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Tudo em família: quem é quem no golpe de R$ 720 mi em viúva de 'marchand'

Família Stanesco é acusada de golpe que envolveu quadros que custam milhões - UOL
Família Stanesco é acusada de golpe que envolveu quadros que custam milhões Imagem: UOL

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

11/08/2022 12h40

As investigações da Polícia Civil do Rio mostram que uma família foi responsável por extorquir dinheiro de uma idosa de 82 anos —viúva de um dos mais importantes "marchands" e colecionadores de arte do Brasil. O golpe causou prejuízo de quase R$ 725 milhões em obras de arte, joias e transferências bancárias.

Nesta quarta-feira (10), a Polícia Civil fez uma operação para desarticular a quadrilha e recuperou onze dos 16 quadros roubados, sendo que parte das pinturas estava em imóvel que pertence à família.

Entre os quadros recuperados está o "Sol Poente" (1929) de Tarsila do Amaral, uma das principais pintoras modernistas. A obra está avaliada em R$ 250 milhões.

O quadro estava sob uma cama na casa de Rosa Nicolau Stanesco, a "mãe Valéria de Oxossi".

De acordo com a Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade (Deapti), responsável pelo caso, a família Stanescos aplicou o golpe com ajuda da própria filha da vítima, Sabine Boghici. Ao todo, quatro pessoas foram presas e duas estão foragidas.

Saiba quem é quem no esquema:

Sabine Boghici

Sabine Bogheci - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Está presa. Segundo a polícia, é a mentora do plano para extorquir dinheiro da mãe e desviar as obras de arte. Ela tem 48 anos e se apresenta como atriz, cantora, colecionadora de brinquedos antigos em colunas sociais no Rio de Janeiro, além de protetora da causa animal.

Ela é filha de Geneviève e Jean Boghici, que morreu em 2015, aos 87 anos, deixando um patrimônio artístico avaliado em mais de R$ 700 milhões para a companheira —ele reuniu um dos acervos mais importantes de arte brasileira.

Diana Rosa Aparecida Stanesco Vuletic

Diana - Polícia Civil do Rio de Janeiro - Polícia Civil do Rio de Janeiro
Imagem: Polícia Civil do Rio de Janeiro

Está foragida. É apontada na investigação como a falsa vidente de 37 anos que abordou a idosa, em Copacabana, na zona sul do Rio, na saída de um banco e ofereceu serviços espirituais para evitar que a filha da mulher (Sabine), que sofria de um mal incurável, segundo suas previsões, morresse.

Ela já havia sido presa em abril deste ano, em Ipanema, também na zona sul, por cobrar R$ 4.300 por cirurgia espiritual para uma mulher também abordada na rua. Foi solta em audiência de custódia realizada um dia após ser detida e teve a prisão substituída por medidas cautelares.

Diana é meia-irmã de Rosa (abaixo).

Rosa Stanesco Nicolau

Rosa Stanesco Nicolau  - Divulgação/Polícia Civil - Divulgação/Polícia Civil
Imagem: Divulgação/Polícia Civil

Está presa. Meia-irmã de Diana e prima de Jacqueline (abaixo), ela se apresenta como "Mãe Valéria de Oxóssi" e mantinha ainda um relacionamento amoroso com Sabine, filha da vítima.

Segundo a polícia, ela foi a terceira falsa vidente que atendeu a idosa e, durante o atendimento forjado, repetiu as previsões da anterior, dizendo que sabia que a idosa tinha posses e obras de arte e morava na avenida Atlântica (orla de Copacabana).

O delegado Gilberto Ribeiro disse que, diante de tantas informações, a vítima acreditou nas previsões ruins e depois de falar com a filha, deu início às transferências bancárias que somaram R$ 5 milhões. Os valores foram pagos em duas semanas.

"Essa idosa tem um lado místico, curso de astrologia, viaja para a Índia e acredita no sobrenatural e acreditou na abordagem, já que a filha era uma pessoa que sofria de depressão desde a adolescência", disse o delegado.

Jacqueline Stanescos

Jacqueline Stanescos - Divulgação/Polícia Civil - Divulgação/Polícia Civil
Imagem: Divulgação/Polícia Civil

Esta presa. É prima de Rosa e Diana, que levou a idosa para uma consulta com Jacqueline. De acordo com as investigações, foi ela quem confirmou as previsões negativas para a filha da vítima usando jogo de búzios e cartas e disse que Sabine ia morrer em decorrência de um "mal incurável". Durante o falso atendimento, teria convencido a idosa de que era possível fazer um "trabalho" para afastar o mal da mulher.

O advogado de Jacqueline, Horácio Cariello, alegou que ela é inocente e a prisão foi equivocada. Ele citou "uma briga ferrenha na família" que afastou Jacqueline das primas Diana e Rosa Stanesco.

"Existe inclusive um registro na 14ª DP (Leblon) sobre uma briga que houve lesão corporal. Então, elas não se suportam. Não há acordo entre elas, não se toleram. A senhora [vítima] tem uma certa idade e pode ter se equivocado ao ver a foto da Jacqueline. Na casa dela não foi encontrado nenhum pertence, nenhum quadro".

Slavo Vuletic

Slavo Vuletic - Divulgação/Polícia Civil - Divulgação/Polícia Civil
Imagem: Divulgação/Polícia Civil

Está foragido. Ele é pai da Diana e padrasto da Rosa e foi um dos beneficiados com a transferência bancária de quase R$ 5 milhões realizada pela vítima.

Gabriel Nicolau

Está preso. É filho de Rosa e também recebeu valores via transferência bancária.

Ronaldo Ianov

É ex-sogro de Diana e também foi investigado por receber R$ 37 mil por transferência bancária. Morreu meses depois.

Entenda o caso

golpe - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
16 quadros do acervo de idosa foram subtraídos durante golpe, incluindo obras de Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti
Imagem: Reprodução/TV Globo

De acordo com depoimento da idosa, após o repasse das quantias que somaram R$ 5 milhões, a filha se mudou para a casa dela, dispensou os funcionários que trabalhavam na residência, afastou a idosa dos amigos e passou a controlar o telefone da mãe.

A mulher ficou isolada sob justificativa de quarentena devido a pandemia de covid-19 e com o tempo começou a sofrer ameaças e agressões de Sabine para que fizesse novas transferências.

"Como ela não fez novos pagamentos, a filha e a Rosa começaram a levar as obras de arte da casa, alegando que o quadro estava com mau olhado, com energia negativa e que precisava ser rezado", disse o delegado.

A idosa fugiu do apartamento com uma chave reserva que estava escondida no imóvel.

Os crimes começaram a ser praticados em 2020. A mulher ficou em cárcere privado até 2021 e somente no começo deste ano procurou a polícia para denunciar o caso.