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'Tinha certeza que ia morrer', diz cega que caiu em via do metrô em SP

Magda de Souza Paiva, que sofreu acidente no metrô de São Paulo - Arquivo pessoal
Magda de Souza Paiva, que sofreu acidente no metrô de São Paulo Imagem: Arquivo pessoal

Letícia Casado

Do UOL, em Brasília

03/09/2022 17h16Atualizada em 03/09/2022 18h03

Na manhã de quinta-feira (1º) a assessora parlamentar Magda de Souza Paiva, 45, sofreu um acidente provocado por uma falha do metrô de São Paulo e quase morreu. Cega, ela não recebeu ajuda para desembarcar, caminhou sozinha pela plataforma e caiu na via. O trem estava se aproximando, ela deitou no trilho e o veículo que veio a seguir passou por cima dela.

Eu tinha certeza que ia morrer. Pensei: minha hora chegou, mas vou tentar.
Magda de Souza Paiva

Magda saiu praticamente ilesa. Ela sofreu apenas alguns hematomas, fez exames no Hospital das Clínicas e passou a noite em observação.

Ela trabalha na equipe da senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP), vice na chapa da presidenciável Simone Tebet (MDB). Faz o mesmo trajeto todos os dias há quatro anos e nem sempre encontra um profissional à sua espera na saída do trem. Magda diz que muitas vezes recebe ajuda de usuários para encontrar um profissional, mas que isso não aconteceu naquele dia.

"Continuei caminhando, bem devagar. Sou cuidadosa. Mas perdi o piso tátil e continuei andando para frente. De repente, caí num buraco. Não me dei conta na hora que eu tinha caído na via. Caí de pé. E comecei a tentar a sair. É uma reação natural. E fiquei com vergonha na hora por ter caído", disse ela em entrevista ao UOL.

Magda conta que tentou sair e ouviu gritos desesperados das pessoas que estavam na plataforma, dizendo para que abaixasse. Ela então se deu conta de que estava na via e que o trem estava indo em sua direção.

Deitei. O trem realmente veio e passou por cima de mim."

Magda nasceu com glaucoma e enxergou pouco até os 12 anos de idade, depois ficou completamente cega. Ela se mudou do Paraná para São Paulo há sete anos e desde então usa o metrô.

"Acho que o trem não passou todo, só uma parte, não todas as composições. Escutei quando parou. E começaram a gritar para eu não me mexer para não levar choque", conta a assessora parlamentar.

Ela diz que teve muita sorte por escolher, ao acaso, um lugar com espaço para deitar sem encostar nos equipamentos e não tomar choque.

Não enxergo nada. Escutei o trem passando em cima de mim
Magda de Souza Paiva

Ao perceber que a energia foi desligada, Magda continuou imóvel à espera do resgate que, segundo ela, durou cerca de 20 a 30 minutos. Conseguiu sair andando e depois foi ao hospital. "A chance de dar certo era mínima. Eu poderia até ter saído viva, mas sem um membro. Sai sem nenhum arranhão."

Essa não foi a primeira nem a segunda vez que Magda desembarcou sozinha do metrô de São Paulo. Segundo ela, é comum as estações estarem com um ou dois funcionários para atender toda a demanda. Há dias que uma estação pede profissional de outra parada para reforçar a equipe.

A culpa não é dos funcionários, a culpa é do metrô
Magda de Souza Paiva

O problema, diz a assessora, é que a falta de pessoal nas estações do metrô não é algo pontual. "Infelizmente o metrô está com um problema muito grave, de quadro de funcionários muito reduzido. Não é culpa dos funcionários. Eles me tratam muito bem, fazem o possível. Só que a demanda é muito maior que a oferta", afirma.

Magda diz que o gabinete de Mara Gabrilli já questionou, em outros momentos, o metrô sobre a quantidade de profissionais e a realização de concursos. Ela aponta, ainda o fim dos programas Jovem Aprendiz e Jovem Cidadão como determinantes para a queda no atendimento a pessoas com deficiência.

"Eram adolescentes que ficavam lá para ajudar as pessoas cegas a embarcar e desembarcar. Acabaram com o programa antes da pandemia. A gente mandou ofício reclamando. Esses adolescentes faziam muita falta", diz ela.

Outra medida de segurança que Magda cita é a necessidade de portas de vidro na plataforma, como as da linha amarela do metrô.

O Metrô informou que puniu o funcionário responsável pelo atendimento naquele dia, sem informar qual a punição. Questionado sobre a quantidade de funcionários, a realização de concursos e sobre os programas com adolescentes que foram encerrados, a empresa disse que não conseguiria responder neste sábado.

Sobre as portas de plataforma, o metrô informou que está ampliando esse sistema.

"O Metrô está colocando portas de plataforma nas estações das linhas 1-Azul, 2-Verde e 3-Vermelha. A meta é ainda este ano colocar as portas em 7 estações da Linha 3-Vermelha", disse a companhia, em nota.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Mara Gabrilli é senadora, e não deputado federal, diferentemente do que informado em versão anterior deste texto. A informação foi corrigida