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Filha que deu golpe de R$ 720 mi ameaçou mãe com faca e a manteve presa

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

10/08/2022 20h02

A idosa de 82 anos que sofreu um golpe de R$ 724 milhões demorou um ano para procurar a Polícia Civil do Rio de Janeiro e relatar o crime que contou com participação da própria filha, que se envolveu com um grupo de falsos videntes para extorquir dinheiro da mulher, segundo as investigações.

A vítima relatou às autoridades, no começo deste ano, que após realizar uma transferência de R$ 5 milhões para o grupo livrar a filha de "um mal incurável", foi mantida em cárcere privado dentro da própria casa. Nesse período, a filha chegou a apontar uma faca para o pescoço da idosa. O caso ocorreu entre 2020 e 2021.

Isolamento. Depois de efetuar o pagamento dos valores, Sabine Coll Boghici voltou a morar com a mãe, dispensou os funcionários do apartamento, afastou a idosa dos amigos e passou a controlar o telefone da mãe.

A mulher passou a ficar isolada sob a justificativa de quarentena devido ao período de pandemia. Com o tempo, a vítima começou a sofrer ameaças e agressões da própria filha para efetuar novas transferências.

"Como ela não fez novos pagamentos, a filha e a Rosa [uma das falsas videntes que atendeu a idosa] começaram a levar as obras de arte da casa alegando que o quadro estava com mau olhado, com energia negativa e que precisava ser rezado", disse o delegado Gilberto Ribeiro.

A idosa, vendo aquilo, não tinha como recusar, estava completamente subjugada naquele momento. Eles foram levando e levaram 16 quadros
Gilberto Ribeiro, delegado

faca - Reprodução/TV Brasil - Reprodução/TV Brasil
Sabine Boghici chegou a ameaçar a mãe com uma faca e a manteve em cárcere privado
Imagem: Reprodução/TV Brasil

Faca e cárcere. Na ocasião, a mulher teve uma faca apontada para o seu pescoço pela própria filha e chegou a ser deixada sem comida. Ainda no período do cárcere, foram levados R$ 6 milhões em joias.

Segundo Ribeiro, a idosa conseguiu fugir do apartamento com uma chave reserva escondida no apartamento.

"Num determinado dia, a filha saiu da casa e deixou a idosa sozinha acreditando que ela não tinha como sair, mas a idosa tinha uma chave reserva que nunca havia informado que tinha, e foi para a casa de uma amiga", disse o delegado. "Ali, ela se recuperou um pouco psicologicamente e resolveu voltar para casa com pessoas de uma clínica psiquiátrica para fazer a internação a filha".

Filha barrada. A filha pediu para a mãe não executar a internação e foi embora do imóvel. A vítima trocou as chaves da fechadura e informou aos profissionais do prédio que Sabine não estava mais autorizada a entrar no local.

Ela levou quase um ano para ter coragem de fazer a denúncia na delegacia, chegou na nossa delegacia no primeiro semestre de 2022 e esse cárcere se encerrou em abril de 2021. Ela estava muito amedrontada e com o sentimento de mãe de como denunciar a própria filha
Gilbero Ribeiro, delegado

Resultado da operação

A Polícia Civil deflagrou hoje a operação "Sol Poente" com o objetivo de desarticular a quadrilha responsável de terem roubado a idosa. De seis mandados de prisão, quatro foram cumpridos, inclusive contra a filha da vítima.

Das 16 obras de artes roubadas, onze foram recuperadas. Três estavam em uma galeria de arte de São Paulo, para onde foram vendidas e duas foram encaminhadas para o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, na Argentina. As demais pinturas foram localizadas no imóvel do grupo que pertence à mesma família.

Entre os quadros recuperados está o "Sol Poente" (1929) de Tarsila do Amaral, uma das principais pintoras modernistas. A obra está avaliada em R$ 250 milhões. O quadro estava sob uma cama, na casa de Rosa Nicolau Stanesco, a "mãe Valéria de Oxossi", que diz ter poderes místicos.