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'Coisa do demônio', diz evangélico baleado por PM em igreja de GO

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

04/09/2022 19h57

O assessor empresarial Davi Augusto de Souza, 40, que foi baleado dentro de uma igreja da Congregração Cristã do Brasil em Goiânia, Goiás, diz que ainda não entende os motivos que levaram o seu amigo Vitor da Silva Lopes, policial militar, a atirar contra ele durante um culto realizado na sexta-feira (2). A discussão que motivou a reação do PM teria sido motivada por questões políticas.

Em entrevista ao UOL neste domingo (4), Davi disse que não se lembra de quantos tiros levou do policial. Mas sabe que as duas pernas foram transpassadas por balas. Em uma delas, o projétil acabou danificando a artéria femoral, prolongamento da artéria aorta, e ele já teve que enfrentar duas cirurgias. Nos próximos dias, terá de ser submetido a uma terceira intervenção.

"Minha perna está aberta, inchada. Dói muito, queima como se tivesse fogo. A outra está melhor. Mas os médicos não dizem quais são os prognósticos. Só por Deus mesmo", declarou.

Davi está internado desde sexta-feira, já passou por duas cirurgias e sente muitas dores na perna - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Davi está internado desde sexta-feira, já passou por duas cirurgias e sente muitas dores na perna
Imagem: Arquivo Pessoal

VItor é amigo de Davi há mais de 10 anos. O PM trabalhava com ferragens e Davi era seu cliente. "Eu insisti muito para que ele se inscrevesse na PM. E foi o meu irmão, Daniel, quem trouxe ele para a igreja", contou. "Mas fazia uns 4, 5 anos que eu não o via, porque eu tinha me mudado para o interior".

Davi afirmou que foi participar do culto na sexta-feira com o irmão, porque os membros da hierarquia superior da igreja teriam definido que seu irmão, Daniel, e o pastor Djalma, teriam que, juntos, pedir perdão aos membros da congregação por conta de uma discussão que haviam tido por causa de política.

"O pastor Djalma ia pedir perdão porque falou de política no meio do culto e o meu irmão ia pedir perdão aos irmãos porque chamou a atenção do pastor e discutiu com ele no meio do culto. Já estava tudo acertado para isso".

Assim, na sexta-feira, Davi, que é músico há 30 anos e costuma tocar nos cultos, pegou seu instrumento musical e, acompanhado de outros membros da banda da igreja, tocou três hinos de louvor. "Daí me deu sede e eu resolvi fazer uma pausa para tomar água".

Ao chegar na copa da igreja, Davi avistou um ex-cunhado, chamado Maycom, a quem cumprimentou, estendendo a mão. Ele estava acompanhado do PM Vitor, que estava de folga naquele momento, estando ali apenas como membro da congregação.

"Eu fiquei feliz em ver o Vitor. E fui logo estendendo a mão para ele. De repente, ele pulou para trás e me chamou de vagabundo. Ele pegou o copo de água que tinha na mão e jogou tudo na minha cara. Eu me aproximei dele para perguntar o que tinha acontecido, por que ele estava fazendo aquilo. Foi coisa do demônio, mesmo. Não fazia sentido nenhum, todo mundo ficou assustado".

Assim que se aproximou do amigo de 10 anos, Vitor sacou seu revólver e atirou na direção de Davi, que ficou completamente atordoado com a reação do policial. "Eu já nem lembro mais quantos tiros ele deu. Mas acertou minhas duas pernas. Foi coisa do demônio a reação dele, ele estava sob efeito de algum mal, só tem essa explicação".

Preocupado e em choque

Davi diz que está em choque com a situação. E que está preocupado também, porque tem três filhos para criar e não sabe o que poderia acontecer se tivesse que parar de trabalhar. Ele estava começando a estruturar uma confecção para produção de uniformes e camisetas, mas agora não sabe mais como será o seu futuro.

"Nao tenho ideia do jeito que está minha perna, só um milagre de Deus na minha vida", afirmou Davi. "Meu irmão, Daniel, está muito abalado com tudo o que aconteceu. Minha família também. Minha esposa e minha ex estão cuidando das crianças".

O assessor empresarial, que é pós-graduado em direito civil e processo, diz que, apesar da dor aguda e da tristeza, por conta da reação do amigo de tantos anos, ele não sente rancor de Vitor.

"Ele não me procurou depois do que aconteceu, nem passou mensagem para perguntar como eu estava. Mas já soube por um amigo em comum que ele está arrependido do que fez", disse. "Deus nos dará condição de superar, não quero confiança e nem nada, só paz e que Deus abençoe a ele à família dele. Se ele tiver algo contra mim, que eu não saiba, que ele me perdoe".

O UOL tentou entrar em contato com o policial Vitor da Silva Lopes, mas até o momento ele não havia sido localizado. Segundo informou a Polícia Militar, ele teria se apresentado, após o incidente, de forma espontânea à Polícia Civil para os procedimentos cabíveis. Ele também responderá a procedimento administrativo disciplinar aberto pela PM para apurar as circunstâncias do fato.