Médico preso por cárcere privado vende pacote de cirurgias; método é ilegal
O cirurgião plástico equatoriano Bolívar Guerrero Silva vendia pacotes de cirurgia plástica parcelados em carnê pelas redes sociais. Com divulgação ostensiva no Facebook e no Instagram e uma equipe de vendas no WhatsApp, ele divulgava tabelas de preços de procedimentos estéticos —um deles, conhecido como X-Tudão—, e usava a imagem de influenciadoras e da cantora Perlla para atrair clientes. De acordo com resolução do CFM (Conselho Federal de Medicina), essas práticas são ilegais.
Guerrero foi preso em 18 de julho após a paciente Daiana Cavalcante denunciar ter sido mantida em cárcere privado no Hospital Santa Branca, em Duque de Caxias, onde o médico realizava os procedimentos —ela apresentou complicações em cirurgias. O profissional de saúde e o hospital negam as acusações.
A equipe de vendas de Guerrero segue atuando normalmente mesmo com o médico preso. A reportagem entrou em contato com um dos telefones para vendas divulgado em seus perfis e se passou por uma cliente em potencial. A vendedora, que se identificou como Roberta, logo enviou os detalhes sobre os meios de pagamento, que envolvem até mesmo o uso de carnê, e uma tabela com os preços de diversos procedimentos.
A vendedora omitiu a informação sobre a prisão de Bolívar, mas avisou: "as consultas estão suspensas no momento".
Propaganda nas redes sociais
O médico busca novas clientes por meio de ao menos dois perfis no Instagram e uma página no Facebook. Nesses espaços, anuncia promoções e divulga depoimentos de pacientes satisfeitas. Em uma dessas promoções, chamada pela equipe do médico de "X-Tudão", era oferecido um pacote com lipoaspiração, mastopexia (cirurgia nos seios) com a possibilidade de colocação de silicone, abdominoplastia (procedimento estético na barriga) e enxerto de gordura nos glúteos. A informação foi revelada pelo portal g1 e confirmada pelo UOL. Nesta página, o médico se descreve como "poderoso Bolívar".
Para convencer as mulheres interessadas em cirurgias plásticas a contratá-lo, o médico apela para uma profusão de depoimentos de clientes satisfeitas. Além de anônimas, ele divulga vídeos e fotos de influenciadoras que realizaram procedimentos com ele. Um destaque é dedicado especificamente à cantora Perlla, conhecida no meio do funk carioca.
O pagamento em carnê é sempre oferecido às clientes. O médico recebia uma entrada de R$ 1.000 e parcelava o resto dos procedimentos —que variam de R$ 3 mil a R$ 18 mil, segundo a tabela obtida pelo UOL— em 12 vezes ou mais. "Após quitar, opera", informou a vendedora de Bolívar.
Propaganda viola regras médicas
A postura do profissional nas redes sociais viola diversos itens de uma resolução publicada pelo CFM em agosto de 2011 justamente para regulamentar a publicidade médica no país.
Em um dos artigos, a normativa estabelece que é proibido "expor a figura de seu paciente como forma de divulgar técnica, método ou resultado de tratamento, ainda que com autorização expressa do mesmo". O médico mantém diversos álbuns onde republica posts de pacientes elogiando as cirurgias que fizeram. Ele também publica diversas montagens com os corpos das pacientes antes e depois da realização dos procedimentos, prática que também é proibida.
A resolução também veda o médico de "oferecer seus serviços por meio de consórcio e similares".
Procurado pelo UOL, o Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro) afirmou que, por conta das denúncias de cárcere privado, "abriu sindicância para apurar os fatos". "Todo procedimento segue em sigilo de acordo com os ritos do Código de Processo Ético-Profissional", afirma o conselho.
O Cremerj afirma ainda que o cirurgião já foi punido anteriormente com a suspensão do exercício profissional por 30 dias. Ele também é alvo de um processo ético e uma sindicância.
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