Julián Fuks sofre ameaça de morte após bolsonaristas distorcerem coluna
O colunista do UOL Julián Fuks sofreu ameaça de morte e agressões verbais após filhos do presidente Jair Bolsonaro (PL), aliados e a Jovem Pan News distorcerem o conteúdo de sua coluna publicada no sábado (27). Os ataques começaram no dia seguinte e ocorrem desde então.
Julián Fuks —que publica aos sábados críticas e análises políticas e de arte no UOL— escreveu uma crônica em que critica decisão do governo federal de tratar o coração de Dom Pedro 1º com pompas de chefe de estado no próximo 7 de Setembro, quando será comemorado o bicentenário da Independência do Brasil.
Fomentados por notícias e posts distorcidos, os ataques virtuais contra o colunista envolvem mensagens com ameaças. Entre elas, de natureza xenofóbica —Fuks é filho de argentinos, nasceu e mora no Brasil e tem dupla nacionalidade— e até mesmo uma ameaça de morte.
Na crônica intitulada "Precisa-se de terrorista, capaz de um ato sutil que transforme a história", Fuks emprega a palavra "terrorista" para criticar os festejos oficiais do 7 de Setembro. O termo foi, contudo, tirado do contexto e distorcido por apoiadores de Bolsonaro (leia a íntegra do texto).
Usei a palavra 'terrorista' em sentido figurado, literariamente evocando uma ação poética contra essa cerimônia, e afirmando desde a primeira linha que a proposta era contrária a toda violência, truculência, brutalidade, grosseria."
Julián Fuks, colunista do UOL
Os bolsonaristas também omitiram o fato de Fuks tratar em sua crítica de uma ação pacífica a ser executada por alguém com aversão a sangue e crueldade —nas palavras do colunista, um "[terrorista] não desses violentos, nunca desses intolerantes e truculentos, jamais desses sanguinários e grosseiros". Pela descrição, fica evidente que a figura evocada é a de um "não-terrorista".
"Tudo tem sido divulgado como se eu estivesse incitando um ato terrorista real contra o presidente no 7 de Setembro —numa leitura completamente manipulada e desleal", afirmou Fuks.
Em seu perfil no Twitter, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) reproduziu um link de um site bolsonarista que distorce a crônica de Fuks e escreveu: "A esquerda ameaçando a democracia, de verdade!". O senador marcou no post os perfis do STF (Supremo Tribunal Federal) e do ministro Alexandre de Moraes.
O vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos) compartilhou no Twitter o mesmo link e afirmou com ironia: "Se é pela democracia, é democrático e Constitucional!".
O ex-secretário especial de Cultura Mario Frias disse, em sua conta no Instagram, que Fuks "clama por um terrorismo contra o Presidente". O aliado do clã Bolsonaro também afirma que o escritor "não será incluído em nenhum inquérito e nem será chamado de golpista".
Tanto Flávio quanto Frias fazem referência —sem citar nominalmente— a medidas tomadas pelo ministro STF Alexandre de Moraes contra empresários apoiadores de Jair Bolsonaro que defenderam em um grupo fechado de WhatsApp um golpe de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vença as eleições.
Já a Jovem Pan News destacou em mesa de comentaristas que o "colunista do UOL defende a contratação de um terrorista para atrapalhar os atos de 7 de setembro".
"Desconsideram o teor e a natureza do texto, para forjar um crime que não há. Atacando a mim, querem atacar o UOL e a imprensa de maneira geral, assim como qualquer visão que destoe de sua posição ideológica", afirma Fuks.
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