreu em 2019, antes da pandemia de covid-19, quando R$ 14 bilhões foram movimentados, diz. "Por causa do coronavírus, mais de mil lojas fecharam. Vamos fazer um novo censo em 2022."
Questionada, a ACSP (Associação Comercial de São Paulo) diz que o prejuízo dos lojistas é "incalculável porque é a soma dos dias fechados com a perda de material por alguns comerciantes".
"Perdemos R$ 30 mil"
Aliviada com o desbloqueio da parte principal da rua 25 de Março, a gerente da Ita Decorações, Raquel Santana, 47, estima em R$ 30 mil o prejuízo que a loja sofreu por ficar fechada nesta semana.
"Ontem [terça] a gente já podia reabrir, mas não teve movimento", conta. "Hoje [quarta] estamos com metade dos clientes."
Gerente da loja matriz da tradicional Armarinhos Fernando, Ondamar Antonio Ferreira, 50, afirma que a perda financeira ainda está sendo calculada. Ontem, ele estimava queda de 25% no movimento, índice que deve melhorar na sexta e no sábado, quando a região chega a receber até 500 mil pessoas, segundo a Univinco.
"A gente recebe cerca de 8.000 clientes aos sábados", conta Ferreira. "Acredito que a partir de sexta o movimento comece a voltar ao normal. Para o sábado, esperamos 80% do movimento."
Há oito anos dona de uma barraca de roupas a poucos metros do prédio que queimou, Ivanilde Chagas Silva, 47, conta que precisou recolher tudo "às pressas" quando foi avisada pelos bombeiros de que a região seria interditada.
"Agora que voltamos só tem curioso", diz ela. "Não tem nem 30% dos movimento de uma quinta-feira", afirma, ao calcular em R$ 3 mil as perdas da semana.
Minha expectativa é que todo mundo que não veio essa semana venha na sexta e no sábado."
Ivanilde Chagas Silva, vendedora
Demissões à vista
Apesar de o movimento começar a retornar à região, cerca de 300 pessoas podem perder o emprego, afirmou ao UOL o presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, Ricardo Patah.
Esse é o número de funcionários das lojas que acabaram queimadas pelo fogo ou que ainda estão fechadas nas duas ruas ainda interditadas. "Se contar todas as lojas afetadas, o risco de demissão pode chegar a 3.000 pessoas", contabiliza.
Para evitar as dispensas, o sindicato propôs aos comerciantes medidas semelhantes às adotadas no começo da pandemia: "Nossa sugestão é que essas empresas antecipem férias, 13º salário e banco de horas para diminuir o impacto financeiro e impedir as demissões", afirma.
A melhor saída, no entanto, será o retorno total dos consumidores à região de compras populares —mas isso depende ainda da agilidade da prefeitura em demolir o prédio já condenado, diz Claudia Urias, da Univinco.
"A prefeitura precisa entrar com ação rápida para a demolição", avalia. "A Defesa Civil verificou todo o entorno e disse que, mesmo que ele caia, não vai atingir a área liberada."
Ontem, a gestão municipal informou que o edifício será demolido a partir de amanhã (16). Embora seja uma obrigação dos proprietários, uma assembleia de condôminos, na quarta-feira, autorizou a derrubada do imóvel pela prefeitura com o compromisso de, no futuro, reembolsar o município.
Para Patah, o poder público também precisa responder pelo incêndio.
"É inimaginável que uma das cidades mais importantes do mundo passe por uma situação dessas. O poder público precisa ser chamado às responsabilidades porque é ele quem executa as vistorias e licenças", reclama.
Na quarta, o UOL informou que o Ministério Público deu 30 dias para que o Corpo de Bombeiros explique o processo de fiscalização na região, já que o imóvel onde o incêndio começou não tinha AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros).
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